Pesquisadores do Programa de Engenharia Biomédica (PEB) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) estão desenvolvendo um protótipo de ventilador pulmonar mecânico para ser reproduzido em massa, de forma simples, rápida e barata, com recursos disponíveis no mercado nacional.
Desenvolvido no Laboratório de Engenharia Pulmonar e Cardiovascular (LEP), da Coppe/UFRJ, o equipamento poderá contribuir para suprir, emergencialmente, a crescente demanda dos hospitais por esses aparelhos, em decorrência da pandemia de COVID-19, a doença provocada pelo novo coronavírus.
A estimativa é de que o Brasil necessitará, nas próximas semanas, de mais de 20 mil ventiladores pulmonares mecânicos para atender os casos que chegarão aos hospitais, principalmente os mais graves de falta de ar e dificuldades respiratórias. A produção atual de ventiladores por empresas brasileiras é da ordem de 2 mil por mês, e, mesmo com a produção acelerada, tais empresas não conseguirão atender à demanda.
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A fim de reduzir essa lacuna, pesquisadores do LEP iniciaram uma campanha para obter financiamento e parcerias com empresas e instituições privadas e públicas. O objetivo é viabilizar a produção do protótipo, com rapidez e em larga escala. A iniciativa conta, agora, com a colaboração de pesquisadores de cinco programas de pós-graduação da Coppe/UFRJ, além de outras unidades da Universidade e de diversas instituições de pesquisa do país. Várias empresas de grande porte têm se prontificado a ajudar no desenvolvimento, distribuição e financiamento do projeto.
Segundo o professor Jurandir Nadal, chefe do LEP, a proposta é possibilitar a ventilação mecânica com diferentes concentrações de oxigênio e pressão compatíveis com pacientes que apresentem angústia respiratória. Ao mesmo tempo, válvulas de segurança protegem o paciente de pressão excessiva e filtros especiais evitam que o ar expirado espalhe coronavírus no ambiente e possa contaminar os profissionais de assistência intensiva.
Versão beta apontou sucesso
Uma versão preliminar do ventilador foi criada com recursos disponíveis no LEP – envolvendo o emprego de válvulas solenoides e outras – e apresentou um bom resultado em um modelo físico de pulmão configurado em condições semelhantes às de pacientes com insuficiência respiratória.No momento, adaptações vêm sendo feitas para a construção de um protótipo mais adequado à produção em escala industrial, o qual deverá ser testado em pacientes, até a próxima semana, de acordo com a aprovação de um comitê de ética em pesquisa com seres humanos.
“A exemplo do Reino Unido, que lançou um edital mundial para a submissão de propostas de ventiladores já existentes e aprovados para uso clínico (…), considero oportuno adotarmos um esforço coletivo semelhante, visando salvar vidas”, ressaltou Nadal.
Como funciona o ventilador
A ventilação mecânica é aplicada a pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), sedados ou em coma induzido, por meio de um tubo inserido na traqueia. O ventilador proposto, classificado como ventilador de pressão, fornece uma mistura de ar rico em oxigênio com pressão suficiente para vencer a resistência do pulmão doente.
As válvulas oferecem ao paciente uma mistura de ar e oxigênio medicinais durante a inspiração. Na expiração, por conseguinte, elas são fechadas. O ventilador não deixa a pressão cair abaixo de um valor mínimo para evitar que as partes do pulmão que absorvem o oxigênio colapsem, prevenindo, portanto, lesões provocadas pela ventilação artificial. O ar expirado passa, então, por um filtro especial que retém as gotículas de água com vírus, mantendo a umidade do sistema respiratório.
“O ventilador pulmonar em desenvolvimento não pretende ser mais completo e versátil que os ventiladores de última geração disponíveis nas UTIs. Pelo contrário, é um recurso simples e seguro, porém emergencial, que deve ser utilizado somente quando não houver um equipamento padrão disponível, como pode acontecer em alguns locais durante a pandemia”, esclarece Nadal.
Hoje, os principais desafios dos pesquisadores para produzir esses equipamentos são as peças envolvidas. “Pelo fato de o ventilador ser usado continuamente por vários dias e invadir o corpo do paciente, essas peças precisam ser muito resistentes, esterilizáveis e feitas com material biocompatível, para não liberar gases tóxicos e atingir o paciente. Por isso, a confecção em plástico com impressoras 3D comuns não é uma solução viável. Imagine, por exemplo, uma pessoa que precisa ser ventilada por 23 dias, respirando 30 vezes por minuto. Nesse caso, todas as peças têm que suportar 1 milhão de ciclos respiratórios. Algumas partes móveis precisam ser substituídas, como os filtros – que são trocados diariamente. O monitor e os controles precisam de baterias, pois não podem falhar em casos de falta de energia elétrica, e nem todas as UTIs contam com geradores de reserva”, relata o professor.
Parcerias firmadas e em negociação: próximos passos
Uma rede de empresas está sendo montada para iniciar a produção imediata, após a aprovação dos testes com pacientes e adequação às normas de segurança. Uma empresa de grande porte, ou mais de uma, cuidará da produção do ventilador, mas algumas partes serão produzidas por vários fornecedores de forma distribuída.
Fonte: UFRJ