por Comunicação Arayara | jan 25, 2023 | Fracking |
Alert was issued after President Lula’s announcement to “create conditions” to finance the construction of a gas pipeline for energy integration between Brazil and Argentina
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por Nicole Oliveira | jan 22, 2021 | Fracking |
Mais uma vitória em direção ao fim do fracking no mundo. Essa semana a Irlanda – que baniu o fraturamento hidráulico em 2017 – se tornou o primeiro país com um plano para proibir a importação de gás de fracking.
O gás originado do fracking não deve mais ter papel no atendimento às necessidades de energia da Irlanda, de acordo com o Green Party (Partido Verde irlandês). Eles confirmaram que os planos de importação de gás de fracking dos Estados Unidos para a Irlanda através do Porto de Cork foram cancelados.
Em 2017, o Porto de Cork e a empresa norte-americana NextDecade, com sede em Houston, Texas, assinaram um memorando de entendimento para importar gás de fracking através do porto.
No entando, este memorando expirou a 31 de dezembro de 2020 e o Porto de Cork não tem nenhuma intenção de renovar.
Sabemos que temos que fazer a transição para uma economia de baixo carbono, mas o fracking e todas as suas consequências não têm lugar nessa agenda. Nem aqui, nem em lugar nenhum”, ressaltou Oliver Moran, membro do partido, ao The Irish Times.
De uma das principais portas de entrada desse gás para a Europa, a Irlanda passa a liderar a agenda ambiental que atinge a indústria de fracking em todo o mundo.
Esta vitória terá um impacto importante na redução das operações globais de fracking, servindo como inspiração para que o resto da Europa siga este exemplo até fechar completamente as portas deste mercado tão prejudicial para as terras e as pessoas.
No Brasil, estamos fazendo a nossa parte de conscientizar e lutar para que essa prática seja extinta. Três estados já proibiram o fracking, salvando mais de 50 milhões de pessoas, após campanha realizada pela Coalizão Não Fracking Brasil (COESUS) e o Instituto Internacional Arayara.
Hoje, por conta dos inúmeros riscos e consequências, o fracking é proibido no Paraná, em Santa Catarina e em mais de 400 cidades de todo o país.
Essa decisão do governo irlandês só aponta para o caminho que temos lutado para seguir. O fracking é um mal que precisa ser discutido e combatido. Vemos, cada vez mais, países optarem pela proibição e pela busca de outras alternativas de energia, que não proporcionam as consequências devastadoras do fraturamento hidráulico. Que essa pequena vitória na Irlanda sirva de exemplo para outros países – para o nosso país”, destaca o fundador da COESUS, o engenheiro Juliano Bueno de Araújo.
Veja só alguns exemplos de como a prática do fracking pode prejudicar tantos territórios e populações:
Consumo e contaminação da água pelo fracking
Cada poço de fracking utiliza aproximadamente de 7,8 a 15,1 milhões de litros de água. Geralmente, essa grande quantia é transportada para o local do fraturamento por vias terrestres, em caminhões movidos à diesel, representando um custo ambiental significativo – visto que vivemos em meio a uma crise hídrica.
Em West Virginia (EUA), são injetados aproximadamente 19 milhões de litros de fluido em cada poço fraturado e, de toda a água utilizada, apenas 8% retorna à superfície.
A água utilizada no procedimento é misturada com areia e cerca de 150 mil litros de até 600 produtos químicos, incluindo substâncias cancerígenas e toxinas conhecidas, tais como urânio, mercúrio, metanol, rádio, ácido hidroclorídrico, formaldeído, entre outras.
Esses produtos podem escapar e contaminar as águas subterrâneas em torno do local. Para se defender, a indústria sugere que os incidentes de poluição são resultados de má prática, em vez de se tratar de uma técnica inerentemente arriscada.
Mudanças Climáticas
Além de distrair a indústria geradora de energia e o governo da necessidade do investimento em fontes renováveis de energia, o processo de exploração por meio do fracking emite metano — gás 25 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2), contribuindo cada vez mais para o agravamento das mudanças climáticas.
Terremotos
O fracking provoca, habitualmente, microssismos que podem desencadear em tremores maiores, sentidos pelas populações locais. Por vezes, estes eventos são aproveitados para obter um registro vertical e horizontal da extensão da fratura.
Embora esses terremotos sejam crônicos, a injeção de água proveniente das operações de fracking pode causar tremores maiores, tendo-se registrado magnitudes de até 5,7 (Mw).
Fonte: Não Fracking Brasil
por Nicole Oliveira | fev 29, 2020 | Fracking, Mundo |
Um aterro de resíduos químicos no Oregon tem recebido milhões de quilos de resíduos radioativos – resultado da prática do fracking – de Dakota do Norte, violando os regulamentos ambientais do Oregon.
De acordo com o Bend Bulletin, funcionários do Departamento de Energia do Oregon emitiram recentemente uma “notificação de violação” ao aterro sanitário da Chemical Waste Management perto da pequena cidade de Arlington por aceitar um total de 2 milhões de libras de resíduos de campos petrolíferos que foram entregues por via férrea em 2016, 2017 e 2019.
Alguns dos resíduos, quando testados, registraram rádio 300 vezes acima do limite do estado de Oregon. Mesmo com as violações, o aterro não será multado porque, segundo o Magic Valley, as autoridades estaduais acreditam que os operadores entenderam mal as diretrizes estaduais.
Os proprietários e gestores de aterros sanitários devem agora criar uma avaliação de risco e um plano de ação para lidar com a violação do despejo.
Leia o artigo original aqui.
por Nicole Oliveira | fev 28, 2020 | Brasil, Fracking, Mudanças Climáticas |
Depois de dois dos três estados da região Sul do Brasil garantirem por legislação estadual a proibição do fracking (fraturamento hidráulico), uma técnica utilizada para a extração de gás de xisto ou folhelho que ficam a mais de 800 metros de profundidade, chegou a vez do Rio Grande do Sul. O fracking é uma técnica considerada não-convencional e, por seus riscos e consequências, foi proibido no Paraná, em Santa Catarina e em mais de 400 cidades de todo o país. O país vizinho dos gaúchos, Uruguai, está discutindo uma lei nacional para proibir a técnica.
De acordo com a minuta do projeto de lei que deve tramitar na Assembleia Legislativa gaúcha no mês de março, fica proibido, no território do Estado do Rio Grande do Sul, a exploração e a produção de óleo e gás de xisto (óleo e gás de folhelho) pelos métodos de fratura hidráulica (fracking) e de mineração convencional com retortagem e pirólise, ou outros métodos que possuam riscos efetivos ou potenciais de danos a tais métodos atributos. A iniciativa é da deputada Luciana Genro, que espera ter mais colegas como co-autores.
De acordo com o geógrafo e pesquisador do Instituto Internacional ARAYARA, Luciano Henning, atualmente pós-doutorando da UFRGS, no Rio Grande do Sul existem pelo menos 190 municípios com potencial de exploração de gás de xisto por fracking. As cidades ficam nas regiões noroeste, centro-ocidental e sudoeste.
Como funciona
Através de perfurações no solo, são injetadas grandes quantidades de água com solventes químicos comprimidos. Alguns possuem, inclusive, potencial cancerígeno. A enorme pressão gerada pela água provoca explosões que fragmentam a rocha.
Fraturada a rocha, é preciso garantir que o buraco não se feche novamente. Para isso, é inserida uma quantia elevada de areia que, supostamente, evita que o terreno ceda e, ao mesmo tempo, por sua porosidade, permite a migração do gás a ser extraído. Esse processo pode criar novos caminhos para a liberação do gás ou pode ser usado para ampliar os canais já existentes.
Os resultados são desastrosos: estudos mostram que mais de 90% de fluidos resultantes do fracking podem permanecer no subsolo. Já o flowback, ou seja, o fluído do fraturamento que retorna à superfície e que normalmente é armazenado em lagoas abertas ou tanques no local do poço, também causa impactos como a contaminação do solo, ar e lençóis de água subterrânea.
Renan Andrade, gestor ambiental e representante da 350.org no Rio Grande do Sul alerta que a prática do fracking gera danos irreparável ao meio ambiente e à produção agrícola. “Na Argentina, país que faz fronteira com o Rio Grande do Sul, o faturamento hidráulico comprometeu a cultura da maçã, por exemplo. Onde é praticado o fracking no mundo, dá errado. Por isso o trabalho da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS) é tão importante: é preciso alertar a sociedade antes que os danos aconteçam”, afirmou.
Para Andrade, o RS precisa aprovar a legislação sob pena de ter penas econômicas significativas. “Os gaúchos vivem uma crise financeira muito grave. Em poucos anos, se nada for feito pelos parlamentares gaúchos, a crise pode piorar porque Paraná, Santa Catarina, Chile e outros locais terão preferência na exportação de produtos agrícolas com o selo ‘fracking free’. Ainda é tempo de os gaúchos agirem”, alertou.
Otimista com a aprovação da pauta, Juliano Bueno, diretor da COESUS, lembra que o tema é suprapartidário. “No Paraná, o texto foi proposto por parlamentares do PSC, do PDT e do Cidadania; e foi sancionado pelo Governador Carlos Massa Ratinho Júnior (PSB). No PR, foram quase seis anos de campanhas de mobilização com o apoio de cooperativas, autoridades, ONGs e sociedade; realizamos pesquisas científicas, trabalhos com legisladores e especialistas. Já o projeto catarinense foi proposto por um parlamentar do MDB, e sancionado pelo Governador Carlos Moisés da Silva (PSL)”, explicou. “Tenho plena convicção que os deputados gaúchos legislarão para garantir aos milhões de cidadão que vivem em solo gaúcho saúde, produção agrícola sustentável e disponibilidade de águas limpas”, acrescentou.
Mas afinal, quais são os danos gerados pelo fracking
Mudanças Climáticas
Além de distrair a indústria geradora de energia e o governo da necessidade do investimento em fontes renováveis de energia, o processo de exploração por meio do fracking emite metano — gás 25 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2), contribuindo cada vez mais para o agravamento das mudanças climáticas.
Consumo de água
Cada poço de fracking utiliza aproximadamente de 7,8 a 15,1 milhões de litros de água. Geralmente, essa grande quantia é transportada para o local do fraturamento por vias terrestres, em caminhões movidos à diesel, representando um custo ambiental significativo – visto que vivemos em meio a uma crise hídrica. Em West Virginia (EUA), são injetados aproximadamente 19 milhões de litros de fluido em cada poço fraturado e, de toda a água utilizada, apenas 8% retorna à superfície.
Contaminação
A água utilizada no procedimento é misturada com areia e cerca de 150 mil litros de até 600 produtos químicos, incluindo substâncias cancerígenas e toxinas conhecidas, tais como urânio, mercúrio, metanol, rádio, ácido hidroclorídrico, formaldeído, entre outras. Esses produtos podem escapar e contaminar as águas subterrâneas em torno do local. Para se defender, a indústria sugere que os incidentes de poluição são resultados de má prática, em vez de se tratar de uma técnica inerentemente arriscada.
Terremotos
O fracking provoca, habitualmente, microssismos que podem desencadear em tremores maiores, sentidos pelas populações locais. Por vezes, estes eventos são aproveitados para obter um registro vertical e horizontal da extensão da fratura. Embora esses terremotos sejam crônicos, a injeção de água proveniente das operações de fracking pode causar tremores maiores, tendo-se registrado magnitudes de até 5,7 (Mw).
Além disso, os sismos têm se tornado cada vez mais frequentes. Em 2018, por exemplo, a cidade de Lancashire (UK) apresentou 17 terremotos em apenas nove dias – fato ocorrido após a cidade ter retomado as atividades de fraturamento hidráulico. Entre janeiro de 2010 e maio de 2017, o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) mediu 8.908 terremotos ocorridos no estado de Oklahoma, com uma média de 218 sismos por mês.
OCUPAÇÃO DE TERRAS
Outra consequência causada pelo fracking é o alto índice de ocupação de terras devido às plataformas de perfuração, áreas de estacionamento e manobra de caminhões, equipes, instalações de processamento e transporte de gás, bem como estradas de acesso, que em casos de poços na Amazônia, podem ser vetores do desmatamento.
Por esses e muitos outros motivos, a Coalizão Não Fracking Brasil está nesta luta ampliada contra o gás da morte, dedicando-se no desinvestimento do hidrocarboneto garantindo, portanto, que as mudanças climáticas não sejam ainda mais solidificadas.
por Nicole Oliveira | fev 20, 2020 | Mudanças Climáticas, Mundo, Petróleo e Gás |
Carvão, petróleo e gás são responsáveis por muito mais metano atmosférico, o gás superpotente de aquecimento, do que se sabia anteriormente
No meio do verão de campo na Groenlândia, em 2015, Benjamin Hmiel e sua equipe perfuraram as enormes entranhas congeladas do manto de gelo, transportando periodicamente um pedaço de gelo cristalino do tamanho de um motor de motocicleta. O gelo continha parte da resposta a uma pergunta que incomodava os cientistas há anos: quanto do metano na atmosfera, uma das fontes mais potentes do aquecimento global, provém da indústria de petróleo e gás?
Anteriormente, acreditava-se que fontes geológicas como infiltrações vulcânicas e vasos de lama com gás cuspiram cerca de 10% do metano que acabava na atmosfera todos os anos. Mas uma nova pesquisa, publicada esta semana na Nature, sugere que fontes geológicas naturais compõem uma fração muito menor do metano na atmosfera de hoje. Em vez disso, dizem os pesquisadores, o metano provavelmente é atribuível à indústria. Além disso, os resultados indicam que subestimamos os impactos de metano da extração de combustíveis fósseis em até 40%.
Essas são más notícias para as mudanças climáticas e boas, diz Hmiel, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de Rochester. Ruim, porque significa que a produção de petróleo e gás teve um impacto maior e mais confuso no orçamento de gases de efeito estufa do que os cientistas sabiam. Mas Hmiel considera o resultado encorajador quase pelo mesmo motivo: quanto mais emissões de metano puderem ser identificadas para a atividade humana, como a extração de petróleo e gás, mais controle significa que os formuladores de políticas, empresas e reguladores precisam resolver o problema.
“Se pensarmos no total de metano na atmosfera como fatias de uma torta – uma fatia é de ruminantes, a outra é de pântanos. A fatia é que costumávamos pensar que o metano geológico era muito grande ”, diz Hmiel. “Então, o que estamos dizendo é que a fatia de torta de combustível fóssil é maior do que pensávamos, e podemos ter uma influência maior no tamanho da fatia, porque é algo que podemos controlar”.
Metano, o combustível da “ponte” – mas uma ponte para onde?
Um potente gás de efeito estufa, o núcleo de carbono do metano e os braços de hidrogênio estão dispostos em uma configuração que o torna excepcional na absorção de calor. Em uma escala de tempo de 20 anos, uma molécula de metano é aproximadamente 90 vezes mais eficaz em reter o calor na atmosfera do que uma molécula de dióxido de carbono, o gás de efeito estufa que exerce o maior controle sobre o aquecimento futuro da Terra a longo prazo.
As concentrações atmosféricas de metano aumentaram em pelo menos 150% desde a Revolução Industrial. Por causa de sua potência, quanto mais houver no ar, mais difícil será impedir que as temperaturas do planeta superem as metas climáticas globais.
O metano também é o protagonista de um mistério científico de décadas em todo o planeta: de onde, exatamente, todo o metano extra que aquece a atmosfera hoje vem? São arrotos de vaca ou arrozais? Vazamentos na produção de petróleo e gás? Vulcões gasosos de lama gasoso ou escoam ao longo da Terra, mudando de costuras?
Nas últimas décadas, à medida que as chamadas para reduzir as emissões de dióxido de carbono aumentaram e as tecnologias de coleta de gás natural, como o fracking, ficaram mais baratas, muitas usinas a carvão nos Estados Unidos e no exterior se aposentaram. Nos EUA, mais de 500 usinas a carvão foram fechadas desde 2010. Em muitos casos, são substituídas por usinas de gás natural (que é composto principalmente de gás metano), que agora produzem quase 40% das necessidades de energia dos EUA.
O metano queima mais eficientemente que o carvão, tornando-o uma opção melhor em termos de custo de carbono e poluição do ar do que o carvão. Ele também permanece na atmosfera por muito menos tempo que o CO2 – uma média de nove anos, comparado às centenas de CO2.
Devido às suas características, o gás natural tem sido frequentemente apontado como um “combustível de ponte” para ajudar a facilitar a transição para um futuro energético neutro em carbono. Atualmente, as usinas de gás natural atendem às necessidades de energia, enquanto se desenvolvem tecnologias renováveis ou com carbono negativo.
“A questão é: isso é um combustível de ponte ou vai durar muito tempo?” diz Sheila Olmstead, economista ambiental da Universidade do Texas em Austin. “O mercado está nos dizendo que provavelmente permanecerá por muito tempo”.
No entanto, o custo climático do gás natural se baseou em uma premissa básica: existem menos emissões totais de carbono do gás natural do que de outras fontes. Mas, nos últimos anos, uma flotilha de estudos científicos colocou essa suposição em questão, principalmente observando a quantidade de gás perdida durante o processo de produção.
Se houver muito poucos vazamentos ou perdas ao longo do caminho – menos de alguns por cento da quantidade total de gás recuperado -, a matemática se iguala ou sai à frente. Mas se essa “taxa de vazamento” ultrapassar mais de 1% do total de gás recuperado, o orçamento será reduzido.
Um estudo recente descobriu que a “taxa de vazamento” de gás amplamente utilizada no processo de produção de gás natural dos EUA poderia ser superior a 2%. Outros, observando “super emissores” específicos nas principais regiões de perfuração dos EUA, encontraram ainda mais vazamentos.
“Nos últimos anos de pesquisa, eu diria que todo o argumento para o metano para um combustível de ponte realmente se foi”, diz Howarth. “Mas se voltarmos e dissermos que realmente precisamos de gás natural por um tempo, esse cálculo depende do ponto de equilíbrio do metano. E não temos certeza se estamos perto disso. “
É fundamental eliminar gradualmente as emissões de CO2, salienta Jessika Trancik, especialista em energia do MIT, porque é isso que manterá o planeta trancado para o aquecimento a longo prazo. Mas para os objetivos climáticos que o mundo está lutando para atingir neste momento – mantendo a temperatura do ar acima dos objetivos de temperatura de 3,6 graus Fahrenheit (2 graus Celsius) do Acordo de Paris de 2015 – também é essencial impedir que qualquer metano extra vaze na atmosfera.
“É impossível atingir essas metas climáticas com metano na mistura”, diz Lena Höglund Isaksson, especialista em gases de efeito estufa do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados da Áustria.
O gelo tem respostas
É extremamente difícil descobrir quanto do metano na atmosfera provém de fontes humanas, como perfuração ou queima de petróleo e gás, quanto provém de outras fontes influenciadas pelo homem, como a agricultura, e quanto provém de fontes naturais, como escoamentos vulcânicos.
De onde vem, determina o que os humanos podem fazer sobre isso. Se for petróleo e gás, podemos consertar os sistemas para produzir menos. Se forem vulcões, podemos ser menos capazes de gerenciar as emissões.
“É como uma história de detetive”, diz Höglund Isaksson.
No passado, os cientistas fizeram estimativas de quanto o chamado metano natural vem de fontes geológicas, caminhando até um vulcão de infiltração ou lamaçal e medindo cuidadosamente suas emissões. Então os cientistas aumentariam essas observações para fazer uma estimativa para todo o planeta. Usando essa estratégia, a maioria das estimativas coloca a contribuição anual do metano proveniente de geologia natural em cerca de 50 teragramas por ano, cerca de 10% da quantidade total anual de metano emitido. Estimativas recentes colocam a contribuição anual total do metano da aquisição e queima de combustíveis fósseis em pouco menos de 200 teragramas.
A equipe de Hmiel suspeitava que as fontes geológicas pudessem ser ainda menores – e eles tinham um lugar para testar essa suspeita: a larga e plana camada de gelo da Groenlândia. O gelo ali, enterrado a mais de 100 metros abaixo da superfície, datava de antes da Revolução Industrial, em 1800, e por isso tinha o metano pré-industrial preso em pequenas bolhas de ar em sua estrutura congelada.
Eles desenterraram mais de 2.000 libras de gelo. Depois, sugaram o ar contendo metano das bolhas presas no gelo.
O metano de fontes geológicas naturais tem uma composição química ligeiramente diferente do metano de outras fontes, como as áreas úmidas. O metano sugado para fora do gelo de 250 anos continha vestígios de apenas uma pequena quantidade de metano geológico. E como as amostras eram de antes do início da Revolução Industrial e o aumento simultâneo de metano do carvão e do petróleo, não havia vestígios de metano nos combustíveis fósseis.
Por outro lado, as amostras após o início da Revolução Industrial mostraram uma impressão digital reveladora de combustíveis fósseis.
Mas a principal descoberta foi sobre o quão pouco metano de fontes geológicas havia no gelo: o equivalente a não mais do que cerca de 5 teragramas de metano liberados na atmosfera por ano, naqueles dias pré-combustíveis fósseis. É improvável que a geologia tenha mudado em tão pouco tempo, portanto essa estimativa é, diz Hmiel, uma boa suposição para o que a geologia está contribuindo hoje também.
Fundamentalmente, essa contribuição é 10 vezes menor que outras estimativas – incluindo aquelas usadas pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA e pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – usadas para fazer avaliações científicas e decisões políticas.
No geral, os cientistas há muito sabem exatamente quanto metano existe na atmosfera. Esse número não mudou: ainda existem cerca de 570 teragramas de metano coletando na atmosfera a cada ano. Mas se houver muito menos das fontes geológicas naturais, alguma outra fonte deve fazer a diferença. A equipe também pode demonstrar que a fonte mais provável são as operações de petróleo e gás.
Se as operações de petróleo e gás tiveram uma pegada muito maior nas emissões de metano do que se sabia anteriormente, Hmiel pensou, isso também significa que elas podem limpar essas emissões – reduzindo a quantidade de gás usada e limpando vazamentos, explosões e outros gás desperdiçado do processo.
“As concessionárias de energia que atualmente optam por se concentrar em energia eólica e solar ou gás – se escolherem gás, é crucial entender que essa usina estará em operação por décadas”, diz Olmstead.
“Eles têm um poder real de permanência muito além da data de validade da placa de identificação. Sabendo disso, isso muda as decisões que tomamos hoje? Que teremos efeitos nas emissões de metano daqui a 10, 20, 30, 40 anos? ”
Vitórias no Brasil
A Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS), presente em mais de 10 estados brasileiros, tem trabalhado arduamente para combater a exploração do gás natural. Paraná e Santa Catarina simbolizam essas vitórias. “Nosso trabalho no estado do Paraná foi árduo e, graças ao apoio de cooperativas, autoridades, ONGs e sociedade, hoje os mais de 11 milhões de paranaenses podem respirar aliviados sabendo que o gás da morte ficará longe de suas terras. Em Santa Catarina , um forte e incansável trabalho de diversas entidades junto a diversos municípios fez com que a Assembleia Legislativa aprovasse uma lei que garante a 7 milhões de pessoas a certeza de estarem livres do gás de xisto. Ou seja, com informação, mobilização e participação, a sociedade pode impedir a exploração do gás da morte e barrar o avanço das mudanças climáticas”, afirma Juliano Bueno de Araújo, diretor fundador da Coesus.
Fonte: National Geographic