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Um legado de cores: A Inclusão Histórica de Vozes Comunitárias na COP30 e a Reconstrução do Clima Global

A COP30 em Belém não será lembrada apenas pelos debates sobre metas de mitigação, mas sim pelo seu “colorido” e pela inclusão sem precedentes de comunidades tradicionais nos espaços formais de decisão. Essa foi a linha de conversa do painel “Do Local ao Global: Comunidades no Centro da Decisão Climática e o Legado da COP30”, realizado na noite de terça-feira, 18 de novembro, no ARAYARA Amazon Climate Hub.

O evento, proposto pela Waverley Street Foundation e mediado pela advogada e ecofeminista negra Marina Marçal, celebrou o avanço na criação de plataformas de representação de povos indígenas, quilombolas e afrodescendentes, e debateu como garantir que esses espaços se tornem permanentes na governança climática global.

O Legado de Belém: A Voz da Mulher Negra da Floresta

Edel Nazaré (Secretária Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais do MMA) trouxe a perspectiva pessoal da transformação política vivenciada. Ela relembrou a COP de Glasgow, quando, como representante do Conselho Nacional dos Seringueiros, e sem falar inglês, lutava por espaço ao lado de Sônia Guajajara.

“O legado que o mundo jamais vai esquecer de Belém, e do colorido que vai deixar,” afirmou Edel.

Sua presença, hoje no Ministério, compondo a equipe de Marina Silva, já é um legado. Mas o avanço mais visível foi o acesso:

“Pelo balanço foram mais de 800 credenciais para indígenas na Zona Azul. Ainda há muito que melhorar em questão de acesso, mas esses credenciais não podem mais ser negados, não poderão mais voltar atrás.”

Para Edel, o mundo foi obrigado a ouvir essas vozes em discussões de alto nível.

Reconstruindo a Governança: Do Local ao Pilar Climático da ONU

O debate reforçou que a inclusão das comunidades é essencial para a efetividade da ação climática. Diego Casaes (Climate Emergency Colaboration Group) traçou um paralelo histórico, comparando a fundação da ONU após a Segunda Guerra Mundial com o momento atual, que exige um quarto pilar: o do clima.

“Vejo que hoje estamos em um momento semelhante, porém com um quarto pilar, que é o pilar de clima. E dentro disso estamos conseguindo abrir novos espaços para mulheres, afrodescendentes, povos indígenas, e isso pode ser parte de uma reconstrução da ONU.”

Ele alertou, contudo, para as tensões que surgem e que precisam de atenção especial. Usou como exeomplo o caso do Congo, onde acordos sobre minerais críticos foram fechados sem a participação das comunidades locais.

A acadêmica Sheila Foster (Columbia Climate School) endossou a percepção de que Belém foi a COP da inclusão. Ela criticou o foco histórico na mitigação, sem considerar os impactos e a adaptação necessária às comunidades.

“Sempre haverá preços a pagar, e esse preço está caindo sobre as comunidades e povos que estão sempre deixados de fora das discussões. Precisamos dar um assento para esses povos na discussões.”

A Influência do Sul Global e o Exemplo do Brasil

O Deputado Federal Nilto Tatto (PT-SP), coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, resgatou a história dos movimentos paralelos às conferências. Lembrou da Eco-92, quando as discussões paralelas tiveram o poder de influenciar a conferência oficial e gerar o reconhecimento de direitos dos povos originários.

Ele destacou que o fato de a COP acontecer em uma cidade do Sul Global, com problemas de infraestrutura semelhantes aos de muitos países vulneráveis, é um “caldo de cultura” que ajuda a mudar o quadro:

“O sul global é que mais sofre as consequências do aquecimento global, somos os mais vulneráveis. Se soubermos conduzir bem esse debate, temos condição de mudar esse quadro.”

O painel foi concluído pela ex-diplomata dos EUA, Vernita Pearl Fort, que vê na juventude e no clamor por reformas da ONU a esperança de criar um sistema global onde os povos participem diretamente da escrita das regras que regerão suas vidas e o futuro do planeta.

 

Foto: Odaraê Filmes

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