+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Juventude debate transição energética justa e impactos do carvão no LCOY Brasília

No último sábado (16), o Instituto Internacional ARAYARA participou do Local Conference of Youth (LCOY), evento organizado pelos coletivos Jovens Pelo Clima Brasília e ONG A Vida no Cerrado, que reuniu jovens de diferentes regiões para discutir ações climáticas e justiça socioambiental.

A LCOY, etapa preparatória da Conferência Global da Juventude (COY), busca dar visibilidade a perspectivas plurais e horizontais sobre mudanças climáticas, destacando os impactos sobre comunidades tradicionais e áreas urbanas vulneráveis. A edição Centro-Oeste trouxe o bioma Cerrado e seus povos para o centro do debate, com ênfase na construção coletiva de soluções e na inclusão de demandas históricas marginalizadas.

Mesas temáticas e painéis

Entre os destaques do evento, Larissa Brenda Cordeiro e Nádia Nádila apresentaram a mesa sobre Empoderamento para Ação Climática, abordando o racismo ambiental e a organização comunitária frente à ausência do Estado. Foram apresentados exemplos da desigualdade no Distrito Federal, incluindo o acesso desigual a arborização, saneamento e água, e o histórico de segregação urbana que transforma bairros periféricos em zonas de sacrifício, com instalação de estações de esgoto, aterros sanitários e projetos de usinas termelétricas, como o que ameaça a Escola Classe Guariroba.

Rayandra, por sua vez, abordou o contexto das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) no histórico do Acordo de Paris, explicando sua importância para articular políticas climáticas e alertando para a crise atual causada pela entrega insuficiente de compromissos pelos países-membros.

A perspectiva da transição justa

Raíssa Felippe, mobilizadora socioambiental da ARAYARA, participou da mesa “Transição Justa para o Empoderamento Climático”, onde discutiu a importância da transição justa. Felippe destacou a necessidade de uma mudança gradual das fontes fósseis — carvão, petróleo e gás — para energias renováveis e sustentáveis, levando em conta a justiça social entre pessoas e países.

Ao comparar o contexto europeu e brasileiro, ela apontou diferenças significativas. “Na Europa, o descomissionamento de usinas a carvão cresceu quatro vezes entre 2023 e 2024, com a Alemanha liderando em capacidade desativada, Irlanda e Espanha programando o fim da geração a carvão até 2025, e o Reino Unido já concluindo a eliminação gradual da fonte fóssil”, destaca.

De acordo com dados do Monitor do Carvão Mineral, no Brasil, o carvão mineral responde por apenas 4% da geração elétrica, mas foi um dos principais fatores do aumento das emissões por GWh nas termelétricas em 2023. Além disso, o setor recebe mais de R$ 1,07 bilhão por ano em subsídios, valor superior aos incentivos concedidos às energias renováveis. Os dados são do Monitor do Carvão Mineral  da ARAYARA , que disponibiliza informações qualificadas sobre os impactos do carvão no Brasil e no mundo.

Felippe destacou ainda a contradição entre os compromissos brasileiros de redução de gases de efeito estufa e leilões recentes de petróleo e gás, como a 5ª Oferta Permanente de 2025 na Foz do Amazonas, que oferece 172 blocos — 34 já arrematados, 19 deles sobre Terras Indígenas, Unidades de Conservação e habitats de espécies ameaçadas, estimando emissões de 90 milhões de toneladas de CO₂.

Justiça social e energia

O evento também evidenciou desigualdades estruturais: municípios que recebem royalties do petróleo figuram entre os que têm piores indicadores de educação, saúde e saneamento, enquanto regiões periféricas, negras e pobres enfrentam maior dificuldade de acesso à energia elétrica. Estudos indicam que, para famílias de baixa renda, a conta de luz pode consumir metade da renda mensal, enquanto a energia é usada principalmente para conservar alimentos.

Direitos humanos e trabalho

O foco da transição justa, segundo os jovens participantes, deve ser os direitos humanos, abrangendo terra, território, saúde, educação e trabalho. Dados apresentados em audiências públicas pela CPT, CPP e CIMI mostram que os conflitos no campo estão relacionados principalmente à invasão de territórios e não à ocupação de terras improdutivas. Além disso, alertam para o risco de apropriação de “empregos verdes” que não promovem mudanças estruturais.

Para John Wurdig, gerente de Transição Energética da ARAYARA, a juventude presente no LCOY mostra-se ativa na construção de soluções e na articulação de demandas concretas para enfrentar a crise climática, reforçando que a transição energética precisa ser tanto socialmente justa quanto ambientalmente responsável.

 

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Ministério do Meio Ambiente realiza oficina para construção do Plano Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais

Na última quarta-feira (13), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) deu início à segunda oficina de construção do Plano Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs). O Instituto Internacional ARAYARA marcou presença no encontro, que reuniu 27 das 28 representações de PCTs reconhecidos no Brasil para debater diretrizes de uma política pública capaz de transformar em

Leia Mais »

ARAYARA envia contribuições à Consulta Pública da FEPAM sobre áreas de risco e licenciamento ambiental 

O Instituto Internacional ARAYARA enviou suas contribuições à consulta pública promovida pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), que discute a minuta da Diretriz Técnica sobre critérios e condições para o licenciamento ambiental de empreendimentos localizados em áreas suscetíveis a inundações, enxurradas e alagamentos. A consulta que estava disponível no site oficial da fundação foi encerrada no dia 16 de

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Linha de impedimento

Instituto ARAYARA protocola Ação Civil Pública contra preços abusivos para hospedagem na COP30 Na quinta-feira, 7 de agosto, o Instituto Internacional ARAYARA entrou em campo contra um adversário nada sustentável: os preços abusivos da hospedagem para a COP30, a ser realizada em Belém. A instituição protocolou uma Ação Civil Pública no Tribunal de Justiça do Pará para tentar frear a escalada especulativa

Leia Mais »

Inclusão de comunidades tradicionais e coerência nos compromissos climáticos são debatidos em encontro preparatório para a COP 30

Na tarde de ontem (14), em encontro promovido pelo PSOL para reunir contribuições da sociedade civil aos encaminhamentos brasileiros na COP 30, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, abriu os trabalhos apresentando um panorama dos compromissos climáticos esperados para a conferência, com destaque para o fortalecimento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre. Guajajara ressaltou que o financiamento climático deve

Leia Mais »