+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

ARAYARA na Mídia: Liderar a transição energética ou expandir o petróleo na Amazônia?

Pressão de Lula ignora ciência e compromete autonomia dos órgãos ambientais, minando a credibilidade do Brasil

A pressão pública do presidente Lula sobre um órgão técnico do Estado brasileiro para apressar a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas põe em xeque a credibilidade do Brasil como potência da diplomacia climática. O problema, no entanto, não se limita ao embate inadequado entre o Planalto e o Ibama.

Resistir ou sucumbir à indústria do petróleo é uma decisão com altos impactos ambientais, econômicos e políticos de longo prazo. O país anfitrião da COP 30 se apresenta como defensor da transição energética ao mesmo tempo em que as decisões oficiais priorizam os combustíveis fósseis, que aquecem o planeta. Não é possível acender as mesmas velas a Deus e ao diabo.

A foz do Amazonas abriga ecossistemas únicos, como o maior corredor de manguezais do mundo e o Grande Sistema de Recifes da Amazônia. Explorar petróleo nessa região abre o risco de vazamentos com impactos sobre espécies endêmicas e comunidades, além de agravar a crise climática e contradizer o Acordo de Paris.

No aspecto econômico, o Brasil assume a contramão. A despeito de um ou outro espasmo negacionista, as nações avançam para as energias renováveis, que oferecem retornos financeiros até sete vezes maiores do que os fósseis, segundo a Agência Internacional de Energia Renovável.

Enquanto isso, a Petrobras destina 72% de seus investimentos (US$ 102 bilhões em cinco anos) à exploração de petróleo e gás. A justificativa para entrar na contramão é que o petróleo financiará a transição energética, mas só 5,6% dos investimentos da Petrobras são destinados a projetos de baixo carbono, segundo estudos do Monitor Amazônia Livre de Petróleo/Arayara.

Não pode haver nada mais descolado do horizonte, pois a demanda global por petróleo deve começar a cair já na próxima década, tornando os novos poços possivelmente obsoletos antes de entrarem em operação.

A pressão de Lula sobre o Ibama gerou reações dentro e fora do país. A ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamad, classificou a exploração como “contradição total”, ressaltando que a Amazônia deve ser protegida. Há divisões no próprio governo: o Ministério do Meio Ambiente se opõe ao projeto, enquanto a pasta de Minas e Energia e a Petrobras pressionam pela aprovação.

Governadores e prefeitos também fazem lobby por royalties e empregos, apesar das evidências de que as promessas de desenvolvimento são ilusórias. Cidades como Campos e Macaé, no Rio de Janeiro, mesmo recebendo bilhões do petróleo, seguem com serviços públicos precários e alto índice de desigualdade.

Os impactos sociais sobre as comunidades amazônicas já são perceptíveis. Em Oiapoque, no Amapá, helicópteros da Petrobras têm afugentado a caça, essencial para povos indígenas, enquanto projetos de infraestrutura associados à exploração ameaçam territórios protegidos.

O Ibama já negou licenças à Petrobras devido a lacunas nos estudos de impacto ambiental, como análises das correntes marinhas e dos efeitos sobre terras indígenas. A pressão de Lula ignora a ciência e compromete a autonomia dos órgãos ambientais, minando a credibilidade do Brasil.

A questão central é clara. O Brasil precisa decidir se quer liderar a transição energética ou perpetuar a dependência dos combustíveis fósseis. O discurso oficial enfatiza a descarbonização, mas as ações do governo indicam o oposto. Abrir frentes petrolíferas na Amazônia desafia o bom senso ambiental e econômico e compromete o futuro do país. Insistir nesse caminho significa escolher o combustível do passado, às custas do clima, da biodiversidade e da reputação brasileira no cenário global.

Fonte: Jota

Foto: reprodução / Marcelo Camargo/Agência Brasil

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Leilão de petróleo perto de Noronha gera impasse entre ministérios

O Ministério de Minas e Energia (MME) rejeitou um pedido formal do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para excluir do próximo leilão de petróleo dezenas de blocos na bacia Potiguar, próximos ao arquipélago de Fernando de Noronha. O Grupo de Trabalho Interinstitucional de Atividades de Exploração e Produção de Óleo e Gás (GTPeg), vinculado ao MMA, enviou um parecer técnico

Leia Mais »

Carta aberta à UNFCCC e à presidência da COP 30

A Sua Excelência o Senhor Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva A Sua Excelência o Senhor Embaixador, Presidente da COP30, André Aranha Corrêa do Lago A Sua Excelência a Senhora Secretária Nacional de Mudança do Clima, CEO da COP30, Ana Toni A Sua Excelência o Senhor Secretário-Executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Debate sobre construção de usina termelétrica em Brasília mobiliza parlamentares

Audiência oficial foi adiada por decisão judicial, mas entidades e deputados organizam encontro para discutir impactos ambientais e sociais do projeto A possível construção da Usina Termelétrica Brasília (UTE) continua gerando debate e preocupação entre moradores e especialistas. A audiência oficial, que estava marcada para o dia 12 de março, foi adiada por determinação da 9ª Vara Federal Cível da

Leia Mais »