O Instituto Internacional ARAYARA realizou o pré-lançamento do Monitor Energia na quarta-feira, 20 de novembro, na programação do ARAYARA Amazon Climate Hub durante a COP30. A plataforma é uma ferramenta digital inédita que centraliza, integra e transforma o acesso a dados complexos do setor elétrico brasileiro, promovendo transparência e justiça climática.
O lançamento marca a concretização de um sonho antigo da instituição, que busca expor como a expansão da matriz energética do país ainda está fortemente ligada a projetos fósseis, contrariando o discurso global de descarbonização.
Desvendando o “baú oculto” da energia
Juliano Bueno de Araújo, diretor técnico da ARAYARA e conselheiro do CONAMA e do FONTE, destacou que a plataforma é uma resposta direta à dispersão e fragmentação de informações no setor.
“Se alguém quer saber onde está cada linha de transmissão, gasoduto, oleoduto, usinas termelétricas a gás, carvão, represas hidrelétricas, terá que acessar 20 bases diferentes, aguardar muito tempo, e provavelmente não terá acesso a tudo, pois muitas informações estão dispersas e desatualizadas”.
O Monitor Energia resolve esse problema histórico. Juliano, que é doutor em Urgências e Emergências Ambientais, enfatizou que o projeto, desenvolvido pelo setor de Geociências da ARAYARA, visa transformar o “baú oculto do setor elétrico” e os impactos aos territórios em informação qualificada e certificada, essencial para combater a pobreza e o racismo energético. Ele ressaltou que, com o acesso à informação de qualidade, agentes e a sociedade civil podem implementar iniciativas efetivas de transição energética justa.
“Mais do que um portal de dados, o Monitor Energia é uma ferramenta de transformação. Ele fortalece ações em prol de uma energia limpa, segura e justa no Brasil, contribuindo diretamente para o enfrentamento da crise climática,” afirma Juliano.
Uma ferramenta completa e gratuita22
A diretora executiva da ARAYARA, Nicole Oliveira, destacou que a plataforma foi sonhada para que todos, desde uma comunidade indígena, até um produtor rural, ou pesquisadores acadêmicos tenham o direito de saber quais projetos energéticos podem afetar suas vidas e territórios. Ela relembrou a complexidade de obter informações sobre empreendimentos, citando a luta vitoriosa contra a UTE Brasília, onde foi preciso “estudar para entender que essa termelétrica ia ser construída para justificar a construção de um gasoduto”, o que comprova a necessidade de centralizar a informação.
A jornalista Nayara Machado, da Agência Eixos, endossou o valor da plataforma para a imprensa, que gasta tempo “catando milho” para reunir dados de emissão e localização de usinas. Ela classificou o Monitor Energia como “muito completa, navegável” e ficou surpresa por ser gratuita.
Luiz Eduardo Barata, presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia e ex-diretor-geral do ONS, que atuou como revisor científico, elogiou a ferramenta: “é algo excepcional pela qualidade com que ela foi construída e pela quantidade de informações que ela traz para o público especializado e também para o público leigo”.
Fóssil versus metas climáticas
George Mendes, gerente de geociências da ARAYARA e um dos responsáveis pelo desenvolvimento, explicou que a importância estratégica do lançamento durante a COP30 é justamente evidenciar a contradição brasileira.
“A análise integrada dos dados evidencia que a expansão da matriz elétrica brasileira ainda está fortemente ancorada em projetos fósseis, com novos empreendimentos termelétricos avançando sobre regiões sensíveis,” declarou.
George detalhou que a plataforma permite: explorar mapas interativos e filtros sobre projetos de expansão; analisar a participação de fontes renováveis e não renováveis; identificar sobreposições com áreas sensíveis como Terras Indígenas e Quilombolas; e consultar estimativas de emissões de gases de efeito estufa.
Apesar de o Brasil ter cerca de 80% de sua matriz renovável, o “Monitor Energia” demonstra que o setor fóssil está ativamente engajado em avançar, o que ficou evidente com o grande número de projetos inscritos no leilão do LRCAP26, divulgado durante a COP30.
A plataforma, construída de forma interdisciplinar e com apoio do Instituto Clima e Sociedade, teve um rigoroso processo de revisão por pares, garantindo sua credibilidade. O ARAYARA Amazon Climate Hub foi o palco do pré-lançamento da ferramenta, que já está disponível ao público no site https://monitorenergia.org/ e será oficialmente lançada em Brasília no próximo ano.
Foto: Odaraê Filmes






