Um aterro de resíduos químicos no Oregon tem recebido milhões de quilos de resíduos radioativos – resultado da prática do fracking – de Dakota do Norte, violando os regulamentos ambientais do Oregon.
De acordo com o Bend Bulletin, funcionários do Departamento de Energia do Oregon emitiram recentemente uma “notificação de violação” ao aterro sanitário da Chemical Waste Management perto da pequena cidade de Arlington por aceitar um total de 2 milhões de libras de resíduos de campos petrolíferos que foram entregues por via férrea em 2016, 2017 e 2019.
Alguns dos resíduos, quando testados, registraram rádio 300 vezes acima do limite do estado de Oregon. Mesmo com as violações, o aterro não será multado porque, segundo o Magic Valley, as autoridades estaduais acreditam que os operadores entenderam mal as diretrizes estaduais.
Os proprietários e gestores de aterros sanitários devem agora criar uma avaliação de risco e um plano de ação para lidar com a violação do despejo.
Uma mancha de óleo de cerca de 800 metros quadrados foi detectada nesta sexta (28) em volta do navio carregado de minério que está encalhado no litoral do Maranhão. Segundo as autoridades, trata-se de óleo que estava no convés e não de vazamento dos tanques da embarcação.
De acordo com o Ibama (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), a mancha tem um raio de 830 metros e volume de óleo estimado em 333 litros. O órgão ambiental acredita que parte dela tenha se dispersado naturalmente com as chuvas que caíram durante a tarde na região.
O navio, chamado Stellar Banner, está encalhado em um banco de areia a cerca de cem quilômetros de São Luis, desde a segunda (24), quando sofreu avarias no casco após tocar o fundo do mar. Em seus tanques, há quase 4.000 toneladas de óleo e 259 mil toneladas de minério.
A título de comparação, a Marinha diz que recolheu 5.000 toneladas de resíduos oleosos (misturados a areia e água) nas praias do Nordeste após vazamento de origem não identificada em 2019. O Stellar Banner tem 340 metros de comprimento, o equivalente a três campos de futebol.
A maior preocupação das autoridades é acelerar o processo de retirada do óleo para evitar que um eventual rompimento do casco do navio provoque um desastre ambiental. Neste fim de semana, mergulhadores devem avaliar a extensão dos danos no casco para definir a estratégia de retirada do óleo.
Dados de duas estações meteorológicas confirmam o que muitos paulistanos já vêm sentindo na pele há alguns anos: a ocorrência de eventos climáticos extremos na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) aumentou muito nas últimas duas décadas.
O fenômeno mais impactante é o aumento da intensidade das chuvas. O número de eventos de precipitação extrema, com chuva acima de 100 milímetros/dia, já é maior nos últimos 20 anos do que no acumulado das seis décadas anteriores — e olha que 2020 está só começando. O evento mais recente desse tipo foi a tempestade de 114 milímetros que paralisou São Paulo em 11 de fevereiro, causando deslizamentos e inundações em várias regiões da metrópole. Isso equivale a metade da quantidade de chuva esperada para todo o mês (cerca de 220 mm, em média), despencando sobre a cidade num único dia.
Os dados são da estação meteorológica que o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP mantém em operação desde 1932 no Parque de Ciência e Tecnologia (CienTec), em frente ao Zoológico de São Paulo, no bairro da Água Funda — compilados por um grupo de pesquisadores para um estudo que acaba de ser publicado na revista Annals of the New York Academy of Sciences.
Os números não deixam dúvida sobre o aumento da ocorrência de tempestades na metrópole paulistana: foram 11 acima de 100 mm nos últimos 20 anos (período 2001-2020), comparados a 10 na somatória dos 60 anos anteriores (período 1941-2000). No caso das chuvas acima de 80 mm (também consideradas extremas), o aumento é ainda mais chocante: foram 25 eventos nos últimas duas décadas, comparados a 19 nas seis décadas anteriores.
Dados de uma outra estação meteorológica, operada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), no Mirante de Santana, contam uma história semelhante, ainda que com números distintos — o que é normal, visto que uma estação está na zona norte e outra, na zona sul da cidade, sujeitas a condições ambientais e meteorológicas distintas. Nesse caso, as mudanças começam a se destacar um pouco mais cedo ainda, com um aumento expressivo da ocorrência de tempestades com mais de 80 mm de chuva a partir da década de 1990.
O volume total de chuvas que caem sobre a RMSP também vem aumentando gradualmente nos últimos 80 anos: da faixa de 1.000 a 1.500 mm/ano nas décadas de 1940 e 1950 para 1.500 a 2.000 mm/ano, nos últimos 20 anos. Este mês, por exemplo, é o fevereiro mais chuvoso dos últimos 77 anos em São Paulo, segundo o Inmet. Mas isso não é o pior. Mais preocupante do que o aumento da precipitação acumulada é como essas chuvas se distribuem no tempo e no espaço ao longo de cada mês.
Se chove um pouco todo dia, tudo bem. Era o que acontecia antigamente, quando São Paulo ainda fazia jus ao apelido de “terra da garoa” — por causa da tradicional chuvinha que caía nos fins de tarde. O problema maior é quando a chuva desaba concentrada, em grandes volumes, na forma de tempestades. Em vez de 200 milímetros distribuídos em várias parcelas ao longo de 30 dias, por exemplo, agora chove 100 milímetros num dia, 80 milímetros em outro, e 20 milímetros no restante do mês — resultando num cenário de poucos dias com muita chuva, intercalados por muitos dias com pouca ou nenhuma chuva. É aí que mora o perigo, pois é nesses dias de muita chuva que acontecem as enchentes e os deslizamentos que matam pessoas, desabrigam famílias e destroem a infraestrutura da cidade.
Vários estudos realizados nos últimos anos vêm apontando para um aumento de precipitação sobre grandes centros urbanos do Sudeste brasileiro — incluindo São Paulo, Campinas, Santos e Rio de Janeiro —, assim como um aumento do número de dias secos consecutivos, “sugerindo que os eventos de chuva intensa estão concentrados em menos dias, com períodos mais longos de tempo seco entre eles”, escrevem os pesquisadores. O novo estudo é uma iniciativa do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), coordenado pelo meteorologista José Marengo, com apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Inmet e IAG-USP.
“A temperatura média da Terra está aumentando, isso é um fato incontestável; e a atmosfera está reagindo a esse aquecimento por meio de extremos”, diz o pesquisador Tércio Ambrizzi, professor titular do IAG e coautor do trabalho. Quando um sistema é tirado do seu equilíbrio natural, diz ele, isso gera oscilações para cima e para baixo. No caso do sistema climático, essas oscilações resultam em extremos de temperatura (tanto de calor quanto de frio) e de precipitação (muita ou pouca chuva). A grande estiagem de 2013-2014, que quase secou todos os reservatórios de água da RMSP, também faz parte desse cenário, segundo o pesquisador.
“À medida que a temperatura aumenta, aumenta também o gradiente dos extremos”, alerta Ambrizzi. A tendência, portanto, é que a situação piore ainda mais nos próximos anos e décadas — considerando que a tendência de aquecimento do planeta não deve ser revertida tão cedo.
O aquecimento global, causado pelo aumento das emissões de gases do efeito-estufa para a atmosfera, está em curso desde meados do século 19, deflagrado pela Revolução Industrial, mas se acelerou principalmente a partir da década de 1980, por conta do aumento no uso de combustíveis fósseis e na derrubada de florestas tropicais. Os últimos cinco anos (2015 a 2019) foram os mais quentes do Planeta já registrados pelo homem.
Péssima notícia para quem vive nas cidades — mais de 80% da população brasileira —, em especial para as populações mais pobres e vulneráveis, que vivem nas regiões de maior risco para enchentes e deslizamentos. Afinal, as chuvas não matam por conta própria. “Um evento de precipitação extrema não é um desastre natural por si só”, dizem os pesquisadores. Os chamados “desastres naturais”, na verdade, resultam de uma combinação de fatores climáticos, meteorológicos, urbanos, econômicos e sociais. Ou seja, são também “desastres antrópicos”, resultantes de ações humanas, e não apenas do clima. Os deslizamentos de terra só matam pessoas porque essas pessoas são forçadas a viver em áreas de risco, onde não deveriam. As ruas só enchem de água porque os rios foram canalizados e as cidades, impermeabilizadas, cobertas de asfalto e concreto.
É verdade que tempestades, enchentes e deslizamentos sempre existiram e continuarão a existir, como sempre fazem questão de ressaltar os céticos das mudanças climáticas. O que mudou foram a frequência e a intensidade com que esses eventos estão ocorrendo, com um poder cada vez maior de destruição. E isso, garante Ambrizzi, é uma anomalia gerada pelo homem.
Os efeitos climáticos globais, segundo ele, são exacerbados por fatores urbanos locais, como o efeito “ilha de calor”, gerado pelo excesso de concreto e pelo déficit de áreas verdes nas cidades. O aumento da temperatura média da Terra no último século foi de 1 grau Celsius — o que já é muito grave —, mas na cidade de São Paulo esse aumento chega a 4 graus Celsius, por causa dessa “ilha de calor”. O concreto absorve calor durante o dia e libera essa energia térmica durante a noite, aumentando tanto a temperatura diurna quanto a noturna. Isso favorece a formação de nuvens mais profundas, que produzem chuvas mais fortes e mais concentradas sobre a cidade.
É por isso, também, que São Paulo não é mais a terra da garoa: “A brisa que trazia a garoa no fim de tarde continua entrando, mas a umidade que vem junto com ela agora evapora antes de cair na cidade”, explica Ambrizzi. “A própria cidade contribui para aumentar sua vulnerabilidade climática”, resume o professor.
“O Estado de São Paulo e a Região Metropolitana de São Paulo estão diante de um grande desafio”, escrevem os pesquisadores. “O grande objetivo, efetivamente, é proteger a população”, concluem eles, ressaltando a necessidade de mais pesquisas, mais responsabilidade e melhor planejamento por parte dos gestores públicos frente às mudanças climáticas que já estão em curso — e que só devem piorar nos próximos anos.
“É fundamental entender a dinâmica subjacente da variabilidade climática em suas várias escalas espaço-temporais na RMSP. Com isso, a vulnerabilidade climática pode ser avaliada e estratégias de adaptação propostas”, alertam os pesquisadores. E para que isso possa ser feito, por fim, é preciso fortalecer as instituições de pesquisa – como Inpe e Cemaden – que são responsáveis por esse trabalho, mas que tiveram seus orçamentos severamente reduzidos nos últimos anos, apesar do aumento na ocorrência de eventos extremos, ressalta Marengo, do Cemaden.
Criado em 2011, em resposta aos eventos de chuva extrema que mataram quase mil pessoas na região serrana do Rio de Janeiro no início daquele ano, o Cemaden combina informações meteorológicas com dados ambientais para emitir alertas de risco de desastres geo-hidrológicos (como enchentes, enxurradas e deslizamentos de terra) para a Defesa Civil do Ministério de Desenvolvimento Regional. “As Defesas Civis emitem os alertas para as populações, que poderão ser evacuadas caso elas morem em áreas de risco”, explica Marengo. Além disso, diz ele, o centro atua nas escolas, para educar a população, e treina equipes da Defesa Civil “para minimizar a perda de vidas humanas e de propriedades em todo o Brasil”.
Também assinam o estudo os pesquisadores Lincoln Alves (CCST/Inpe), Andrea Young (Cemaden), Naurinete Barreto (CCST/Inpe) e Andrea Ramos (Inmet).
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