A crescente demanda global por minerais essenciais à descarbonização coloca a Amazônia diante de uma encruzilhada perigosa. O painel “Amazonía y Transición Energética Justa: Propuestas para Abordar la Minería y los Derechos de Pueblos Indígenas y Comunidades Locales”, realizado no ARAYARA Amazon Climate Hub, reuniu lideranças pan-amazônicas e especialistas para debater como garantir que a busca por cobre e lítio não crie um novo ciclo de exploração na região.
O evento, realizado nessa sexta-feira (14), foi promovido pela Fundación Gaia Amazonas, e expôs o vácuo normativo, a pressão sobre Povos Indígenas em Isolamento Voluntário (PIA) e a necessidade de uma transição energética que comece pelo respeito aos direitos territoriais.
A Nova “Febre do Ouro” da Transição Verde
Juan Sebastián Anaya (Fundación Gaia Amazonas) contextualizou a pressão sobre o bioma, descrevendo uma nova “febre de mineração” ligada à extração de minerais estratégicos e críticos para as tecnologias de descarbonização.
Ele alertou que há um “boom de especulação” nos países amazônicos, agravando violações existentes e criando novas, impulsionadas por uma rede transnacional de extração, tráfico e acúmulo de minerais.
“No Brasil em 2025 há muitos registros de pedidos de extração de minerais próximo à área de indígenas isolados. Registros semelhantes são observados em Venezuela, Colômbia e Bolívia,” revelou Anaya.
O custo social e ecológico é alto, e a falta de ferramentas adequadas dos Estados para regular essa extração alimenta a ilegalidade e a pressão sobre populações vulneráveis.
O Elefante na Sala: Mineração para a Guerra e para a Transição
O consultor internacional Antenor Vaz, especialista em proteção de PIA, questionou a própria classificação de “minerais críticos”, sugerindo que a demanda não é apenas para a transição energética, mas também para a indústria bélica.
“Não somos ingênuos para achar que esses minerais são apenas para a transição energética, também são para a indústria da guerra,” afirmou Vaz.
A ameaça da mineração é uma questão de vida ou morte para os Povos Indígenas em Isolamento Voluntário (PIA).
“Essas comunidades dependem exclusivamente dos recursos da floresta, se você altera de qualquer forma as condições da floresta, essas pessoas têm sua sobrevivência altamente prejudicada,” explicou. “Então, autorizar esse tipo de interferência, não tomar providência pela proteção desses povos, significa autorizar o processo de genocídio desse povo.”
Paul E. Maquet (CooperAcción/Grupo Regional para uma Transição Energética Justa) complementou a crítica, dizendo que a relação entre os minerais da transição e a indústria da guerra é “o elefante na sala do qual ninguém quer falar”. Ele defendeu que a extração para a transição deve ser balizada por critérios rigorosos, priorizando o “direito a dizer não” e a autodeterminação das comunidades, em um modelo de democratização dos bens comuns.
O Impacto que Impede a Vida no Território
Jessica Alejandra Solórzano (UFPA) detalhou os múltiplos impactos da mineração, dividindo-os em três recortes:
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Biofísicos: Uso e contaminação da água, desmatamento e alteração da materialidade do ecossistema.
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Socioeconômicos e Culturais: Modificação da economia local, gerando expectativas de emprego e atraindo grupos armados, o que impede a população local de manter suas roças e colher frutos.
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Epistemológicos e Culturais: A mineração impõe um status industrial ao território que supera a possibilidade do próprio ecossistema de manter a vida e impede que seja usado como um território de vida pelas comunidades tradicionais.










