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Arayara participa do lançamento da Frente Parlamentar das Energias Renováveis e Sustentáveis de Porto Alegre

Hoje, a cidade de Porto Alegre deu início a um importante movimento para trabalhar a cidade como um pólo de ações de sustentabilidade e transição energética. O lançamento da Frente Parlamentar das Energias Renováveis e Sustentáveis foi realizado nesta tarde (09), em uma reunião online que contou com a participação do Instituto Internacional Arayara, representantes municipais e organizações.

A proposta da frente foi aprovada em fevereiro e é da vereadora Cláudia Araújo – que vem realizando reuniões periódicas com a Arayara para planejar ações municipais voltadas para as energias renováveis, o meio ambiente e as mudanças climáticas – como incentivar a economia verde, e geração de energia limpa e a geração de empregos dentro da indústria de energias renováveis.

“O que queremos fazer é debater esse tema de extrema importância para o desenvolvimento e inovação da nossa cidade, além de colaborar com a preservação do meio ambiente através de propostas e melhorias, soluções e a economia, que tanto almejamos. Muitas capitais mundiais vêm buscando se adequar a este tema por saber da importância”, ressaltou a vereadora durante o lançamento.

Dentro das questões a serem abordadas pela frente parlamentar – que irá realizar duas reuniões mensais para discutir ações efetivas -, foram destacadas a prevenção de gases de efeito estufa, prevenção a enchentes, placas de energia solar, iluminação inteligente, IPTU verde, rede de transporte, empregos para o clima e inovação de tecnologias limpas.

“A prefeitura de Porto Alegre tem todo o interesse nesta pauta. O meio ambiente não é assunto para amanhã, mas é assunto para ontem e para hoje. Essa discussão sobre as energias renováveis e a geração de energia por combustíveis fósseis está na ordem do dia e nós precisamos, sim, ter muita discussão neste caminho”, disse o secretário de Governança Local e Coordenação Política de Porto Alegre, Cássio Trogildo.

Com apoio do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, se trata de uma importante iniciativa da maior capital da região Sul do Brasil, que toma a decisão de não só investir na qualidade de vida da população, mas incentivar a economia local, já que a proposta pode gerar mais de 100 mil empregos dentro da área de energia e sustentabilidade nos próximos anos.

“Registramos aqui, em nome da Fundação Arayara e do Instituto Internacional Arayara, nosso agradecimento pelo convite de compormos esta iniciativa que inova e coloca a cidade de Porto Alegre no avanço de se tornar uma capital nos trilhos da transição justa, energética, de uma cidade de baixo carbono, com uma cidade de renovação tecnológica e, portanto, criando oportunidades de geração de empregos e empreendimentos no caminho da descarbonização e da geração de uma nova matriz e cultura energética”, ressaltou o engenheiro e diretor da Arayara, Juliano Bueno de Araújo.

“Parabenizo, assim, a Vereadora Cláudia Araujo, o prefeito Sebastião Mello, os demais vereadores, os secretários municipais, e as organizações da sociedade civil, empresas e cidadãos engajados nesta missão”, complementou.

O engenheiro ainda reforçou que o objetivo é alcançar uma economia neutra do ponto de vista climático e ambiental a alcançar o cenário das energias renováveis de baixo custo, com responsabilidade social e justiça

A Arayara acredita que a transição para este modelo implicará alterações estruturais com um forte impacto sobre determinadas regiões, áreas e grupos sociais. Para não deixar ninguém para trás, esta transição deve ser justa, e esta Frente tem este papel importante para tecer caminhos, propor ao Legislativo e Executivo leis e incentivos, construir com a iniciativa privada, a academia científica e as organizações da sociedade civil os desafios, oportunidades e ações a serem feitas.

O cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris significa avançar por uma via de redução de emissões de gases de efeito estufa até atingir emissões líquidas nulas em 2050. O objetivo é conter o aquecimento global em um máximo de 1,5 °C e atenuar os efeitos negativos sobre os ecossistemas, a economia e a sociedade em seu conjunto, os quais já estão acontecendo.

Uma redução alinhada com este cenário (que teria como significado uma diminuição de 45% até 2030 com relação às emissões de 1990) exigirá importantes mudanças estruturais que afetarão todos os setores da economia e, em particular, a consequente eliminação progressiva e firme dos combustíveis fósseis – como carvão e petróleo – da matriz energética.

“A necessidade de acelerar a ação climática, a nova economia verde, as demandas ambientais, a geração de nova matriz de negócios sustentáveis e otimizar seus benefícios concede uma importância vital ao conceito de transição justa. Acarreta a implementação de políticas e quadros de diálogo social necessários para avançar na transição ecológica a partir de uma perspectiva inclusiva, protegendo adequadamente os trabalhadores e criando empregos de qualidade. A transição estará cheia de novas oportunidades: incentivo às energias renováveis, novos serviços de mobilidade, modelos agroalimentares mais sustentáveis e resilientes, indústrias com maior valor agregado”, concluiu Juliano.

Revista internacional evidencia ataques do governo brasileiro a cientistas ambientais

Foto: Agência Pará

O Brasil apareceu, esta semana, em reportagem da prestigiada revista Science com a manchete: “Um ambiente hostil: cientistas brasileiros enfrentam crescentes ataques do regime de Bolsonaro”.

Na matéria, se destaca a preocupação com a censura de estudos científicos que entrem em conflito com os interesses do governo, já que agora fica a cargo do diretor de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade do ICMBio, tenente-coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo, Marcos Aurélio Venâncio, a autoridade para revisar todos os “manuscritos, textos e compilações científicas” antes de serem publicados.

A reportagem também aponta casos em que o presidente Jair Bolsonaro desqualifica análises de cientistas e pesquisadores relacionadas ao desmatamento recorde enfrentado pelo país, além de ignorar a ciência no combate à pandemia, citando, ainda, a censura em universidades federais por todo o Brasil e ataques físicos de apoiadores do governo a cientistas.

Leia a tradução da reportagem:

Na semana passada, cientistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), principal agência brasileira que estuda e administra as vastas áreas protegidas do país, tiveram que começar a obedecer a uma nova regra indesejável, que delega a um dos principais funcionários do ICMBio a autoridade para revisar todos os “manuscritos, textos e compilações científicas” antes de serem publicados.

Os pesquisadores temem que o governo do presidente Jair Bolsonaro, que tem uma relação marcadamente hostil com a comunidade científica brasileira, use as análises para censurar estudos que entram em conflito com seus esforços contínuos para enfraquecer as proteções ambientais. O governo diz que não é essa a intenção. Mas a mudança se soma aos desenvolvimentos recentes que abalaram muitos cientistas brasileiros e deixaram aqueles que criticam as políticas de Bolsonaro temendo por seus empregos e até mesmo por sua segurança física.

“A ciência está sendo atacada em várias frentes”, diz Philip Fearnside, ecologista veterano do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). “Há negação da pandemia, negação das mudanças climáticas, negação do desmatamento; para não mencionar os cortes no orçamento”.

As queixas de Bolsonaro com cientistas remontam ao início de seu governo em 2019. Acusou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais de “mentir” sobre dados de satélite que mostravam o aumento do desmatamento na Amazônia e demitiu seu diretor, o físico Ricardo Galvão, após defender os números. Desde então, Bolsonaro entrou em confronto com pesquisadores por conta de questões, incluindo sua rejeição persistente de estratégias baseadas na ciência para combater a pandemia de COVID-19, que matou pelo menos 330.000 brasileiros. Mas o relacionamento parece ter entrado em uma fase ainda mais tensa nos últimos meses.

Um exemplo veio em fevereiro, quando a principal agência anticorrupção do Brasil, a Controladoria-Geral da União, informou ao epidemiologista Pedro Hallal, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas, que ele poderia perder o emprego por causa das críticas que fez a Bolsonaro em janeiro durante um evento online. Hallal, que coordena o maior projeto de pesquisa epidemiológica de COVID-19 do Brasil, chamou Bolsonaro de “desprezível”, citando a retórica antivacinação do presidente e sua interferência política na seleção dos reitores das universidades.

Apenas algumas semanas antes, o ministério da educação de Bolsonaro ordenou aos reitores de todas as 69 universidades federais, que empregam a maioria dos cientistas brasileiros, que “previnam e punam atos político-partidários” de funcionários. Depois de um clamor, o ministério retirou a ordem no mês passado e Hallal finalmente chegou a um acordo com o gabinete do controlador, prometendo não “promover a expressão de apreço ou desaprovação no local de trabalho” por 2 anos.

Hallal permanece desafiador. “Se a ideia era me silenciar, tenho que dizer que saiu pela culatra”, diz ele. “Isso está me motivando a ser ainda mais crítico e dizer o que precisa ser dito”. Mas ele teme que o clima político esteja silenciando alguns de seus colegas. “Muitas pessoas estão dizendo menos do que gostariam, por medo de retaliação”.

Os cientistas também estão reconsiderando o que estudam e publicam, diz Marcus Lacerda, especialista em doenças infecciosas da Fundação Oswaldo Cruz em Manaus. No ano passado, ele enfrentou intensas investigações do Ministério Público Federal – e recebeu ameaças de morte – depois que publicou um trabalho destacando os riscos à saúde de dar cloroquina a pacientes de COVID-19. (Bolsonaro promoveu fortemente a cloroquina, apesar dos estudos concluírem que ela é ineficaz contra a COVID-19.) “Muitas pessoas têm medo de publicar depois do que aconteceu comigo”, diz Lacerda. Colegas abandonaram a pesquisa do coronavírus, acrescenta, para evitar o assédio online pelo que é conhecido como “milícia digital” de Bolsonaro.

Em um caso, o assédio online parece ter escalado para um ataque físico. Depois que o biólogo Lucas Ferrante, candidato a doutorado no INPA, publicou artigos em revistas de alto nível (incluindo a Science) criticando as políticas ambientais e de saúde de Bolsonaro, suas contas de celular e mídia social iluminaram-se com mensagens ameaçadoras. Então, em novembro de 2020, ele diz que foi atacado por um homem que dirigia o que ele pensava ser um veículo Uber que ele havia saudado; o homem disse a Ferrante que ele “precisava calar a boca” e o atacou com um objeto pontiagudo. Desde então, Ferrante diz que tem medo de sair de casa e leva um celular que não está relacionado ao seu nome.

Esta semana, um grupo de pesquisadores brasileiros citou preocupações com a segurança ao explicar por que eles não assinaram seus nomes em um white paper, publicado pela Climate Social Science Network da Brown University, que descreve os esforços de Bolsonaro para desmantelar as proteções ambientais. Eles decidiram permanecer anônimos “por razões de segurança e considerando o cenário político atual no Brasil”, escreveram.

No ICMBio, a nova regra de supervisão dá autoridade de revisão ao diretor de pesquisa em biodiversidade do instituto, um dos quatro diretores do ICMBio que atuam sob o presidente do instituto. Em um comunicado, funcionários do instituto retrataram a ordem simplesmente como uma mudança burocrática, observando que o presidente do ICMBio anteriormente tinha autoridade de revisão. “Não há censura”, afirma. Mas os pesquisadores observam que nenhum dos principais funcionários do ICMBio é um cientista treinado para conduzir revisões técnicas; todos são ex-policiais militares ou bombeiros.

Uma regra semelhante foi emitida no mês passado no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do Brasil, uma importante instituição federal de pesquisa.

Cientistas brasileiros também enfrentam uma crise de financiamento cada vez mais profunda. Os gastos do governo em pesquisa diminuíram em mais de 70% desde o pico de 2014, e o governo Bolsonaro cortou recentemente 34% do orçamento de investimento do ministério da ciência para este ano. A principal agência de financiamento federal do país, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, deve ter menos de US $ 4 milhões disponíveis para bolsas de pesquisa este ano.

Os problemas de financiamento e os conflitos constantes estão desgastando os pesquisadores brasileiros, diz Mercedes Bustamante, ecologista da Universidade de Brasília e cofundadora da Coalizão Ciência e Sociedade, grupo criado em 2019 para promover políticas baseadas na ciência. “Estou tão cansada de ter que me defender o tempo todo”, diz ela. “Enquanto isso, todas as questões importantes que realmente deveríamos enfrentar estão sendo deixadas para trás.”

A maioria dos cientistas brasileiros “não está acostumada a funcionar em um ambiente tão hostil”, acrescenta Atila Iamarino, microbiologista e proeminente comunicador científico. “Eles são treinados para argumentar contra os fatos, mas isso não é o que mais importa nessas situações.”