O Brasil, ao sediar a COP 30, tem uma oportunidade única de impulsionar a transformação em direção a uma transição energética justa e a um futuro sustentável para todos
JULIANO BUENO DE ARAÚJO — Doutor em urgências e emergências ambientais e diretor técnico do Instituto Internacional ARAYARA
À medida que as evidências científicas sobre a gravidade das mudanças climáticas se acumulam, vemos que as decisões políticas e econômicas ainda seguem na direção oposta ao que é necessário para evitar um colapso ambiental. Um exemplo emblemático desse retrocesso foi a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris durante a posse do presidente Donald Trump, além da revogação de políticas que protegiam ecossistemas sensíveis, como o Ártico, da exploração de petróleo.
Os números sobre as mudanças climáticas falam por si. Em 2023, as concentrações de gases de efeito estufa atingiram níveis recordes, e os oceanos registraram temperaturas acima da média por 13 meses consecutivos. Segundo a Organização Meteorológica Mundial, se as políticas atuais forem mantidas, estamos caminhando para um aumento de 3,1°C na temperatura global até o final do século, muito acima do limite de 1,5°C estipulado pelo Acordo de Paris. Esse aumento de temperatura pode ser devastador: em um cenário de 3°C, perderíamos entre 70% e 90% dos corais globalmente, e eventos climáticos extremos, como secas severas e enchentes, se intensificariam ainda mais.
No Brasil, os desastres climáticos já são uma realidade palpável. Dados da Associação de Pesquisa Iyaleta apontam que a seca e as chuvas intensas lideram os decretos de emergência no país, representando, respectivamente, 40,6% e 27,6% dos eventos. O sul do Brasil, por exemplo, sofreu com chuvas extremas em 2024, resultando em perdas humanas e materiais significativas. Esses desastres, exacerbados pela exploração de carvão mineral e pela falta de governança climática integrada, mostram que os desafios climáticos não estão mais no futuro: eles são, já, o nosso presente. Nesse contexto desafiador, a atuação de organizações, como o Instituto Internacional Arayara, torna-se ainda mais crucial para enfrentarmos a crise climática global com urgência e responsabilidade.
As projeções indicam que as emissões globais de combustíveis fósseis alcançarão 51,5 gigatoneladas de CO2 equivalente até 2030, sem contar as emissões do desmatamento e das atividades agropecuárias. Embora haja atualizações nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) de países como o Brasil durante a COP 29, no Azerbaijão, os avanços ainda são insuficientes. Sem ações mais ambiciosas, acompanhadas pela abertura de novas fronteiras para o petróleo e gás em áreas sensíveis, enfrentaremos impactos climáticos crescentes, ameaçando vidas, ecossistemas e, especialmente, as populações do Sul Global.
É fundamental que a adaptação e a justiça climática se tornem prioridades globais e locais. O Brasil, ao sediar a COP 30, tem uma oportunidade única de impulsionar a transformação em direção a uma transição energética justa e a um futuro sustentável para todos. Embora a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris tenha sido um golpe, é crucial que este ano se torne um marco para o avanço real em nossas políticas climáticas. A luta contra o colapso climático é urgente e exige ação imediata.
O Instituto Internacional ARAYARA tem se destacado no protagonismo da litigância climática. Em julho deste ano, movemos uma ação civil pública inédita no Brasil contra o Governo do Rio Grande do Sul, exigindo uma transição energética justa. Além disso, desenvolvemos estudos críticos para o 4º Ciclo de Oferta Permanente, que resultaram na suspensão da assinatura de blocos de exploração de petróleo na Amazônia em 2023. Outras iniciativas, como as campanhas No Fracking Brasil, Observatório do Petróleo e Gás, Amazônia Livre de Petróleo e Monitor Oceano, fazem parte dos nossos esforços para combater os danos irreversíveis que a exploração de combustíveis fósseis pode causar ao nosso planeta.
O futuro do planeta depende das escolhas que fazemos hoje.
Foto: Termômetro marca 42ºC em São Paulo: calor extremo continua – (crédito: AFP)
Fonte: Correio Braziliense