Decisões políticas por novas termoelétricas e blocos de exploração aumentam o desmatamento, crise hídrica e põe em risco os remanescentes da floresta
Hoje é o dia Nacional da Mata Atlântica (27 de maio), originada há cerca de 70 milhões de anos, a segunda maior floresta tropical do continente americano, que chegou a ocupar 92% da costa brasileira, leste do Paraguai e nordeste da Argentina. Hoje, seus remanescentes respiram por aparelho e são, cada vez mais, ameaçados por projetos de termoelétricas no litoral brasileiro.
De acordo com novas investidas do governo, os projetos de termoelétricas devem seguir nos próximos anos. Acordado como condição para a privatização da Eletrobrás está a contratação de energia provinda de usinas térmicas e nucleares, o que deve elevar a conta de luz pelos próximos anos. Mas não só a população paga essa conta, a Mata Atlântica também é prejudicada.
Nas últimas décadas vemos exemplos claros desses conflitos, como o processo de licenciamento ambiental do Projeto Mexilhão da Petrobrás, no litoral norte de São Paulo, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), ambos instalados em áreas do bioma. Apesar de, no Brasil, grande parte da exploração e produção de petróleo e gás serem feitas em alto mar, é na costa litorânea que ficam as atividades de tratamento e transporte. É aí que o desmatamento acontece.
Com a descoberta e exploração das reservas do pré-sal, a Mata Atlântica, em especial, tem sido ameaçada pela expansão da infraestrutura petrolífera. Considerado um setor estratégico para o país, o setor de petróleo e gás passa por cima das políticas de conservação. É o que ocorre com a concessão histórica da UTE Rio de Janeiro, na Baía de Sepetiba, que está habilitada a desmatar mais de 7 hectares de Mata Atlântica em estágio avançado de regeneração, sem a necessidade de um estudo de impacto ambiental.
Dentro das concessões públicas, o setor energético, em especial o de petróleo e gás, é o que leva a maior fatia. Logo, grandes interesses, não só de corporações, mas do governo, passam em cima de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e em Unidades de Conservação (UCs) de proteção integral, dispostas na lei. O que tais interesses não contam, porém, é que ao aumentar o desmatamento, diminuem-se as chuvas, e o desequilíbrio ambiental que culmina em uma crise hídrica, alimentar, social e climática.
Os danos à Mata Atlântica também se estendem à extinção da biota. Estima-se que 60% dos animais em risco de extinção no Brasil dependam da Mata Atlântica para sobreviverem.
O dia nacional da Mata Atlântica foi escolhido em 27 de maio em homenagem à famosa “Carta de São Vicente”, escrita pelo Padre Anchieta, em 1560, na qual ele destacou as belezas das florestas tropicais do país. O Instituto Internacional Arayara busca ressoar essa beleza secular, preservando o bosque Gutierrez, que contém o memorial Chico Mendes, onde fica a sede da organização. O bosque é um dos espaços de preservação da Mata Atlântica em meio urbano na cidade de Curitiba.