+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Usina Termelétrica de Figueira é acusada de contaminação radioativa e irregularidades ambientais

Altas concentrações de metais pesados e substâncias radioativas colocam em risco a saúde pública da população

Redação Paraná
Curitiba (PR) |

Uma Ação Civil Pública (ACP) foi protocolada nesta terça-feira (20) contra a Usina Termelétrica (UTE) de Figueira, uma das mais antigas do Brasil, localizada em Figueira, Paraná. A denúncia, que destaca irregularidades no licenciamento ambiental e os riscos à saúde pública e ao meio ambiente, aponta para um dos maiores casos de contaminação radioativa e tóxica já registrados no Brasil.

A UTE Figueira, em operação há mais de seis décadas, tem uma trajetória marcada por problemas ambientais. De acordo com o estudo “Usina Termelétrica Figueira: Impactos da queima do Carvão Mineral em Figueira-PR”, a usina libera elevadas concentrações de metais pesados, como arsênio, cádmio e mercúrio, além de elementos radioativos como tório e urânio. Essas substâncias, encontradas em níveis acima das médias globais, representam sérios riscos para as comunidades próximas e para o meio ambiente local, incluindo a contaminação do solo e das águas superficiais e subterrâneas.

Para o gerente de Energia, Clima e Geociências do Instituto Arayara, organização que protocolou a ACP, a ação pública movida serve como restabelecimento do que já deveria ter sido corrigido há muito tempo. “É uma usina de pequeno porte e o seu fechamento não produz nenhum impacto no suprimento de energia do Sistema Interligado Nacional (SIN)”, explica Anton Schwyter.

A operação da usina também é marcada por falhas no licenciamento. De 2002 a 2019, a usina operou com uma licença vencida, sem que o órgão ambiental responsável emitisse um parecer final. Em 2019, uma nova licença foi concedida sem o cumprimento de todas as etapas legais exigidas, o que levanta dúvidas sobre a regularidade do processo. Apesar da outorga vencida, a usina continuou operando com autorizações provisórias, enquanto a Companhia Paranaense de Energia (Copel), responsável pela usina, não cumpriu integralmente os requisitos para restabelecer sua operação comercial.

Impactos ambientais de à saúde da população

Segundo os dados do Relatório State of Global Air de 2020 (HEI, 2020), a poluição do ar foi identificada como o quarto principal fator de risco para mortalidade em todo o mundo, acarretando em aproximadamente 6,7 milhões de mortes no ano de 2019, sendo 20% destas, causadas por doenças respiratórias crônicas, como a pneumoconiose causada pela exposição fugitiva a poeiras minerais.

A população que vive em um raio de até 5 km da usina enfrenta um risco aumentado de doenças respiratórias e cardíacas, devido à alta exposição aos poluentes atmosféricos. Em estudos realizados, o município de Figueira apresentou níveis de chuva ácida superiores aos de grandes cidades como São Paulo, provavelmente em decorrência das emissões da UTE. Além disso, trabalhadores podem estar expostos a níveis perigosos de radônio, um gás radioativo gerado a partir da combustão do carvão de Figueira.

Pedidos de compensação e transição econômica

A economia da região, fortemente ligada à atividade carbonífera, também está em jogo. Embora a operação da usina represente riscos graves, a transição para uma economia sustentável é vista como um desafio. Há pedidos por compensação ambiental e pela criação de um fundo para apoiar essa transição de forma justa e planejada.

“Os projetos de lei atuais preveem subsídios para o carvão mineral até 2040, podendo se estender até 2050. Portanto, se o planejamento de transição econômica não for implementado logo, ao final dos subsídios, o município ficará sem fontes de receita e com grandes passivos ambientais”, alerta Juliano Araújo Bueno, diretor técnico do Instituto Arayara.

Se a Ação Civil Pública for julgada procedente, a UTE Figueira poderá enfrentar a obrigação de reparar ou indenizar os danos ambientais e só retomar suas atividades após regularização completa do licenciamento ambiental.

Edição: Mayala Fernandes

Foto: Leo Dias Maciel/ Google Maps

Fonte: Brasil de Fato

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Dois Biomas, Um Clima: Painel Expõe a Interdependência Amazônia-Cerrado e a Destruição por Commodities

A saúde da Amazônia depende intrinsecamente do Cerrado, e a destruição de um bioma não pode ser isolada da crise do outro. O painel “Two biomes, one climate: The Amazon-Cerrado connection”, realizado na quarta-feira, 19 de novembro, trouxe essa premissa para a programação do ARAYARA Amazon Climate Hub. O evento, proposto pelo Centro de Análises de Crimes Climáticos (CCCA), da

Leia Mais »

Linha de frente Global: vitórias e riscos contra fósseis

A resistência ao petróleo e ao carvão no Sul Global é uma luta contínua, onde vitórias judiciais históricas garantem o direito à consulta, mas a ameaça de exploração permanece. Essa foi a principal lição do evento “Frontline on Fossil Fuels”, realizado na quarta-feira, 19 de novembro, no ARAYARA Amazon Climate Hub. Moderado por Kjell Kuhne (LINGO), o painel reuniu líderes

Leia Mais »

Especialistas Debatem a Pobreza Energética e a Crise Climática que Oprime a Amazônia

Em meio aos dias de calor extremo na capital paraense, a discussão sobre a vulnerabilidade da Amazônia ganhou urgência. O evento “Justiça Energética e Direitos em Tempos de Crises na Amazônia”, realizado na noite de terça-feira, 18 de novembro, no ARAYARA Amazon Climate Hub, reuniu especialistas e lideranças para debater como os eventos climáticos extremos e a ineficiência do sistema

Leia Mais »

A armadilha do gás e o subsídio bilionário do carvão

Debate no Arayara Climate Hub expõe a contradição fóssil do Brasil.  Enquanto líderes globais na COP30 debatem o fim dos combustíveis fósseis, o Brasil segue consolidando uma política energética que privilegia o gás e o carvão em detrimento das renováveis, impondo altos custos ambientais e econômicos ao consumidor. Essa contradição foi o tema central do evento “From Coal to Gas:

Leia Mais »