+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Relatório da REDESCA reforça a urgência de um plano estadual de transição energética no RS

O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) realizou nesta quarta-feira uma audiência pública para debater os impactos da crise climática sob a ótica dos direitos humanos, com foco especial nas enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024.

O evento, transmitido ao vivo pelo canal do CNDH no YouTube, teve como destaque a apresentação do relatório da Relatoria Especial sobre Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (REDESCA), da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

A audiência reuniu representantes da sociedade civil, autoridades públicas, especialistas e o próprio relator da REDESCA, Javier Palummo Lantes. O objetivo foi ampliar o diálogo democrático sobre os desafios enfrentados durante a tragédia climática e discutir estratégias para a implementação das 24 recomendações apresentadas no relatório.

Impactos desiguais e falhas estruturais

O documento da REDESCA destaca que as inundações afetaram de forma desproporcional grupos historicamente vulnerabilizados — como povos indígenas, quilombolas, mulheres, crianças, pessoas com deficiência, idosos e migrantes — em razão de desigualdades estruturais e da ausência de políticas eficazes de mitigação e adaptação climática.

A relatoria identificou falhas graves na resposta emergencial, como o acesso precário a abrigos, saúde e educação. Também foram apontadas vulnerabilidades ambientais agravadas pelo desmatamento, avanço do agronegócio e substituição de ecossistemas. A degradação acumulada resultou em deslizamentos, erosão, poluição e na falência de diques mal conservados.

Participação da sociedade civil

Jonn Wurdig, gerente de Transição Energética da organização, e também atingido pelas enchentes, participou ativamente da missão da REDESCA. Durante a audiência ele parabenizou as recomendações apresentadas, celebrando também algumas contribuições da ARAYARA que foram incorporadas no documento.

“Cada enchente ou deslizamento representa perdas humanas e materiais que poderiam ser evitadas com um sistema robusto de monitoramento ambiental, alertas eficientes da defesa civil e ações educativas em comunidades de risco”, afirmou.

Wurdig também destacou estudos da ARAYARA que apontam a responsabilidade das indústrias de carvão, petróleo e gás na intensificação da crise climática, especialmente no contexto gaúcho. “O Rio Grande do Sul concentra 90% das reservas de carvão mineral do Brasil, e a cidade de Candiota detém 40% dessas reservas. A Usina Termelétrica Candiota III, sozinha, já emitiu 21,5 milhões de toneladas de CO₂ equivalente (tCO₂e)”, completou.

Principais recomendações

Entre as 25  recomendações do relatório da REDESCA, a ARAYARA teve contribuição em algumas, das quais destacam-se:

-A ratificação do Acordo de Escazú, essencial para ampliar a participação social, garantir o acesso à informação ambiental e fortalecer mecanismos de prevenção e reparação de danos. O tratado ainda aguarda votação na Câmara dos Deputados.

 

-A promoção de uma transição energética justa, com descomissionamento de termelétricas a carvão, como a Candiota III.

 

-A titulação de territórios indígenas e quilombolas, com incentivo à agroecologia como alternativa sustentável e inclusiva.

 

Outras diretrizes incluem o fortalecimento da governança ambiental, restauração ecológica, inclusão de catadores e pescadores em políticas públicas, melhoria da infraestrutura resiliente, e apoio psicossocial às populações atingidas.

Caminhos para o futuro

A REDESCA reconheceu os esforços emergenciais adotados pelo governo brasileiro, mas reforçou a urgência de uma abordagem intersetorial e preventiva, com foco na justiça socioambiental. A participação ativa das comunidades afetadas, o combate à desinformação climática e a valorização dos saberes tradicionais foram destacados como elementos fundamentais para a construção de políticas públicas eficazes e inclusivas.

A Relatoria também manifestou disposição para acompanhar e oferecer apoio técnico ao Brasil na implementação das medidas recomendadas, com foco na proteção e promoção dos Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DESCA).

No encerramento do evento, foi reforçada a urgência de um plano estadual de transição energética no Rio Grande do Sul, com participação popular e foco no fim do uso do carvão, em sintonia com o Programa ProClima 2050 do governo estadual.

 

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: STJ:audiência pública discute fracking e impactos ambientais na exploração de gás de xisto

Por Gabriela da Cunha Rio, 8/12/2025 – O Superior Tribunal de Justiça (STJ) analisará nesta quinta-feira, 11, a possibilidade de uso do fraturamento hidráulico (fracking) na exploração de óleo e gás de xisto, durante audiência pública convocada pela Primeira Seção sob relatoria do ministro Afrânio Vilela. No primeiro bloco, apresentarão argumentos o Ministério Público Federal, a Agência Nacional do Petróleo,

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: After COP30, Brazilian oil continues its rush towards the global market

A decision to drill at the mouth of the Amazon drew criticism at the UN summit. But Brazil’s oil production still soars, as it hopes to consolidate its role as an exporter decision to approve oil exploration off the coast of Brazil weeks before the country hosted the COP30 climate conference signals the country’s intention to increasingly target the international market, despite

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Brasil escolhe trilhar o mapa do caminho do carvão mineral

Enquanto defende no plano internacional a transição para longe dos combustíveis, o Brasil segue aprovando medidas que dão sobrevida à indústria do carvão mineral Segunda-feira, 24 de novembro, primeiro dia útil após o fim da COP30, a conferência do clima das Nações Unidas. Dois dias depois de lançar ao mundo o mapa do caminho para longe dos combustíveis fósseis, o Brasil sancionou a Medida

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Leilão expõe contradição da política energética e afasta Petrobras da transição justa

Oferta de áreas do pré-sal pela PPSA ignora tendência global de queda do petróleo e compromete estratégia climática brasileira O Primeiro Leilão de Áreas Não Contratadas do pré-sal representa mais um passo na contramão da transição energética que o Brasil afirma liderar, ampliando a entrega de recursos estratégicos a empresas privadas nacionais e estrangeiras. Enquanto o mundo se prepara para

Leia Mais »