+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Teia dos Povos: VIII Jornada de Agroecologia da Bahia reforça aliança entre campo e cidade na luta contra a fome e a pobreza

Entre os dias 29 de janeiro e 2 de fevereiro, aconteceu a VIII Jornada de Agroecologia da Bahia, organizada pela Teia dos Povos. Realizado no Parque de Exposições Agropecuárias de Salvador, o evento trouxe como tema “Aliança Campo e Cidade para o Combate à Fome e à Pobreza”, reafirmando o compromisso com a justiça social, a soberania popular e a defesa dos territórios tradicionais.

A Teia dos Povos é uma articulação de comunidades, territórios, povos e organizações políticas, rurais e urbanas, que atuam na construção de redes de solidariedade e resistência em defesa da terra, da cultura e da autonomia dos povos.

A Jornada reuniu representantes de diversos movimentos sociais e comunidades tradicionais, incluindo povos originários, quilombolas, ribeirinhos e movimentos de luta urbana e rural. Buscando seguir contribuindo com o fortalecimento da defesa de terra e território em todo o país, o Instituto Internacional ARAYARA também marcou presença no evento. 

Dentre as pautas debatidas, os participantes abordaram desafios urgentes, como a redução do orçamento público para políticas sociais e a intensa exploração de recursos naturais para a mineração, o agronegócio e a indústria de combustíveis fósseis.

A crise climática, agravada pelo aumento da frequência e intensidade de fenômenos naturais extremos, também foi abordada. Além disso, discutiu-se a crescente interferência de interesses internacionais nos territórios, resultando em violações sistemáticas dos direitos dos povos tradicionais, originários e urbanos.

Outro ponto debatido foi a crise da democracia, marcada pela diminuição dos espaços de participação popular nos processos decisórios e na formulação de políticas públicas, limitando a voz da sociedade civil nos espaços de poder.

Aumento da violência 

O aumento da violência contra povos tradicionais foi um dos temas em de destaque. “A violência direta e indireta contra povos, territórios e seus defensores, somada à omissão do Estado em garantir a proteção dessas populações, evidencia as interseccionalidades dessas agressões, que impactam desproporcionalmente mulheres, indígenas e pessoas negras”, relatou Heloísa Simão, pesquisadora de Direitos Humanos da ARAYARA. 

Segundo Simão são muitos os exemplos dessa realidade, que incluem o assassinato de Nega Pataxó e a violência sistemática contra a população negra.

Em 2023, o Brasil registrou um recorde de 2.203 conflitos no campo, afetando 950.847 pessoas, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Apesar do aumento no número de casos em relação a 2022 (2.050 conflitos), a área em disputa diminuiu 26,8%, totalizando 59,4 mil hectares. As regiões mais afetadas foram o Norte (810 casos) e o Nordeste (665).

A maioria dos conflitos envolveu disputas por terra (1.724 casos, 78,2%), seguidos por conflitos por água (225) e trabalho escravo (251). A violência contra ocupações e posses também aumentou, com invasões subindo de 349 para 359 casos, afetando 74.858 famílias.

Os dados fazem parte do relatório anual da CPT, divulgado no ano passado, e reforçam a necessidade de fortalecer os mecanismos de proteção para os povos tradicionais e suas terras.

Estratégias de resistência e construção de alianças

Espaço de intercâmbio e articulação de estratégias de resistência, os debates da VIII Jornada de Agroecologia da Bahia enfatizaram a valorização dos saberes ancestrais, a promoção da agroecologia e o fortalecimento da autonomia das comunidades em seus territórios.

A pesquisadora da ARAYARA, destacou a importância da mobilização coletiva: “O espaço não foi apenas um local de intercâmbio e compartilhamento de experiências, mas também de construção de soluções criativas para a autonomia dos povos. A preocupação em criar alianças para fortalecer a luta por justiça social, soberania e território foi um dos pontos mais fortes da Jornada.”

Segundo Simão, mais do que um espaço de denúncia, o evento mostrou o potencial criativo dos povos tradicionais, originários e urbanos na formulação de soluções para enfrentar os desafios do século XXI. “As discussões geraram encaminhamentos e ideias para manter viva a luta em defesa dos territórios, seja por meio da resistência cotidiana ou da construção de novas redes de solidariedade entre campo e cidade”, completou.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Exploração de Petróleo e Gás no Mato Grosso do Sul ameaça povos indígenas, ecossistemas e o setor do agronegócio

Técnica do fraturamento hidráulico (fracking) pode gerar bilhões em prejuízos e comprometer exportações agrícolas Quase quatro meses após o 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão (OPC), promovido pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), os impactos da expansão da fronteira de petróleo e gás seguem provocando preocupação em regiões de alta sensibilidade ambiental e social. Além

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Blick auf COP30: Studie benennt Geldgeber für Extraktivismus in Lateinamerika

Urgewald nennt Banken und Investoren hinter neuen Öl- und Gasprojekten. 138,5 Milliarden Dollar Kredite seit 2022. 92 Prozent aus dem Ausland. Banco Santander vorn, Deutsche Bank mit 3,4 Milliarden Das Titelbild der neuen Studie der Umweltorganisation Urgewald vor der COP30 Berlin/Belém. Fünf Wochen vor dem UN-Klimagipfel in Belém (COP30) zeigt eine neue Studie der deutschen NGO Urgewald das Ausmaß der Öl-

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Pemex y Petrobras encabezan la expansión petrolera en América Latina

América Latina y el Caribe atraviesan una etapa de acelerada expansión en proyectos de petróleo y gas, liderada tanto por compañías internacionales como por empresas estatales emblemáticas de la región, como Pemex en México y Petrobras en Brasil. Sin embargo, esta tendencia avanza en dirección contraria a los compromisos climáticos internacionales y representa serios costos ambientales y sociales, de acuerdo con el informe “El rastro

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: ¿Qué bancos financian la expansión petrolera en ecosistemas clave de América Latina y el Caribe?

Un informe de Amazon Watch y aliados detalla cómo los grandes bancos internacionales financian empresas que realizan obras gasíferas y petroleras en la Amazonía y sitios centrales de los océanos Atlántico y Pacífico. El estudio explica que los bancos contradicen sus propias políticas para proteger la Amazonía. Fuente: Mongabay, 1 de octubre de 2025. Entre 2022 y 2024, 298 bancos

Leia Mais »