+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Territórios indígenas sob pressão: impactos de petróleo, mineração e agronegócio são debatidos durante a COP30

No dia 14 de novembro, o Arayara Amazon Climate Hub sediou a mesa-redonda “Territórios indígenas na mira de grandes empreendimentos: do petróleo à mineração”, organizada por organizações de base indígena de diversas regiões e biomas do Brasil.

O encontro reuniu lideranças de diferentes regiões do país para debater os impactos de empreendimentos de desenvolvimento — como mineração, petróleo, gás, hidrelétricas e infraestrutura — sobre territórios indígenas e estratégias de defesa desses espaços.

Lilia Aparecida Eloy Henrique, do povo Terena, representante do bioma Sudeste pelo território Araribá e pela ARPINSUDESTE, trouxe a voz de caciques, lideranças, pajés e mulheres para denunciar os impactos sofridos pelo Cerrado e Mata Atlântica. 

“A crise é climática, e os empreendimentos têm afetado profundamente nossos territórios. Estão tentando tirar a nossa terra  e a de nossos parentes, e para nós o território é sagrado. Não é questão de dinheiro, é questão de cultura, de saúde e de resistência. Temos sofrido demais”, afirmou. 

Ela destacou que, embora a Amazônia seja reconhecida como o coração do mundo, a Mata Atlântica também sofre com pressões externas. “Precisamos ser ouvidos. O agronegócio tem avançado sobre nossos territórios, nossos rios estão secando e isso nos preocupa, porque vivemos da terra — e ela já não produz como antes”, completou.

José Benites, da APIB, denunciou o avanço da fronteira extrativista, impulsionada pela mineração e pelo agronegócio, como principal vetor de destruição territorial e violação de direitos indígenas. Ele alertou para a ausência de consulta prévia, livre e informada e para a falta de participação efetiva da sociedade nas decisões que afetam os territórios.

Mauricio Terena, destacou as crescentes ameaças ambientais e pressões sobre as terras Mura, agravadas por projetos de mineração e pela crise climática. “Os povos indígenas continuam resistindo, mesmo enquanto são retratados — nas negociações oficiais e nas redes sociais — como obstáculos ao progresso”, afirmou. 

Ele criticou a restrição de espaços de participação na COP, que excluem os povos diretamente afetados pelas decisões globais. “Não podemos criminalizar os indígenas que se mobilizam”, disse, citando o exemplo dos indígenas que avançaram sobre os portões da área restrita da COP30, numa tentativa de chamar a atenção do governo e da ONU que estão nesse espaço para que suas lutas pudessem ser ouvidas.

Mauricio enfatizou ainda a importância de ocupar espaços de poder e desbancar falsas narrativas: “O fortalecimento institucional não significa abrir mão da nossa identidade, mas usar ferramentas, como a advocacia indígena, para transformar processos desde dentro, respeitando nossa orientação e cosmovisão.” Ele criticou a condução dos protocolos de consulta prévia, que ignoram o tempo necessário dos povos, com suas especificidades e desafios para avaliar impactos de empreendimentos.

Valcelio Terena, do Conselho do Povo Terena, ressaltou que a percepção internacional sobre a situação indígena no Brasil está distorcida pelos meios de comunicação. “Muitas vezes, outros países acham que aqui está tudo bem, mas não é verdade. Perdemos nascentes e fontes de água, enquanto somos massacrados por empreendimentos que avançam sem considerar nossas vidas e modos de existir. Precisamos de políticas públicas que obriguem essas empresas a reconhecer o valor humano e social da região”, disse. 

Ele alertou para os impactos do agronegócio no Pantanal do Mato Grosso do Sul e destacou a importância de preservar ciclos naturais: “Antes, acompanhávamos o tempo pelos pássaros, pela lua; hoje tudo mudou. A humanidade precisa entender que depende de nós para o futuro.”

Heloísa Simão, pesquisadora da ARAYARA, reforçou a importância de dar visibilidade às narrativas indígenas e à litigância como instrumento de defesa de direitos e resistência aos impactos ambientais: “Trazer a realidade dos territórios e a luta jurídica travada pelos povos originários revela a dimensão das violências e fortalece estratégias de proteção”.

Milena Mura, representante da Organização Indígena das Mulheres Mura, denunciou a violação de protocolos de consulta e a atuação de lideranças cooptadas. “Mesmo dividindo nosso povo, continuamos resistindo. A Potássio do Brasil, empresa de fertilizantes que abastece o agronegócio, ameaça nossos territórios e modos de vida. Estamos levantando nossas trincheiras para defender nosso planeta e garantir um futuro. Somente com parceria poderemos preservar a vida, a água e a floresta. A mudança climática é a Mãe Terra dizendo que precisamos lutar. Hoje, nós mulheres indígenas assumimos a linha de frente da luta, junto aos guerreiros, para defender nossas terras e nossos corpos. Fora Potássio do Brasil, fora agronegócio!”, afirmou.

Kretã Kaingang, da ARPINSUL, enfatizou a necessidade de não repetirmos erros de COPs anteriores, financiadas por mineradoras, petroleiras e empresas que exploram territórios indígenas há décadas. Ele destacou a importância da mobilização e da implementação de protocolos de consulta livres, prévia e informados, sem interferência do governo. “Precisamos agir juntos, independentemente de política partidária , e ter coragem para enfrentar esses desafios. Essa COP30 precisa trazer resultados concretos para nós, povos indígenas, e precisamos cobrar para que isso aconteça”, afirmou.

Juliano Bueno, diretor técnico do Instituto Internacional Arayara, lembrou que, além da mineração de potássio, diversos blocos de exploração de petróleo ameaçam sobrepor-se a territórios indígenas. “Diante dos impactos da mineração de potássio e dos conflitos internos que ela gera, é essencial barrar esses empreendimentos antes que causem danos ainda mais profundos. A expansão das fronteiras de exploração de petróleo e gás representa uma ameaça crescente aos territórios indígenas no Brasil, intensificada pelos leilões da ANP, que comprometem ecossistemas frágeis e culturas ancestrais que dependem desse equilíbrio”, alertou.

 

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: La COP 30 fue una nueva victoria de la industria fósil, mientras la humanidad avanza hacia la barbarie climática

La COP 30 fue una victoria más para la industria fósil, lo cual no sorprende a quienes siguen estas conferencias. Pero, esta vez, fue aún más frustrante porque, al inicio de la conferencia, hubo menciones a un supuesto “mapa del camino” para reducir gradualmente la quema de combustibles fósiles en los próximos años. Sin embargo, ese “mapa del camino” resultó

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Lobby predomina e compromete negociações sobre fim dos combustíveis fósseis

Com 1.602 representantes credenciados, indústria teve papel crucial para a exclusão do “roadmap” fóssil do texto final da COP30 Uma questão antiga, mas cada vez mais presente nas conferências do clima, marcou a COP30 em Belém: a atuação intensa dos lobistas dos combustíveis fósseis. Enquanto representantes da sociedade civil e diversos países pressionavam para que a “transição para longe dos

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Cresce litigância judicial contra projetos de petróleo na Amazônia

O Brasil tem registrado uma intensificação na litigância climática, com mais de 340 ações até novembro de 2025, segundo dados do Sabin Center for Climate Change Law, da Columbia University. Essa tendência evidencia a crescente mobilização de ONGs, movimentos sociais e sociedade civil contra projetos prejudiciais ao meio ambiente, como a licença ambiental para pesquisas de petróleo na Bacia da

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Jovens ativistas ambientais: a força que move a luta contra as mudanças climáticas

Durante a COP30, a presença e o protagonismo de jovens ativistas ambientais chamaram atenção para o avanço da participação da nova geração na luta contra o aquecimento global. Com trajetórias marcadas por desafios sociais e ambientais, esses ativistas carregam na bagagem a urgência de mudanças e a esperança de um futuro mais justo e sustentável. Juventude na linha de frente

Leia Mais »