+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Falsa Transição: Debate no Amazon Climate Hub Denuncia Lobby do Gás e a Criação de “Zonas de Sacrifício”

A expansão do gás natural liquefeito (GNL) e as manobras políticas para consolidar a indústria fóssil foram o foco do debate “Zonas de Sacrifício e Falsa Transição: impactos da Infraestrutura de GNL e dos jabutis do gás” no ARAYARA Amazon Climate Hub. O evento, promovido pela Coalizão Energia Limpa, IEMA e Equal Routes, reuniu especialistas para desmascarar a narrativa de que o gás é uma energia de transição, expondo seus custos sociais, econômicos e ambientais.

O consenso entre os participantes é de que o lobby do gás tem sido incrivelmente eficaz no Brasil e na América Latina, garantindo espaço regulatório e financeiro que freia as energias renováveis.

O Efeito Regressivo dos “Jabutis do Gás”

No cenário brasileiro, o termo “regressão energética” foi usado por Ricardo Baitelo (IEMA/Coalizão Energia Limpa) para descrever a consolidação do gás natural, apesar de o Brasil ter uma das matrizes elétricas mais limpas do G20. Ele criticou a atuação do lobby do gás, que conseguiu inserir medidas prejudiciais à transição energética em leis não relacionadas.

“No meio da pandemia tivemos isso na lei de privatização da Eletrobrás, que inseriu obrigatoriamente termelétricas gerando impacto ambiental, custo muito maior, roubando espaço das renováveis, e isso tudo através d lobby do gás,” afirmou Baitelo.

Esses “jabutis do gás”, aumentam o custo nas tarifas e dificultam a gestão da rede elétrica, favorecendo o gás por ser uma fonte controlável, em detrimento de renováveis que, em momentos de excesso de produção, não conseguem ser totalmente absorvidas.

Cássio Carvalho (INESC/Coalizão Energia Limpa) reforçou o problema do financiamento, citando um estudo do INESC que mostra uma disparidade alarmante:

“Em nosso último estudo vimos que em 2024 houve 2,5 vezes mais investimento em subsídios a fósseis do que a renováveis,” revelou Cássio.

Segundo o pesquisador, essa força do setor privado e dos incentivos fiscais dificulta qualquer mudança na política energética, independentemente da orientação do governo.

México: GNL e a Destruição do Golfo da Califórnia

A situação no México espelha o problema global da “falsa transição”, onde o gás natural é vendido como solução, mas cria zonas de sacrifício.

Nancy Carmina (Institute of Energy and Environment) apresentou o caso do Golfo da Califórnia, uma região de grande biodiversidade e reconhecida como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Três grandes projetos de terminais de exportação de GNL estão propostos para a área.

O gás não seria para consumo mexicano, mas importado dos EUA por gasoduto, tratado e reexportado, visando encurtar a rota comercial que passaria pelo Canal do Panamá.

“As rotas desse tráfego marítimo têm fauna marítima e povos indígenas que serão afetados,” alertou Nancy.

A região é responsável por 55% da captura de pesca do México e sustenta o ecoturismo, sendo lar de 40% das espécies marinhas do país. Além dos impactos ambientais específicos na fauna, Nancy denunciou a situação de um dos povos indígenas, cuja cosmovisão confere um grande valor ao mar, e não foi consultado sobre o projeto.

O Único Caminho é Frear os Fósseis

Juliano Bueno, diretor técnico da ARAYARA, ampliou o cenário para a América Latina e o Caribe, destacando uma expansão fóssil sem precedentes em petróleo e gás, de Guiana e Bolívia ao Peru e Brasil.

Nunca a indústria fóssil teve tanta expansão na brasil e na América Latina,” declarou.

Juliano alertou que essa expansão não é apenas de gasodutos e termelétricas, mas também de políticas de subsídios a longo prazo, que tornam o cenário difícil para reverter o aquecimento global.

“Apenas os compromissos com florestas no mundo não serão suficientes, mesmo que zerássemos o desmatamento, não seria suficiente para revertermos a subida da temperatura global. O único caminho é colocarmos um freio na indústria fóssil.”

Nas discussões sobre as negociações da COP30, o painel concordou que o multilateralismo é crucial. Cássio defendeu que o Brasil assine o COFINS, para se comprometer formalmente com a saída dos combustíveis fósseis. Nancy cobrou coerência entre o que os países prometem em suas NDCs e o que implementam em políticas públicas.

Juliano Bueno finalizou ressaltando o papel de cobrança dos países insulares e pequenas ilhas que sofrem os impactos mais imediatos do aumento do nível do mar, um fator que pode trazer “inovação em relação a metas e prazos” nas negociações.

Foto: Odaraê Filmes

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Science Panel for the Amazon lança novo relatório científico durante a COP30 em Belém

O ARAYARA Amazon Climate Hub sediou hoje o evento Science for an Interconnected Amazon: Findings from the Amazon Assessment Report 2025, marcando o lançamento oficial do Segundo Relatório de Avaliação da Amazônia (AR2025), elaborado pelo Science Panel for the Amazon (SPA). A iniciativa reúne cientistas, povos indígenas, comunidades tradicionais e instituições parceiras de toda a Pan-Amazônia, com o objetivo de

Leia Mais »

Painel no ARAYARA Amazon Climate Hub revela desafios do Luz para Todos no Xingu e lança relatório técnico

O painel “Justiça energética e direitos territoriais: desafios da implementação do programa Luz para Todos no Xingu”, promovido pelo IDGlobal, reuniu especialistas, pesquisadores e lideranças indígenas no ARAYARA Amazon Climate Hub neste domingo (10), durante a COP30, em Belém (PA). O encontro marcou o lançamento do relatório técnico e do policy brief que analisam a implementação do programa em territórios

Leia Mais »

Direito e Autonomia: Roda de Conversa na COP30 Reforça a Importância da Consulta Livre, Prévia e Informada

O ARAYARA Amazon Climate Hub recebeu, na tarde desta terça-feira (11), uma essencial roda de conversa sobre o Direito à Consulta e ao Consentimento Livre, Prévio e Informado (CCPLI) e o papel estratégico dos Protocolos de Consulta. O debate, aberto ao público, reuniu pesquisadoras indígenas do IDGlobal e o Observatório dos Protocolos de Consulta, destacando que a consulta não é

Leia Mais »

Na COP30, evento debate ameaças do petróleo na Amazônia e lança livro-reportagem “Até a Última Gota”

O ARAYARA Amazon Climate Hub sediou nesta segunda (10), durante a COP30 em Belém (PA), o evento “Petróleo na Amazônia – Ameaças, Resistências e Caminhos para a Transição”, que marcou o lançamento do livro-reportagem Até a Última Gota, produzido pela InfoAmazonia em parceria com veículos da Pan-Amazônia, e do relatório de incidência desenvolvido pela Fundación Avina e pelo Instituto Internacional

Leia Mais »