O Ministério da Saúde informou no início da noite de sábado (11) a morte de mais dois indígenas por causa do novo coronavírus (covid-19). Uma das mortes foi de uma indígena Kokama, de 44 anos, e o outro óbito foi de indígena da etnia Tikuna, de 78 anos.
Segundo nota do ministério, a indígena Kokama se encontrava internada desde 28 de fevereiro, em Manaus, para tratamento de anemia hemolítica autoimune. “O quadro da paciente agravou-se após contração da covid-19, quando passou a respirar por aparelhos, vindo a falecer em dia 9 de abril. De acordo com o atestado de óbito, a indígena faleceu em decorrência de insuficiência respiratória aguda por covid-19; anemia hemolítica autoimune; e lúpus eritematoso sistêmico”.
O indígena da etnia Tikuna morreu hoje. Ele chegou a ser removido do Hospital de Tabatinga (AM) para tratar de bloqueio no coração na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Delphina Aziz (Manaus), mas não resistiu. “Em 25 de março, havia sido transferido para o Hospital Adriano Jorge e em 31 de março para o Hospital Francisca Mendes, referência em Cardiologia. Durante o período de tratamento hospitalar, o teste para covid-19 acusou positivo, o que agravou ainda mais seu quadro”, diz nota do Ministério.
Primeiro caso
Na noite de quinta-feira (9) morreu o jovem yanomami, de 15 anos de idade, que testou positivo para a covid-19 e havia sido internado no Hospital Geral de Roraima (HGR), em Boa Vista. Desde sexta-feira (3) ele recebia cuidados em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
De acordo com o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei), que atende a região, ele era natural da aldeia Rehebe, nos domínios da Terra Indígena Yanomami, mas passou a residir no município de Alto Alegre, a 87 quilômetros (km) da capital. O motivo da mudança para a Terra Indígena Boqueirão foi dar continuidade aos estudos do ensino fundamental. Ainda segundo o Dsei, o adolescente morava com uma liderança indígena.
A associação quase anedótica do presidente Jair Bolsonaro com a cloroquina, a droga com a qual ele promete pôr fim à pandemia no país, elevou o status de um patinho feio da indústria farmacêutica, a cloroquina, uma molécula utilizada clinicamente desde 1944 para combater malária e com efeitos adversos já registrados que vão de alergias a arritmias cardíacas, podendo provocar até a morte de pacientes suscetíveis.
Barata, com a patente expirada há mais de 50 anos, o “ovo de Colombo” do presidente Bolsonaro contra a pandemia, importado do presidente Donald Trump — o primeiro a propagandear a substância —, tem uma série de contraindicações e nenhuma comprovação científica de sua eficácia contra o coronavírus até o momento.
Ainda assim, a cloroquina e a hidroxicloroquina (substância derivada) vêm sendo utilizadas em diversos hospitais públicos e privados no Brasil, não raramente associadas ao antibiótico azitromicina, o que aumenta o risco de efeitos colaterais como atesta nota técnica da Fiocruz do dia 3 de abril, emitida a pedido da presidência da entidade.
“Eu imagino que a presidência pediu que fizéssemos a nota por causa da pressão, até na mídia, para que se comece a usar a cloroquina de forma maciça para o combate à Covid-19 e também pela dificuldade de fazer a comunidade entender que o fato de um medicamento ter um uso promissor em estudos pré-clínicos, não necessariamente significa que ele vai ser um bom medicamento nos estudos clínicos”, disse à Agência Pública, por telefone, a pesquisadora Flor Espinosa, da Fiocruz Amazonas, especialista em malária.
A dra. Flor também contou que o medicamento é relativamente seguro para malária, mas que em doses maiores a “toxicidade é muito alta”, e não há como prever as reações individuais, que podem se manifestar com uma única dose. Além disso, a contra-indicação para o uso conjunto da azitromicina consta da bula do fabricante, sublinha. “A cloroquina associada à azitromicina já foi usada no esquema terapêutico para prevenção de malária em gestantes africanas, e o que se observou, é que tem muito mais efeitos colaterais”, explica a pesquisadora.
Embora admita “ter curiosidade, sobre o uso de cloroquina em pacientes de coronavírus em estágios iniciais”, a dra. Flor alerta que “esse não é um medicamento que possa ser usado à toa, você não pode fazer um uso preventivo e ficar tomando o remédio indefinidamente”.
Na semana passada, o Ministério da Saúde (MS), que no dia 31 de março havia recomendado que o medicamento fosse usado apenas para o “uso compassivo” (prescrito apenas para doentes graves sem prognóstico de cura) de pacientes de coronavírus, liberou a opção para os médicos, com o consentimento dos pacientes. A decisão tornou oficial o uso em pacientes no estágio inicial da doença em hospitais privados como o da Rede D’Or, no Rio de Janeiro, e as unidades do Sancta Maggiore, que pertence ao plano de saúde Prevent Sênior, especializado em idosos. No dia 5 de abril, o diretor executivo da Prevent Sênior, Pedro Batista Jr., já fazia propaganda da experiência em entrevista no Youtube ao presidente do Instituto Mises, Hélio Beltrão, uma das lideranças da nova direita brasileira que chegou a oferecer pelo Twitter o medicamento a interessados. Naquele momento, os hospitais da Prevent Senior, que atendem principalmente maiores de 60 anos, já registravam 96 mortes por coronavírus, metade do total das mortes ocorridas em São Paulo pela doença. A empresa não fornece dados de mortes em pacientes tratados com a medicação por coronavírus por complicações cardíacas.
Na sexta-feira passada, dia 10 de abril, uma paciente do Hospital Sancta Maggiore de 53 anos, que se tratava em casa, morreu quatro dias depois de tomar por uma semana uma medicação receitada pelo hospital: cloroquina, azitromicina e tamiflu. A paciente era cardíaca, mas, mesmo sem necropsia nem exame positivo para a doença, a certidão registrou o óbito como causado por coronavírus. O advogado da Prevent Senior, Nelson Wilians disse à Folha que, “categoricamente, não é possível afirmar ou associar o tratamento à ocorrência da causa mortis“. “A paciente estava há seis dias sem a medicação. Qualquer ilação é temerária e má-fé”.
Redução do tempo de internação
“Mesmo que a hidroxicloroquina se mostre eficaz”, porque até agora “não há evidências robustas” que permitam “qualquer defesa possível da utilização da cloroquina nos pacientes da Covid-19”, destaca o professor do núcleo de Bioética da Universidade Federal do Rio do Janeiro, Reinaldo Guimarães, “não se deve considerar que ela vai curar pacientes. Até agora o que se tem, mesmo sem robustez, sem número suficiente de pacientes de controle dos ensaios, é que ela diminui o tempo de internação dos pacientes. Muito provavelmente, se for comprovado algum grau de eficácia, o desfecho não será a cura, mas sim a diminuição do tempo de internação. É bom, mas não é a bala de prata como parece que o presidente Bolsonaro quer dizer”, adverte Guimarães, que também é vice-presidente da Abrasco, Associação Brasileira de Saúde Coletiva.
Produzida principalmente em laboratórios públicos no Brasil para o Programa Nacional de Combate à Malária, a cloroquina e a hidroxicloroquina tem a vantagem de não despertar a cobiça dos grandes laboratórios internacionais.
O motivo é simples: essas moléculas não têm patente, a principal fonte de lucro das multinacionais, embora algumas grandes farmacêuticas, como a francesa Sanofi, também produzam hidroxicloroquina, que anunciam como menos tóxica do que a cloroquina, destinada principalmente ao tratamento de Lúpus, artrite reumática e febre reumatóide.
O presidente Bolsonaro tem se utilizado desse trunfo. No dia 21 de março, ele já anunciava em uma de suas lives: “Decidimos que os laboratórios químicos e farmacêuticos do Exército devem ampliar imediatamente a produção desse medicamento [cloroquina]”. No dia 31 de março, ele repetiu a promessa em rede nacional, dizendo ter ordenado “a fabricação de 1 milhão de comprimidos em 12 dias de cloroquina pelo Exército”, o primeiro laboratório brasileiro a produzir cloroquina na Brasil, sendo medicamento de referência para o genérico da Cristália, uma empresa farmacêutica brasileira que também produz insumos farmacêuticos.
A Amazônia perdeu pelo menos 783 km2 de floresta entre janeiro e março, uma vez e meia mais do que o registrado no 1º trimestre de 2019. Só em março, o sistema DETER de monitoramento do desmatamento do INPE emitiu alertas de desmatamento de mais de 300 km2, 30% a mais do que o registrado em março de 2019. De agosto de 2019 até o final do último março, os alertas emitidos corresponderam a uma área de mais de 5.200 km2, o dobro do ocorrido no mesmo período no ano passado. O mais preocupante é que estamos na estação das chuvas, quando a área desmatada costuma cair. O dado foi comentado por André Borges, no Estadão.
O alerta de Paulo Moutinho, do IPAM, à Época, vai no mesmo sentido. Moutinho destaca que “o perfil do desflorestamento mudou – migrou das áreas privadas para as florestas [públicas], mostrando uma tendência de aumento da grilagem e da especulação de terras. Então, neste momento de pandemia, as ações ilegais estão ocorrendo justamente em Terras Públicas.” E dá o aviso: “Desmatador não faz home office!”
Maurício Tuffani, do Direto da Ciência destaca a fala do diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Olivaldi Azevedo, dizendo que a epidemia reduziu o efetivo e a capacidade operacional do órgão. E também a de Marcello Britto, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), quem disse que “lamentavelmente, os números do desmatamento deste ano com certeza sairão maiores do que os do ano passado. Porque, enquanto nós estamos aqui preocupados com a questão de saúde, a grilagem está correndo frouxa. As polícias foram puxadas para os centros urbanos porque precisam dar suporte nesse momento. O Ibama não consegue fazer fiscalização. As secretarias estaduais também. Grilagem e desmatamento correndo frouxo. (…) Ao voltar ao normal, dentro do médio prazo, a notícia que nós vamos estar entregando para eles é que tudo aquilo que foi gritado contra o país no ano passado vai retornar.”.
Jake Spring, da Reuters, também escreveu sobre o assunto.
Também vale ler no UOL a matéria de Caroline Garrett e Denise Oliveira falando das ações de “grupos criando estratégias para colocar no centro das discussões os Povos da Floresta e seus ensinamentos, valorizando a identidade e as diversidades existentes dentro da Amazônia”.
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