Seguindo a programação da Missão “Transição Energética Justa e Sustentável Chile-Brasil ARAYARA 2025”, o gerente de Transição Energética, John Wurdig, e o analista técnico e climático Joubert Marques, participaram do painel “Desafíos socioterritoriales de la transición en ALC”, realizado durante a 10ª Semana da Energia da OLADE, em Santiago.
O debate colocou em evidência um ponto central: a transição energética só será possível se as comunidades forem protagonistas. “Não se trata apenas de instalar linhas de transmissão ou parques solares. Precisamos garantir que as comunidades compartilhem os benefícios e que os territórios afetados pelo carvão recebam um fechamento justo”, destacou uma das exposições iniciais.
A ausência de ordenamento territorial e a falta de consulta prévia adequada foram apontadas como fatores que alimentam conflitos locais. Para a pesquisadora Alicia Williner (CEPAL), o desafio está em “compatibilizar desenvolvimento sustentável, justiça social e sustentabilidade ambiental, sem perder de vista que os territórios são diversos e as comunidades precisam ser fortalecidas”.
Outro ponto debatido foi a necessidade de repartir os frutos da transição. Juan Fernando Patiño (ISA) lembrou que o setor privado precisa superar relações puramente transacionais com os territórios. “Não basta apenas mitigar impactos. As comunidades devem ser parceiras, com modelos produtivos e de governança que lhes deem autonomia e benefícios duradouros“, afirmou.
As falas também chamaram atenção para as dívidas históricas do Estado com regiões marcadas por exploração de carvão. Segundo Jessica Arias-Gaviria (Polen Transiciones Justas), é fundamental chegar a esses lugares com humildade: “São territórios onde o abandono foi estrutural. Qualquer tentativa de diálogo precisa reconhecer esse histórico e construir presença real, não apenas pesquisas ou visitas pontuais.”
A diretora do Chile Sustentável, Sara Larraín, alertou ainda para a legitimidade da transição: “Não podemos falar em energia limpa quando as comunidades seguem convivendo com cinzas e passivos tóxicos deixados por centrais a carvão. Sem reparar o passado, o Estado e as empresas perdem credibilidade para propor o futuro.”
O gerente de Transição Energética da ARAYARA destaca que a aceleração da transição energética só será possível mediante a combinação equilibrada de tecnologia, política e confiança. “ Esse caminho exige a garantia de consulta prévia efetiva, o fortalecimento do planejamento participativo e a implementação de mecanismos institucionais que assegurem que os benefícios cheguem, de forma justa e concreta, às comunidades locais“.