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2020 tem o janeiro mais quente da história, diz agência americana

Em 141 anos de medições da Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (Noaa, na sigla em inglês), nunca houve um janeiro tão quente como o de 2020.  É o 44º janeiro consecutivo em que o primeiro mês do ano registra temperatura acima da média e o 421º mês com temperatura acima da média para o século 20. 

A temperatura global (terra e oceano) ficou 1,14°C acima da média para o século 20, ultrapassando o recorde de janeiro de 2016 em 0,02°C.

Olhando os hemisférios separadamente, o Norte também teve o janeiro mais quente da história, com 1,5°C acima da média. Já o Sul registra o segundo no ranking. Com 0,78°C acima da média em 2020, fica atrás de janeiro de 2016. 

Outros eventos climáticos que apareceram no relatório da agência americana foram temperaturas recordes em partes de Escandinávia, Ásia, Oceano Índico, Oceano Pacífico central e ocidental, Oceano Atlântico e América Central e do Sul. 

Também chamou a atenção que a cobertura antártica de gelo marinho ficou 9,8% abaixo da média e empatou com janeiro de 2011 como o 10º menor.

Além disso, a cobertura de neve do Hemisfério Norte ficou abaixo da média de 1981-2010, com a 18ª menor em janeiro no recorde de 54 anos.

Fonte: GaúchaZH

Terras indígenas da Amazônia ajudam a regular o clima e reduzem aquecimento global

Terras indígenas da Amazônia ajudam a regular o clima e reduzem aquecimento global

Estudo publicado pela revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), na última segunda-feira (27), mostra que os territórios indígenas preservados são responsáveis pela manutenção dos estoques de carbono na Amazônia, ou seja, os guardiões das florestas ajudam a regular o clima e reduzir a intensidade do aquecimento climático do planeta.

Segundo os dados, apenas 10% de todas as emissões de CO2 na floresta são provocadas pelos povos nativos. Os cientistas que assinam o estudo também reafirmam que é importante fortalecer e preservar áreas sob a administração de povos indígenas, principalmente da Amazônia.

Aquecimento dos oceanos equivale à explosão de 3,6 mil milhões de bombas atómicas

Aquecimento dos oceanos equivale à explosão de 3,6 mil milhões de bombas atómicas

As temperaturas nos oceanos do nosso planeta atingiram um novo recorde, mostrando sinais de um aquecimento “irrefutável e acelerador”. Os oceanos são a forma mais clara de medir a atual emergência climática, dado que absorvem mais de 90% do calor retido pelos gases de efeito estufa emitidos pela queima de combustíveis fósseis, destruição de florestas e outras atividades humanas.

As conclusões do estudo conduzido por 14 cientistas, publicado na revista “Advances In Atmospheric Sciences” e citado, esta terça-feira, pelo jornal britânico The Guardian, informam que os últimos dez anos foram os dez mais quentes para os oceanos registados até agora e revelam ainda que o aquecimento ocorreu principalmente entre a superfície e os 2 mil metros de profundidade.

Oceanos mais quentes levam a tempestades mais severas e a uma interrupção do ciclo da água, o que significa mais inundações, secas e incêndios florestais, além de um aumento inexorável do nível do mar. Temperaturas mais altas prejudicam, também, a vida nos mares, com o número de ondas de calor marinhas a aumentarem acentuadamente.

Para demostrar a brutalidade das conclusões, o líder deste estudo comparou a subida da temperatura no mar com a energia libertada pela bomba atómica de Hiroxima. Garante que a quantidade de calor que foi colocada nos oceanos nos últimos 25 anos é igual à explosão de 3,6 mil milhões bombas atómicas iguais às que explodiram na cidade japonesa em 1945.

“Os oceanos são quem dizem realmente a que velocidade a Terra está a aquecer”, disse o professor John Abraham, da Universidade de St Thomas, em Minnesota, EUA, e um dos membros da equipa por trás da nova análise. “Através dos oceanos, vemos uma taxa de aquecimento contínua, ininterrupta e acelerada do planeta Terra. Esta é uma notícia terrível”, lamentou.

“Descobrimos que 2019 não foi apenas o ano mais quente já registado, mas também demonstrou o maior aumento de um ano em toda a década, um lembrete preocupante de que o aquecimento causado pelo homem no nosso planeta continua inabalável”, argumentou Michael Mann, outro membro da investigação e professor na Universidade Estadual da Pensilvânia.

Ainda assim, os cientistas acreditam que a situação se pode reverter. Os investigadores garantem que a mudança é possível, mas que o oceano vai levar mais tempo a recuperar do que o ar ou a terra. Para isso as fontes de energia devem ser sustentáveis e diversificadas, e a forma como a usamos tem que ser mais inteligente.

Fonte: Jornal Economico

Estudo diz que aquecimento deve piorar incêndios na Amazônia e destruir 16% do sul da floresta

Estudo estima que queimadas podem liberar até 17 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, fazendo com que a floresta, que hoje funciona como armazém de carbono, se torne um grande emissor do principal gás-estufa.

Se a Amazônia atingiu, em agosto do ano passado, o maior número de focos de queimadas desde 2010, mesmo com uma temporada relativamente úmida, imagine o que poderia acontecer se o clima estivesse mais quente e seco. Foi esse o quadro que um grupo de cientistas buscou desenhar, e o resultado foi preocupante: com o agravamento do aquecimento global, incêndios florestais poderão destruir até 16% do sul da Amazônia até 2050, liberando até 17 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.

Nesse cenário, a floresta, que hoje funciona como uma espécie de armazém de carbono, pode se tornar um grande emissor do principal gás responsável pelo aquecimento global, piorando ainda mais o problema, o que pode, por sua vez, intensificar a destruição da floresta, em um perigoso processo de retroalimentação.

A pesquisa, feita por cientistas no Brasil e nos Estados Unidos, considerou modelagens matemáticas para estimar como o aumento das temperaturas e da estiagem, provocados pelas mudanças do clima, podem deixar mais propícios os incêndios da vegetação na porção sul da Amazônia e como tudo isso pode se relacionar com o desmatamento.

A floresta tropical úmida não pega fogo sozinha. Quando se fala de queimadas na região, é porque alguém acendeu o fósforo. No ano passado, por exemplo, o alto número de focos de fogo registrado em agosto na Amazônia se deveu em sua maior parte à queima de árvores já derrubadas no intenso processo de desmatamento que ocorreu nos meses anteriores.

Houve, inclusive, uma articulação de fazendeiros e madeireiros para provocar queimadas, naquele que ficou conhecido como “Dia do Fogo”.

Mas essas chamas muitas vezes se espalham e acabam atingindo também a floresta em pé. Quando ela está saudável, esse incêndio é mais difícil de se propagar, mas se a vegetação está degradada e esse fogo ocorrer em uma temporada de seca mais intensa, a condição para a fogueira perfeita está formada. É desse incêndio florestal de que se trata o estudo. Da “tempestade de fogo que se aproxima no sul da Amazônia”, como o grupo de cientistas resumiu no título da pesquisa publicada nesta sexta-feira, 10, na revista Science Advances.

Os pesquisadores – liderados por Paulo Brando, da Universidade da Califórnia, em Irvine, e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) – trabalharam com modelagens matemáticas para ver como as interações entre mudanças climáticas e desmatamento afetam a quantidade de terra queimada e de gases de efeito estufa emitidos em incêndios florestais em uma área de 192 milhões de hectares.

Somente a porção sul da floresta foi considerada no estudo por já ser uma área mais seca e também por estar mais degradada. É a área que coincide com o chamado arco do desmatamento, por onde ocorre a expansão da fronteira agrícola no Acre, sul do Amazonas, Rondônia, norte do Mato Grosso e sul do Pará.

O grupo observou que, apesar de a floresta primária ficar protegida da maior parte das queimadas provocadas por humanos por causa do seus sub-bosques úmidos, o modelo projeta que essa umidade vai diminuir com o passar do tempo, tornando essas florestas cada vez mais vulneráveis.

Papel do desmatamento

O trabalho indica que os incêndios florestais devem continuar se intensificando no sudeste da Amazônia em cenários de mudanças climáticas, mesmo se não houver novos desmatamentos. Comparando com dados da década de 2000, o fogo simulado para as próximas décadas queimaria áreas maiores, liberando mais energia e emitindo mais CO2 na atmosfera. A estimativa é que a área de florestas em risco de queimar com a seca vai dobrar até 2050 em relação aos anos 2010.

Se nessas condições ainda se somarem mais desmatamentos, todo esse quadro piora. A área queimada chegaria a 22,3 milhões de hectares, com emissão bruta de 17 bilhões de toneladas de dióxido de carbono. O Brasil hoje, como um todo, emite cerca de 1,9 bilhão de toneladas de CO2 por ano.

“Por isso defendemos que reduzir o desmatamento é essencial para reduzir a probabilidade de fogo no sudeste da Amazônia nas próximas décadas”, disse Brando ao Estado. O trabalho, que contou com pesquisadores da Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal da Minas Gerais, da Nasa e do Woods Hole Research Center, calculou que esforços de prevenção de desmatamentos podem reduzir a área florestal queimada em até 30% e reduzir as emissões de gases de efeito estufa por incêndios na região em 56%.

“Nossa análise mostra que precisamos de uma abordagem dupla para proteger as florestas remanescentes das pressões crescentes do desmatamento para expansão agrícola e do risco de incêndio causado pela mudança do clima. Regionalmente, decisões que reduzam o desmatamento, impeçam a fragmentação da floresta e evitem fontes de ignição para incêndios, amortecerão as bordas da floresta contra as atividades de queimadas”, complementa o pesquisador Doug Morton, da Nasa, também autor do estudo.

“No entanto, também precisamos de uma estratégia global para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Sem progresso no nível global, a região amazônica aquecerá e secará nas próximas décadas, de maneira a tornar os incêndios mais prováveis, mais extensos e mais prejudiciais do que são hoje”, ponderou em entrevista ao Estado.

Os autores consideram que a atividade generalizada de queimadas que ocorreu no ano passado na Amazônia para limpeza de áreas já desmatadas poderia ter desencadeado incêndios ainda maiores e mais danosos se o clima estivesse mais seco. A temporada no ano passado foi mais úmida em outros anos. “Essa combinação de seca com circunstâncias econômicas que favorecem o aumento do desmatamento foi uma combinação que levou a consequências desastrosas em 2005”, exemplifica Morton.

Com uma seca intensa por causa de um El Niño e desmatamento em níveis elevados, 2005 teve nos meses de julho e agosto o recorde de queimadas da série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e, no consolidado do ano, o segundo maior número de focos (213.720), só perdendo para 2004 (218.637), que, por sua vez, teve a maior taxa de desmatamento do século 21.

Para os pesquisadores, o que está acontecendo agora com os incêndios na Austrália deveria ser encarado como um sinal de alerta para o Brasil.

“As mudanças climáticas já resultaram em condições mais quentes e secas em muitas regiões propensas a incêndios. Somente em 2019, vimos condições climáticas extremas de incêndio no Alasca, Califórnia e agora na Austrália. Embora os ecossistemas sejam diferentes, a receita é a mesma”, explica Morton.

“Como mostra nossa pesquisa, regiões que ficam mais quentes e secas permitem que os incêndios se intensifiquem e se espalhem mais rapidamente. Hoje, essas circunstâncias estão ocorrendo na Austrália. Em nossa análise, as mudanças climáticas vão empurrar a região amazônica para condições climáticas de maior risco de incêndio nas próximas décadas, com potencial de aumentar as áreas afetadas pelo fogo, mesmo em florestas protegidas”, diz.

Brando defende que este estudo sirva de alerta para o governo brasileiro assim como deveria ter sido o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) para a Austrália. Em 2007, o corpo científico internacional afirmou, com alto grau de confiança, em seu quarto relatório, que ondas de calor e incêndios iriam crescer em intensidade e frequência no país.

“É um pouco a mesma mensagem que estamos passando: durante ondas de calor e secas, a probabilidade de incêndios florestais catastróficos é gigantesca e vai aumentar no futuro. Se não tiver ação forte para evitar, vamos ter consequências. Estamos mostrando isso com números”, afirma Brando.

Para lembrar: Amazônia teve 30% mais focos de fogo em 2019

O bioma amazônico teve ao longo de todo o ano passado 89.178 focos de queimadas, alta de 30% em relação ao ano de 2018, que registrou 68.345 focos.

O mês mais quente foi agosto, com cerca de 1/3 das queimadas do ano – na ocasião foram registrados 30.901 focos, o maior volume de fogo desde 2010 e o triplo de agosto de 2018. As imagens de queimadas ganharam o mundo e chamaram a atenção da comunidade internacional, que fez duras críticas ao Brasil.

O governo Bolsonaro decidiu, então, mandar as Forças Armadas para a região por meio de uma Garantia da Lei e Ordem (GLO). O esforço levou à redução das queimadas em setembro e outubro, que registrou o menor número de focos da série histórica do Inpe (que começou em 1998), mas o desmatamento, por outro lado, continuou crescendo. Vários estudos, como do Ipam e da Nasa, relacionaram as queimadas com o alto índice de derrubada da floresta.

Em novembro e dezembro, os focos de queimadas voltaram a subir na comparação com 2018. Em novembro, foram 11.298, contra 8.881 no mesmo mês do ano anterior. E em dezembro, mesmo com o início da temporada de chuvas, houve 3.275 focos, contra 1.842 em dezembro de 2018.

O desmatamento, por sua, vez, continuou em alta. De 1º de agosto a 17 de dezembro, o Deter, sistema de alertas do Inpe, indicou para uma área desmatada de 4.419 km², contra 2.164 km² observados nos últimos cinco meses de 2018.

Se o ritmo continuar, a expectativa é que a taxa oficial de desmatamento do período de 2019 a 2020 supere a taxa registrada no ano passado. Entre agosto de 2018 e julho de 2019, o sistema Prodes apontou para uma perda de quase 10 mil km² da Amazônia, uma alta de 29,5% em relação aos 12 meses anteriores.

Fonte: Estadão Conteúdo

Em busca de cura para o luto climático

Em busca de cura para o luto climático

Em um dia no início do terceiro trimestre, 19 pessoas se reuniram em um pequeno espaço para eventos no Brooklyn e formaram um círculo. Entre eles havia um advogado da área de imigração, um terapeuta, um manifestante da Rebelião contra a Extinção, um artista e eu. Fazia calor do lado de fora, uma temperatura que antes descreveríamos como fora de época, mas, atualmente, já consideramos normal para meados de setembro.

Estávamos ali para uma oficina chamada C​ultivating Active Hope: Living With Joy Amidst the Climate Crisis [Cultivo da esperança ativa: vivendo com alegria em meio à crise climática], um título que parecia absurdamente otimista. Eu estava lá porque me sentia incapaz de entender como alguém poderia lidar com a crise climática sem enlouquecer. Você conhece alguém que cita o antropoceno no perfil do aplicativo de namoro? Que entregou certificados de captura de carbono como presente de natal? Que olha para um bebê e pensa imediatamente nas cerca de 14 toneladas de carbono que o americano médios emite por ano? Que passa pelas lojas pensando em onde vão parar todas aquelas embalagens? Agora, você conhece.

Talvez uma nova abordagem sobre o aquecimento global possa ajudar.
Talvez uma nova abordagem sobre o aquecimento global possa ajudar. Foto: Hokyoung Kim / The New York Times

Diferentemente de milhões de pessoas, não fui afetada diretamente pela crise climática — não de maneira significativa… ainda. Mas o bombardeio de notícias climáticas cataclísmicas a respeito do planeta, os incêndios florestais e os dias de outono de 32˚C em Nova York pareciam tão distantes do ritmo natural da vida humana que, muitas vezes, senti que estava enlouquecendo. Minha mera existência parecia admissão de cumplicidade. Afinal, eu pertencia à espécie que estava acabando com a maioria das demais.

Por mais que eu queira me acorrentar a uma árvore centenária, meu trabalho no Times me impede de assumir integralmente a causa de ativista. Assim, faço doações a causas ambientais, sigo uma dieta vegana, contribuo para a composteira, uso o transporte público, carrego talheres de bambu na bolsa e compro artigos de segunda mão — decisões que eu tenho o luxo de poder tomar. Mas nada disso trouxe alívio.

Não ajudou quando perguntei às pessoas ao meu redor como elas estavam lidando com a situação. Me disseram que já é tarde demais. Que eu não deveria me importar, pois não tenho filhos. Que o planeta vai ficar bem, em um futuro distante. Uma amiga deu a entender que a angústia que sinto em relação ao clima seria uma extensão das minhas tendências melancólicas, coisa que me pareceu plausível, mas não era bem isso. Sabemos que o futuro parece ruim, que o presente é ruim, e que a inação, principalmente nos Estados Unidos, está piorando ainda mais as coisas. Mas como devemos viver com nossos corações e mentes tomados por uma ameaça existencial que, enquanto vemos o desaparecimento das aves e das abelhas e acompanhamos a morte e queda das árvores, traz também um impacto tão íntimo?

Finalmente, no terceiro semestre do ano, depois de uma viagem de caiaque pelo Alasca motivada pelo desejo de ver as geleiras enquanto elas ainda existem — fui recebida com incêndios florestais —, decidi buscar respostas. E o que aprendi, na oficina e durante longas conversas com psicólogos, ecólogos, um ativista indígena e budistas ocidentais, foi mais ou menos uma receita para lidar com o luto climático.

Funciona mais ou menos assim: viva como se a crise fosse urgente. Aceite a dor, mas não pare por aí. Busque um caminho espiritual que proporcione gratidão, compaixão e aceitação, porque viver com base na negação, na raiva ou no medo só acaba nos prejudicando.

Mudanças individuais

Nossas escolhas individuais de consumo e transporte parecem menos importantes: por que cancelar a viagem à Europa se já é tarde demais e todos continuam viciados em combustíveis fósseis? Mas Lou Leonard, um dos fundadores do grupo budista One Earth Sangha, dedicado aos problemas da crise climática, disse-me que viver como se a mudança climática fosse real e nós pudéssemos fazer algo a respeito dela são sinais para os demais — algo que pode mudar a cultura. Optar por mudanças aparentemente inconvenientes agora também pode ajudar a nos preparar para o que o futuro pode trazer.

O eco-psicólogo Zhiwa Woodbury acredita que estamos vivendo um trauma coletivo, no qual somos ao mesmo tempo vítima e algoz — nosso ataque contra a biosfera é um ataque a nós mesmos. Alterar hábitos como nossa alimentação também pode fazer com que as pessoas se sintam menos sobrecarregadas e mais poderosas, disse ele, mudando nossa relação com o mundo natural. “Temos a sensação positiva de estar agindo, e é algo que remete à ideia de uma responsabilidade partilhada”, disse Woodbury. “A ideia segundo a qual os indivíduos não têm poder para mudar isso só existe porque fizemos com que se sentissem assim.”

Aceitar a dor foi mais difícil para mim. Não merecemos esse sofrimento? Talvez. Mas sentir desespero é em si uma forma de evitar o problema. “O desespero é uma forma de mostrar que ainda não processamos as emoções”, disse Woodbury.

Na oficina realizada no Brooklyn, que usou o trabalho pioneiro da ativista do luto ambiental Joanna Macy, a facilitadora, Jess Serrante, disse algo que me atingiu como um raio. “A dor que sentimos diante do que está acontecendo é o outro lado da moeda do nosso amor pelo mundo”, afirmou. “Sentimos um desespero tão profundo porque amamos o planeta profundamente.”

Canalizar a dor

Vários psicólogos me disseram que estão dizendo o mesmo aos pacientes que apresentam dificuldade para lidar com o desespero diante da ecologia: a depressão diante da crise é na verdade uma resposta saudável e razoável. Mas, enquanto cultura, tratamos a depressão como a patologia do fracasso pessoal e, enquanto indivíduos, nós a evitamos. Mas isso faz com que nos fechemos para o problema. Jess nos disse que, ao mergulhar na dor, podemos transformá-la em algo maior e restabelecer o elo com nosso eu mais profundo.

A chave é canalizá-la, por meio de atitudes cotidianas ou participando de movimentos mais amplos, e também descobrir uma maneira de enfrentá-la sem sermos controlados por ela. É aí que entra o componente espiritual — encontrar uma forma de alcançar um ponto não de aceitação tácita, mas de feroz compaixão. “Não há nada mais poderoso do que um coração partido, desde que tenhamos um recipiente espiritual para contê-lo”, reforçou Woodbury.

Comecei a tentar aprender a ter mais leveza espiritual, e recuperar a fé nas pessoas. Sentir um elo — com os outros, com nós mesmos — é um antídoto para os sentimentos difíceis que tentamos manter sob controle com distrações e a busca pelo esquecimento. Também valorizo outra coisa que Woodbury me disse: a crise pode nos obrigar a cicatrizar nosso relacionamento com o mundo natural, e não há como se desesperar com essa perspectiva.

Ainda assim, o pessimismo ecológico é duro de matar. No Brooklyn, Jess sugeriu que formássemos pares para dizer um ao outro quais razões nós tínhamos para agradecer por estarmos vivendo nesse período. “Sou grata por viver nesse período porque…”, eu disse ao meu parceiro, um homem que trabalhava no segmento corporativo de preparativos para desastres, “…as pessoas são mais conscientes do que nunca do estrago que causamos? Porque essa é a conclusão lógica daquilo que a Revolução Industrial colocou em movimento?”

“Uau”, respondeu ele. O colega respondeu que era grato por viver em uma época em que era possível ver lindos animais, plantas e toda uma vida selvagem que talvez não resista por muito mais tempo. Fiquei sem ar. Não tinha pensado naquilo. Algo mudou dentro de mim.

Depois, ao caminhar pela calçada escaldante, senti uma gratidão visceral por tudo aquilo que ainda existe, por aquilo que temos que defender, enquanto ainda podemos contemplar essas maravilhas.

Cara Buckley é repórter de cultura e cobre questões de preconceito e igualdade em Hollywood, participando da equipe que ganhou o prêmio Pulitzer em 2018 por reportagens a respeito do assédio sexual no ambiente de trabalho.

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Fonte: Estão