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ARAYARA na Mídia: Termelétrica: Adasa liberou outorga com base em estudo de 13 anos atrás

Plano de 2012 teve estudo revalidado em 2019, mas especialistas alertam pelo distanciamento que não analisou escassez hídrica do ano passado

 

A liberação das duas outorgas da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) para captar e devolver água do Rio Melchior pela Termelétrica de Brasília teve como base um estudo feito há 13 anos pela instituição. Especialistas criticam os dados que não consideram os períodos recentes de seca que chegaram a atingir 163 dias sem chuva em 2024.

Plano de Gerenciamento Integrado de Recursos Hídricos foi elaborado em 2012 e contabilizou a vazão média das mínimas mensais medidas na época. Pelos dados, o rio inteiro teria uma vazão de 2.447,71 litros por segundo em março daquele ano – o mês mais cheio -, e uma vazão de 826.20 litros por segundo em agosto – o mês mais escasso pelo levantamento.

A usina termelétrica pediu para retirar 30 litros por segundo de operação considerando que vai operar 24 horas por dia, o que corresponde a 2,64 milhões de litros por dia retirados do Rio Melchior para a operação, segundo os próprios dados de captação autorizados pela Adasa.

A agência admitiu que a vazão real de escoamento é altamente variável e por isso são usados dados de vários anos para elaborar uma vazão de de referência. Em 2012, os cálculos foram aprimorados e atualizados no plano de gerenciamento, que segue sendo o plano de referência.

Veja documento:

 

Segundo a Adasa, em 2019, o Plano de Recursos Hídricos da Bacia dos Afluentes do Rio Paranaíba no Distrito Federal foi feito e confirmou os dados de adequação das vazões para o Rio Melchior elaborado nos anos anteriores. O PRH Paranaíba DF avaliou 65% da área do Distrito Federal.

Esses são os dados mais recentes que a Adasa tinha para poder autorizar a captação de água do Rio Melchior. Em outra outorga, a agência libera a devolução de efluentes para a unidade hidrográfica. Isso é, a usina vai captar a água e usar para gerar energia, depois devolve uma parte para o rio.


Entenda a usina:

  • A usina de Samambaia prevê gerar sozinha 1.470 megawatts
  • Essa energia entraria para o Sistema Interligado Nacional (SIN) para abastecer o país, e significaria a mudança da matriz energética do Distrito Federal que tem, atualmente, como sua principal fonte de energia o abastecimento por hidrelétricas – Furnas e Itaipu, consideradas energias renováveis.
  • A usina terá três turbinas a gás, três caldeiras de recuperação e uma turbina a vapor
  • A energia gerada ligará a usina à subestação de Samambaia por uma linha de transmissão de 6,29 quilômetros.
  • Uma adutora ligada à usina pretende captar um volume de 110m³/h de água no rio Melchior, que estará a apenas 500 metros da margem
  • Após usar a água, a usina pretende devolver 104 m³/h ao rio.
  • Como o DF não tem gás natural, projeto prevê a construção de um gasoduto de São Carlos (SP) para Samambaia
  • Esse modelo seria implantado e ficaria sob responsabilidade da Transportadora de Gás Brasil Central (TGBC), que pertence ao mesmo sócio da empresa responsável pela usina: Carlos Suarez, também conhecido como Rei do Gás.

O fato de a agência ter usado dados de 2012 como base foram questionados pelo Instituto Arayara, que tem sido ativista contra a termelétrica.

“A gente rebate que esses dados são muito questionáveis principalmente em relação a uma volta a crise hídrica de 2024. Será que teria água para essa térmica com a crise? Qual foi a vazão do rio em 2024?” destaca o gerente de transição energética da Arayara, engenheiro ambiental John Wurdig.

“Precisava calibrar com os dados da crise hídrica recente”, alegou.

 

A outorga não apresenta um número para essa devolução, mas o projeto apresentado pela termelétrica prevê repassar 2,4 milhões de litros por dia. A água que é devolvida sai em uma temperatura superior ao que foi retirada.

DF na contramão do mundo

O professor Rafael Amaral Shayani de Engenharia e Mudanças Climáticas da Universidade de Brasília estima que a temperatura seja equivalente a de 650 chuveiros elétricos ligados ao mesmo tempo, considerando que a usina produza 1470 megawatts de eletricidade.

 

 

Apesar dos riscos para o rio, o professor defende que esse nem é o principal problema. “Queimando o gás natural para gerar eletricidade, você vai emitir gás de efeito estufa, isso vai aumentar o aquecimento global no mundo todo, inclusive aqui no Distrito Federal”, alerta o professor.

“O mundo todo está trabalhando por uma transição energética que é para caminhar para a geração de energia a partir de fontes renováveis de energia, por exemplo, energia solar e energia eólica. As mudanças climáticas, elas estão impactando o mundo cada vez mais. E aqui em Brasília a gente já consegue ver as ondas de calor que estão ficando cada vez mais frequente”, completou.

Para ele, o ideal seria o investimento em energia solar que é a “vocação” do DF para geração de energia.

Segundo os dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Distrito Federal tem 26.710 sistemas de energia solar fotovoltaica em telhados, que geram 482,6 MW. “A termelétrica a ser instalada é de 1470 MW. Se o Governo estimular a energia solar, em pouco tempo poderá superar a potência da usinar termelétrica”, completou o especialista da UnB.

Audiência pública

Por ser uma obra de impacto ambiental é necessário ter licenciamento para a instalação da usina. A UTE Brasília deverá abastecer o Sistema Interligado Nacional (SIN) fornecendo energia para o país e por isso a sua construção se dá em escala federal.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) suspendeu a audiência pública que debateria sobre o assunto após decisão judicial. Ainda não há uma nova data para acontecer.

Matéria originalmente publidada por Jade Abreu ao Metrópoles em 07/04/2025.

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