+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Primeiro leilão de energia do jabuti da Eletrobrás é esvaziado na região Nordeste, mas Amazônia sofre grande ameaça

Dos 2GW ofertados, apenas 752,9 MW foram vendidos; contratos se concentraram no Norte do país

 

Como programado, o primeiro leilão de energia do “jabuti” inserido na privatização da Eletrobras (Lei 14.182/2022) aconteceu hoje (30/09). Foram ofertados 2 GW dos 8 GW previstos pela Medida Provisória (MP), mas apenas 752,9 MW foram vendidos: Azulão II (295 MW) e IV (295 MW), pela Eneva, e Manaus I (162,9 MW), pela GPE – Global Participações. Todas termelétricas localizadas no estado do Amazonas. Apesar do intenso lobby para as ofertas do Nordeste – Maranhão e Piauí – nenhuma usina foi negociada na área. Ao todo, foram 37 projetos cadastrados.

 

A projeção inicial era de contratação de 1GW no Amazonas, para início de abastecimento em dezembro de 2026, e 700MW no Piauí e 300 MW no Maranhão, para início em 2027. O resultado é parcialmente comemorado pela Coalizão Gás e Energia, grupo formado por organizações brasileiras da sociedade civil, porém o diretor técnico do Instituto Internacional Arayara e do OPG Observatório do Petróleo e Gás, Juliano Bueno de Araújo, reforça a necessidade da transição energética justa: “as três termelétricas ganhadoras do certame irão ampliar os impactos de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e promover a geração de uma energia cara e suja para os consumidores”. Segundo Araújo, caso fosse energia eólica e solar, teria custos até três vezes menores, com zero emissões.

 

As termelétricas a gás são grandes fontes de poluentes atmosféricos, utilizam grandes volumes de água em seu resfriamento e têm altos custos – custos ampliados por estarem sendo compradas em locais onde não existem gasodutos construídos para abastecê-las favorecendo, assim, empresas que pretendem construir tais estruturas. Como mostra o Mapa de Infraestrutura de Gasodutos de Transporte, Distribuição e Escoamento existentes, elaborado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a única tubulação existente na região Norte está no Amazonas. Já no Nordeste, existe uma maior estrutura no litoral, de Fortaleza à Bahia, mas ela não chega ao Piauí, nem ao Maranhão. 

 

Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), afirma que “é importante lembrar que o leilão foi determinado pelo Congresso Federal e faltou alinhamento com o planejamento do setor elétrico. Por conta da baixa demanda de eletricidade, os demais leilões previstos para este semestre foram cancelados. O resultado deste leilão confirma a tendência de baixa: a contratação de um volume de energia de pouco mais de um terço do que se previa contratar”, comentou. Já Cássio Carvalho, assessor político do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), aponta que é preciso fazer um debate amplo no país sobre a expansão dos combustíveis fósseis, no qual o gás natural está inserido. “Além dos altos valores de subsídios destinados pelo poder público, a intenção de ampliar a oferta de eletricidade por meio de termelétricas a gás natural, é dar um passo atrás em uma política que vise uma transição energética com justiça social”, destaca. 

 

O coordenador do Programa de Energia e Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Anton Schwyter, declara que “o resultado desse leilão reflete o descasamento entre as decisões do Legislativo e o planejamento de um sistema complexo como o do setor elétrico brasileiro. A obrigatoriedade da instalação dessas usinas não seguiu racionalidade econômica e técnica.  Essa forma equivocada leva a prejuízos em todos aspectos: técnicos,  de custos e os ambientais.” completa.

 

A Coalizão Gás e Energia segue com a Ação Civil Pública (ACP) pedindo o cancelamento da contratação de 8 GW produzido por térmicas. “Há ainda o componente legal”, explica Araújo, “a Lei nº 14.182/22 possui inúmeras inconstitucionalidades, tanto formais como materiais, no tocante à obrigação de contratação das térmicas que foram adquiridas neste leilão. E isso é contestado pela nossa ACP”. 

 

Sobre a Coalizão

A Coalizão Gás e Energia é um grupo brasileiro de organizações da sociedade civil comprometido com a defesa de uma transição energética socialmente justa e ambientalmente sustentável no Brasil. Ela tem como objetivo excluir o uso do gás como fonte na matriz energética até 2050. Fazem parte as organizações: ClimaInfo, Instituto Internacional Arayara, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) e Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). 

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA debate com governo brasileiro e entrega estudo Candiota 2050 no Chile

O quarto dia da missão ao Chile foi marcado por encontros estratégicos da ARAYARA com representantes do Ministério de Minas e Energia (MME) e organizações da sociedade civil. O diálogo evidenciou o contraste entre o discurso do governo brasileiro e a ausência de ações concretas para o phase-out do carvão. Durante a Semana da Transição Energética Justa, a equipe da

Leia Mais »

ARAYARA reforça alianças latino-americanas por salvaguardas socioambientais

No dia 1º de outubro, a ARAYARA participou do evento “Salvaguardas para una Transición Energética Justa en Chile y Colombia”, promovido pela Alianza Potencia Energética. O encontro reuniu representantes de organizações da América Latina, como Emerger, Transforma, RedPE e Ecosur, em um diálogo sobre os princípios fundamentais de uma transição que coloque a vida no centro. Os debates ressaltaram a

Leia Mais »

ARAYARA cobra compromisso do Brasil com o fim do carvão durante Semana da Energia no Chile

Na Semana da Energia, realizada em Santiago, a ARAYARA marcou presença com uma intervenção direta no debate público sobre o futuro do carvão na América Latina. Durante a coletiva de imprensa de abertura, o gerente de Transição Energética da organização, John Wurdig, questionou o ministro de Energia do Chile, Diego Pardow, sobre os desafios do fechamento das usinas a carvão

Leia Mais »

Juventudes energéticas constroem pontes para a transição justa na América Latina

Entre os dias 29 de setembro e 8 de outubro, o Instituto Internacional ARAYARA deu início à Missão Transição Energética Justa e Sustentável Chile-Brasil, uma agenda estratégica de cooperação latino-americana. O primeiro dia foi marcado pela participação no I Encuentro de Juventudes de América Latina y el Caribe en Energía, em Santiago, reunindo lideranças jovens, pesquisadores e organizações que constroem

Leia Mais »