+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Instituto ARAYARA lança estudo inédito “Do Mar à Mesa: Como a pesquisa para a exploração de petróleo ameaça a vida”

Enquanto o senso comum atribui ao vazamento de óleo a parte problemática da exploração de petróleo no mar, estudo de especialistas do Instituto ARAYARA indica que as ameaças à vida marinha e de pescadores começam ainda na fase de estudos.

O Instituto Internacional ARAYARA lança, na terça-feira (02/09), durante audiência
pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, o estudo técnico inédito “Do Mar à Mesa:
Como a pesquisa para a exploração de petróleo ameaça a vida”. O relatório revela
como as pesquisas sísmicas para exploração de petróleo representam uma ameaça direta à
biodiversidade marinha, à economia pesqueira e à segurança alimentar no Brasil. O
documento alerta que, ao mesmo tempo em que o país se apresenta como anfitrião da COP
30 e tenta consolidar sua imagem de liderança global na agenda climática, segue investindo
bilhões de dólares na expansão das fronteiras da exploração fóssil em áreas altamente
sensíveis, como a Margem Equatorial (Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas e
Ceará) e a Bacia de Pelotas, no Sul.

Os chamados navios sísmicos utilizam canhões de ar comprimido, provocando explosões
acústicas de até 263 decibéis (equivalentes a erupções vulcânicas ou terremotos), capazes
de se propagar por até 300 mil km2. O objetivo da atividade sísmica é identificar se existe
petróleo ou gás abaixo do subsolo marinho em regiões profundas. A coordenadora de
Oceano e Águas do ARAYARA, Kerlem Carvalho, explica que os impactos da sísmica são
muitas vezes desconsiderados quando se fala na indústria fóssil. “O petróleo é muito
marcado pelo impacto do vazamento, mas os impactos existem antes mesmo de se
começar a produção. É uma cadeia de eventos com efeitos que muitas vezes não entram
na conta”, relata.

Impacto nos ecossistemas marinhos

O impacto dos ruídos afeta profundamente o equilíbrio dos ecossistemas marinhos,
atingindo cetáceos como baleias e golfinhos, tartarugas, plâncton e outras espécies
ameaçadas de extinção. O estudo aponta, por exemplo, que baleias-jubarte reduzem em
até 6% seus esforços de alimentação durante atividades sísmicas, enquanto golfinhos e
tartarugas evitam áreas inteiras de operação, demonstrando respostas de estresse e
evasão.

Ameaça à subsistência de pescadores e pescadoras

A atividade sísmica ameaça também toda a cadeia produtiva da pesca , impondo zonas de
exclusão de pesca de aproximadamente 10 km ao redor dos navios, restringindo o território
de pescadores tradicionais e afetando a autonomia das embarcações. Casos de
rompimento de redes, perda de equipamentos e falta de compensação justa têm sido
registrados, colocando em risco a subsistência de milhares de famílias.

Insegurança à economia brasileira

A balança comercial brasileira também é ameaçada: em 2024, o Ceará exportou quase 2
mil toneladas de lagosta, movimentando US$ 54,6 milhões, enquanto o Pará exportou 2,37
mil toneladas de pargo, gerando US$ 38 milhões. No Sul, as exportações de espadarte
somaram 872 toneladas e US$ 6,59 milhões, sendo essa atividade a mais afetada, com
cerca de 175 mil km2 (75%) das áreas de captura na Bacia de Pelotas sobrepostas às
operações sísmicas. Já a indústria da lagosta enfrenta sobreposição menor, com cerca de
20 mil km2 (40%) impactados. Mercados externos estratégicos podem ser comprometidos,
uma vez que essa categoria de pescados de alto valor agregado é altamente impactada
pela exploração sísmica na região.

Sobreposição de áreas e violação de direitos

O estudo ainda evidencia a fragilidade regulatória do licenciamento ambiental no Brasil. O
IBAMA permite a sobreposição de áreas para pesquisas sísmicas, gerando impactos
cumulativos. Além disso, empresas apresentam Estudos Ambientais de Sísmica com dados
defasados de até dez anos e sem consultas às comunidades locais, violando compromissos
internacionais como a Convenção 169 da OIT.
Segundo Juliano Bueno, diretor técnico e presidente do Instituto Internacional ARAYARA,
muitas informações sobre o setor estão fragmentadas em diversos locais ou têm acesso
restrito.

“O tema da sísmica não é novo, mas é a primeira vez que a sociedade brasileira
poderá acessar esses dados reunidos em um mesmo local. Isso é essencial para
entendermos que o impacto da indústria fóssil vem de vários setores, e todos
precisam entrar na conta de impactos climáticos e econômicos, seja na vida marinha
ou na de pescadores e pescadoras”, considera.

O estudo é inédito por integrar dados oficiais de exportações, registros de fauna
ameaçada, impactos em comunidades e processos de licenciamento, oferecendo um
retrato urgente dos riscos da exploração sísmica para o futuro dos oceanos e da
alimentação no país. O levantamento é fruto de um esforço multidisciplinar de
especialistas em geociências, direito ambiental, pesca e biodiversidade da ARAYARA,
baseado em dados de plataformas internacionais de rastreamento como a Global Fishing
Watch, SeaSketch e o ICMBio.

Sobre a organização:

O Instituto Internacional ARAYARA é uma organização da sociedade civil sem fins
lucrativos que atua há 30 anos e é considerada a maior ONG de litigância climática do da
América Latina. A organização nasceu no sul do Brasil e hoje tem atuação internacional
com o desenvolvimento de pesquisas, programas de educação ambiental, ativismo político
e advocacy, buscando garantir o uso eficiente de recursos, o direito à terra, a justiça
climática e a participação cidadã na transformação social.

Serviço:
Lançamento do estudo inédito “Do Mar à Mesa: Como a pesquisa para a exploração
de petróleo ameaça a vida”
Data: Terça-feira, 02/09
Hora: 14h30
Local: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural –
Plenário 6 da Câmara Federal

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Transição energética justa: protagonismo das comunidades marca painel na 10ª Semana da Energia OLADE

Seguindo a programação da Missão “Transição Energética Justa e Sustentável Chile-Brasil ARAYARA 2025”, o gerente de Transição Energética, John Wurdig, e o analista técnico e climático Joubert Marques, participaram do painel “Desafíos socioterritoriales de la transición en ALC”, realizado durante a 10ª Semana da Energia da OLADE, em Santiago.   O debate colocou em evidência um ponto central: a transição

Leia Mais »

Às vésperas da COP30, prazo para entrega de metas climáticas chega ao fim com metade da adesão registrada há quatro anos

Painel da ONU mostra que 56 nações submeteram as NDCs até o fim de setembro, enquanto, em 2021, a cerca de 40 dias da conferência, a lista era composta por 113 Às vésperas do início da COP30, o prazo para que os países signatários do Acordo de Paris entreguem suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) foi encerrado nesta terça-feira com metade

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Bancos europeos y la expansión petrolera en Latinoamérica

La transición energética parece lejana en América Latina, que sigue apostando a las energías fósiles, revela un nuevo estudio. El costo es ambiental y social, y profundiza el endeudamiento de la región. América Latina y el Caribe están viviendo una acelerada expansión de proyectos petroleros y de gas, impulsada tanto por empresas internacionales como por gigantes estatales como  Petróleos Mexicanos, Pemex, en México, y Petróleo Brasileiro

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Relatório revela bilhões de dólares em petróleo e gás e alerta que a Amazônia pode perder sua batalha climática

Relatório internacional revela impacto direto de bancos globais e amplia alerta sobre ponto de não retorno do bioma Primeiramente, um relatório divulgado em 29 de setembro de 2024 expôs o financiamento bilionário de combustíveis fósseis na América Latina e Caribe. Além disso, a publicação “The Money Trail Behind Fossil Fuel Expansion in Latin America and the Caribbean” reuniu organizações da

Leia Mais »