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ARAYARA na Mídia: Lobby compromete negociações sobre fim dos combustíveis fósseis

Posições nacionais contrárias ao mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis têm forte atuação de lobistas, avaliam especialistas.

Uma questão se arrasta desde conferências do clima anteriores à COP30: a presença massiva de lobistas da indústria dos combustíveis fósseis. Belém recebeu mais de 1.600 deles, mostrou uma uma análise da coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO), um número maior que todas as delegações nacionais – à exceção do Brasil.

Com tantos lobistas do petróleo e do gás — como Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP), que tem a Petrobras e outras petrolíferas entre suas associadas —, a COP foi dos fósseis e não da floresta. A avaliação é de Nicole Oliveira, diretora executiva do Instituto Internacional Arayara, no Valor.

“O lobby é um dos principais elementos por trás da falta de resultados concretos na COP”, afirma Ilan Zugman, diretor para a América Latina da 350.org, organização que integra a KBPO. “Ele se manifesta em vários níveis, desde a Zona Azul — onde ocorrem as negociações oficiais — até side events, jantares e patrocínios.”

Segundo o levantamento da KBPO, 599 lobistas da indústria fóssil ingressaram no evento com crachás de delegações oficiais. Destaques para a França, que levou 22 representantes, sendo cinco da TotalEnergies; Japão, com 33 lobistas; e Noruega, com 17, incluindo seis da Equinor.

Petroestados, como a Arábia Saudita, foram os responsáveis pela exclusão do mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis em momentos decisivos. Para especialistas, esses bloqueios nacionais tinham por trás a forte atuação de lobistas.

A Saudi Aramco, por exemplo, estava representando o governo saudita em Belém. Enquanto isso, os cientistas, que deveriam estar no centro das negociações, tiveram seu primeiro pavilhão em uma conferência do clima da ONU. Mas, no fim, não foram ouvidos.

“A presença de vozes científicas nas COPs tem crescido, e a COP30 deu aos cientistas mais visibilidade do que em conferências anteriores. Mas precisamos cada vez mais de cientistas nas mesas de negociação e nas salas de tomada de decisão, e não apenas como consultores externos”, alerta Rob McDonald, cientista-chefe para soluções baseadas na natureza da ONG The Nature Conservancy (TNC) no Valor.

O ano de 2024 registrou recorde de emissões oriundas dos combustíveis fósseis, segundo dados do Global Carbon Project — enquanto precisamos reduzir as emissões em 43% até 2030 para conter a crise climática. E o que também continua batendo recorde são os subsídios globais aos combustíveis fósseis, informa o Valor.

De acordo com levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI), foram US$ 7 trilhões (R$ 37 trilhões) em 2022 — o ano mais recente analisado pela instituição. Em 2020, eram US$ 2 trilhões.

Os subsídios, na visão de Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, sobrevivem por inércia política. “Uma vez criados, setores inteiros passam a depender deles e resistem a qualquer mudança. No consumo, cortar significa aumento na bomba de gasolina ou na conta de luz, o que gera protestos. Na produção, o lobby das petroleiras os defende em nome da segurança energética e da competitividade. Mas a verdade é simples: manter esses subsídios é sustentar o atraso da transição e a aceleração dos impactos climáticos.”

A contínua exploração de petróleo, gás e carvão também gera insegurança em territórios originários. Um estudo da Aliança Global de Comunidades Territoriais (GATC) com organizações parceiras, entre elas a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), detalha a situação na Amazônia.

Cerca de 250 milhões de hectares, ou 30% de toda a bacia, são ocupados por Povos Tradicionais, detalha o Valor. Destes, 31 milhões de hectares (12%) estão sobrepostos a blocos de exploração de petróleo e gás. A pressão segue com 9,8 milhões de hectares sobrepostos por concessões de mineração e 2,4 milhões de hectares por concessões de exploração madeireira.

Em tempo 1: A COP30 cumpriu a promessa de ter a maior participação indígena da história das conferências — ainda que não nas negociações, como reivindicavam as organizações. Mobilizados, os indígenas conseguiram que parte de seus pleitos fossem atendidos, como a homologação de quatro novas Terras Indígenas e a demarcação de outras dez. Para entidades e ativistas, apesar do saldo positivo, as ações ainda são insuficientes. O Valor detalha.

Em tempo 2: O Brasil tem registrado mais casos de litigância climática. São 341 casos até novembro, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo dados do Juma/PUC-Rio e do Sabin Center for Climate Change Law, da Columbia University. “A litigância cresceu nos últimos anos devido principalmente a retrocessos no governo anterior, e tornou-se uma agenda permanente, com a tendência de judicialização contra decisões normativas do Congresso”, explica Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima no Valor.

Em tempo 3: As condições climáticas mais adversas, como baixa qualidade do ar e altas temperaturas, têm feito jovens despertarem para o ativismo climático. São eles, munidos de idealismo e energia, que sentirão mais na pele os efeitos das mudanças climáticas. O Valor conta casos de ativistas no México, Índia e no Brasil.

Fonte: ClimaInfo

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