+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Risco de Sacrifício: Amazônia Debate a Mineração Estratégica e a Corrida por Minerais na Transição Energética

A crescente demanda global por minerais essenciais à descarbonização coloca a Amazônia diante de uma encruzilhada perigosa. O painel “Amazonía y Transición Energética Justa: Propuestas para Abordar la Minería y los Derechos de Pueblos Indígenas y Comunidades Locales”, realizado no ARAYARA Amazon Climate Hub, reuniu lideranças pan-amazônicas e especialistas para debater como garantir que a busca por cobre e lítio não crie um novo ciclo de exploração na região.

O evento, realizado nessa sexta-feira (14), foi promovido pela Fundación Gaia Amazonas, e expôs o vácuo normativo, a pressão sobre Povos Indígenas em Isolamento Voluntário (PIA) e a necessidade de uma transição energética que comece pelo respeito aos direitos territoriais.

A Nova “Febre do Ouro” da Transição Verde

Juan Sebastián Anaya (Fundación Gaia Amazonas) contextualizou a pressão sobre o bioma, descrevendo uma nova “febre de mineração” ligada à extração de minerais estratégicos e críticos para as tecnologias de descarbonização.

Ele alertou que há um “boom de especulação” nos países amazônicos, agravando violações existentes e criando novas, impulsionadas por uma rede transnacional de extração, tráfico e acúmulo de minerais.

“No Brasil em 2025 há muitos registros de pedidos de extração de minerais próximo à área de indígenas isolados. Registros semelhantes são observados em Venezuela, Colômbia e Bolívia,” revelou Anaya.

O custo social e ecológico é alto, e a falta de ferramentas adequadas dos Estados para regular essa extração alimenta a ilegalidade e a pressão sobre populações vulneráveis.

O Elefante na Sala: Mineração para a Guerra e para a Transição

O consultor internacional Antenor Vaz, especialista em proteção de PIA, questionou a própria classificação de “minerais críticos”, sugerindo que a demanda não é apenas para a transição energética, mas também para a indústria bélica.

“Não somos ingênuos para achar que esses minerais são apenas para a transição energética, também são para a indústria da guerra,” afirmou Vaz.

A ameaça da mineração é uma questão de vida ou morte para os Povos Indígenas em Isolamento Voluntário (PIA).

“Essas comunidades dependem exclusivamente dos recursos da floresta, se você altera de qualquer forma as condições da floresta, essas pessoas têm sua sobrevivência altamente prejudicada,” explicou. “Então, autorizar esse tipo de interferência, não tomar providência pela proteção desses povos, significa autorizar o processo de genocídio desse povo.”

Paul E. Maquet (CooperAcción/Grupo Regional para uma Transição Energética Justa) complementou a crítica, dizendo que a relação entre os minerais da transição e a indústria da guerra é “o elefante na sala do qual ninguém quer falar”. Ele defendeu que a extração para a transição deve ser balizada por critérios rigorosos, priorizando o “direito a dizer não” e a autodeterminação das comunidades, em um modelo de democratização dos bens comuns.

O Impacto que Impede a Vida no Território

Jessica Alejandra Solórzano (UFPA) detalhou os múltiplos impactos da mineração, dividindo-os em três recortes:

  1. Biofísicos: Uso e contaminação da água, desmatamento e alteração da materialidade do ecossistema.

  2. Socioeconômicos e Culturais: Modificação da economia local, gerando expectativas de emprego e atraindo grupos armados, o que impede a população local de manter suas roças e colher frutos.

  3. Epistemológicos e Culturais: A mineração impõe um status industrial ao território que supera a possibilidade do próprio ecossistema de manter a vida e impede que seja usado como um território de vida pelas comunidades tradicionais.

“A possibilidade de decidir o que se faz num território é o que vai definir a possibilidade de uma vida de se desenvolver nele,” finalizou Solórzano. Concluindo com a exposição de como a mineração, portanto, afeta a cadeia de direitos humanos fundamentais dos povos amazônicos e do restante da América do Sul.

Foto: Odaraê Filmes

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Risco de Sacrifício: Amazônia Debate a Mineração Estratégica e a Corrida por Minerais na Transição Energética

A crescente demanda global por minerais essenciais à descarbonização coloca a Amazônia diante de uma encruzilhada perigosa. O painel “Amazonía y Transición Energética Justa: Propuestas para Abordar la Minería y los Derechos de Pueblos Indígenas y Comunidades Locales”, realizado no ARAYARA Amazon Climate Hub, reuniu lideranças pan-amazônicas e especialistas para debater como garantir que a busca por cobre e lítio

Leia Mais »

Debate na COP30 Expõe Violações e o Risco de Megaprojetos de Mineração na Amazônia

A mineração na Amazônia não é apenas um problema ambiental, mas uma prática neocolonial que viola direitos e aprofunda a injustiça climática. Essa foi a principal denúncia da roda de conversa “Mineração, Direitos e Justiça Climática na Amazônia – O Caso Belo Sun e Potássio do Brasil”, realizada nesta quinta-feira (13), no ARAYARA Amazon Climate Hub. O evento, que reuniu

Leia Mais »

Estrutura e Sobrevivência: Parlamentares na COP30 Debatem o Papel da Escola como Centro de Adaptação Climática

A escola precisa ser mais do que um local de ensino: deve se tornar um ponto central de adaptação e resiliência diante da crise climática. Este foi o foco do painel “Educação, Parlamento e Cidades: Construindo Adaptação Climática no Brasil”, realizado nesta quinta-feira (13), no ARAYARA Amazon Climate Hub durante a COP30. O encontro reuniu vereadores e deputados de grandes

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Lula precisa vetar prorrogação dos subsídios às usinas a carvão

Não há justificativa técnica, econômica, social ou ambiental para manter esses incentivos É urgente que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva corrija o erro mais flagrante cometido pelo Congresso com a aprovação da Medida Provisória 1.304: a prorrogação dos incentivos às usinas termelétricas a carvão até 2040. Não há justificativa técnica, econômica, social ou ambiental para manter os subsídios. O carvão

Leia Mais »