+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

PCS: Mais uma batalha que o consumidor perde e o empreendedor sai vencedor

Nos deparamos com a busca por uma solução consensual para usinas que não seguiram as regras do leilão e não pagaram as devidas penalidades por atraso aos consumidores

Por decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), deliberada no mês de junho, no dia 07, houve a aprovação de um acordo consensual que permite a manutenção dos contratos das usinas da Karpowership (KPS) contratadas por meio do Procedimento Competitivo Simplificado (PCS), porém com redução da inflexibilidade, mesmo que estas usinas não tenham seguido as regras do leilão.

As quatro usinas da KPS foram contratadas emergencialmente em um momento de crise hídrica onde não se vislumbrava melhoras nas afluências futuras, com diretrizes e regras diferentes da contratação usual das usinas que compõem o atual parque gerador brasileiro. O PCS foi um processo excepcional, atípico e com condições extremamente duras e restritivas, visto que as térmicas precisavam entrar em operação em um curto espaço de tempo, e essa especificidade foi valorada na alta Receita Fixa negociada.

A chuva chegou e permaneceu. Com isso, a condição energética do país melhorou bastante e fez com que não houvesse mais dependência da geração térmica dessas usinas e das demais contratadas. No entanto, como o contrato tem que ser cumprido, as usinas que conseguiram entrar em operação comercial seguem gerando.

No caso das usinas da KPS, elas entraram em operação comercial fora do prazo definido no edital do leilão e acordado em contrato, cerca de cinco meses depois do início de suprimento algumas unidades geradoras começaram a ficar disponíveis para o sistema, com a motorização final apenas no final de 2022. Caso realmente precisássemos dessa energia, o consumidor ficaria à mercê.

A razão dessas usinas estarem gerando é o simples motivo de que a Aneel não julgou os processos de excludente de responsabilidade, que estão parados na agência desde outubro de 2022, quando houve a publicação de uma Nota Técnica concluindo pelo indeferindo de tais pedidos, por se tratar de riscos do empreendedor. O que foi consumado pela publicação do Parecer da Procuradoria Federal da Aneel, no qual não restam dúvidas de que tais pedidos não devem prosperar.

Agora, nos deparamos com a busca por uma solução consensual para usinas que não seguiram as regras do Leilão e não pagaram as devidas penalidades por atraso aos consumidores. Ou seja, mais uma vez o empreendedor saiu vencedor dessa batalha, na qual o consumidor terá que arcar com custos bilionários para sustentar a decisão emitida pelo TCU.

Dos números, a KPS está recebendo uma receita fixa mensal para operar cerca de R$ 255 milhões por mês. Até o momento, ela já recebeu aproximadamente R$ 1,5 bilhões. Com sua operação até o final de 2023, teríamos um custo de R$ 1,53 bilhões. Porém, com a decisão do TCU, devido à redução de inflexibilidade, o consumidor ainda teria que arcar com vultosos R$ 960 milhões para pagar por térmicas que não cumpriram o contrato. Caso sejam mantidos os contratos, os consumidores ainda terão que pagar mais R$ 7,5 bilhões até 2025.

A conta não fecha, e não há razão para que o consumidor fique feliz com essa decisão. Os custos bilionários continuarão.

A decisão foi muito comemorada pelos ministros em seus discursos, porém, analisando os números de perto e sabendo da situação desses empreendimentos, não haveria que se falar em solução conciliatória, e sim que os contratos fossem cumpridos e rescindidos.

O consumidor não quer soluções mitigadoras de problemas que não existem. É necessário pensar no todo, fazer com que os contratos sejam cumpridos e, com isso, contribuir para que a estabilidade jurídica e regulatória do Setor Elétrico Brasileiro (SEB) seja preservada e para que custos indevidos não recaiam sobre aqueles que têm menos poder nesse processo.

 

Por Jéssica Guimarães – Publicado originalmente em 10/07/2023 na Coluna de Opinião do Energia Hoje

Jéssica Guimarães é formada em Engenharia de Energia pela UNB e atua como Analista de Energia na Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace)

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Técnicos do Ibama rejeitam licença de exploração de petróleo na Foz do Amazonas, mas presidente do órgão mantém discussão

Em uma decisão que reflete o impasse entre as áreas técnica e administrativa, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) analisou a concessão de licença para exploração de petróleo pela Petrobras no bloco 59 da Bacia da Foz do Amazonas A nota técnica, assinada por 26 técnicos do órgão, recomendou o arquivamento do pedido da

Leia Mais »

Biodiversidade em perigo: aquecimento dos oceanos e branqueamento dos corais

Entrevistada pelo Instituto Internacional Arayara, a bióloga responsável Biofábrica de Corais, Maria Gabriela Moreno Ávila, explica fenômeno que ameaça a vida marinha na costa brasileira A Conferência das Partes (COP) da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB) ocorre a cada dois anos, constituindo o principal fórum internacional para promover a cooperação em prol da conservação e do uso

Leia Mais »

A duas semanas da COP29, o alerta: emissões máximas, esforços mínimos

A liberação de gases de efeito estufa nunca foi tão alta. Ao mesmo tempo, avaliação das contribuições nacionais para contê-los aponta uma redução de apenas 2,6% até 2026, colocando a meta principal do Acordo de Paris em risco   A duas semanas da Conferência do Clima de Baku, no Azerbaijão (COP29), que começa em 11 de novembro, dois documentos da

Leia Mais »

COP16: Brasil apoia frente parlamentar em defesa de um futuro livre dos combustíveis fósseis

Na manhã desta sexta-feira (25), o Instituto Internacional Arayara uniu-se a uma coalizão de parlamentares latino-americanos para conter a expansão da exploração de petróleo na Amazônia, durante a primeira audiência pública da Frente Parlamentar Global pelo Futuro Livre de Combustíveis Fósseis. O evento faz parte da programação da COP16, que acontece até o dia 1º de novembro em Cali, na

Leia Mais »