+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Evento em Ubatuba(SP) fortalece lideranças indígenas para participação na COP 30

Formação reuniu representantes do Sudeste e organizações de base para debater estratégias de atuação na agenda climática internacional

Nos dias 29 e 30 de maio, a Aldeia Renascer, em Ubatuba (SP), recebeu a 4ª etapa do Ciclo COParente — iniciativa voltada à preparação de lideranças indígenas para a 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em Belém (PA), em 2025.

Organizado pelo Ministério dos Povos Indígenas, o encontro contou com a participação de lideranças da ARPINSUDESTE (Articulação dos Povos Indígenas da Região Sudeste), da Comissão Guarani Yvyrupa — representando os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo —, além de apoiadores da causa indígena. Entre eles, esteve presente o Instituto Internacional ARAYARA, referência em advocacy ambiental e justiça climática.

Capacitação e articulação política indígena

O objetivo da formação foi capacitar organizações indígenas de base de diversas regiões do país para compreenderem o funcionamento da COP, fortalecerem sua presença política nas instâncias internacionais e refletirem sobre os impactos da crise climática sobre seus territórios.

Além dos representantes indígenas, o evento também contou com a presença de autoridades locais, como um vereador e uma representante da Secretaria Municipal de Educação de Ubatuba, além de integrantes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), com delegações vindas de Itanhaém e de Brasília.

Um dos momentos mais relevantes foi a participação da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. Ela apresentou as diretrizes de atuação dos povos originários na COP 30 e destacou o caráter inédito da conferência: serão disponibilizadas mil credenciais para indígenas para a Blue Zone — área oficial de negociações da ONU —, sendo 500 delas destinadas exclusivamente a indígenas brasileiros.

Outro anúncio importante foi o da criação da “Aldeia COP”, espaço que hospedará as delegações indígenas em Belém. Além disso, um dos destaques desta edição será a realização de Círculos de Lideranças no contexto da Blue Zone, sendo o “Círculo dos Povos” espaço voltado ao diálogo entre indígenas e povos tradicionais de diferentes países, com foco em experiências locais e soluções para a crise climática.

“Essa estrutura permitirá que indígenas e povos tradicionais do Brasil e do mundo debatam temas relevantes a partir de suas próprias vivências”, explicou a pesquisadora da ARAYARA, Heloísa Simão.

Heloísa Simão, pesquisadora da ARAYARA com a ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara

Demarcação como estratégia climática

Durante os debates, foi enfatizada a importância da demarcação dos territórios indígenas como medida fundamental para a mitigação e adaptação frente às mudanças climáticas. Os participantes reafirmaram o papel dos povos originários não apenas como vítimas dos efeitos da crise, mas como protagonistas na preservação da biodiversidade e na proteção das florestas.

“Nós, indígenas, somos a resposta” — esse foi o lema escolhido pelas organizações indígenas brasileiras para a COP 30, refletindo a urgência de reconhecer os saberes ancestrais, as práticas e tecnologias sociais indígenas como elementos centrais no enfrentamento à emergência climática, completou Simão.

Impactos socioambientais em terras indígenas

Estudos da ARAYARA chamaram a atenção para os impactos de grandes empreendimentos energéticos sobre terras indígenas. Segundo o relatório Monitor Amazônia Livre de Petróleo, cerca de 230 territórios tradicionais estão ameaçados por blocos de petróleo e gás, gasodutos, linhas de transmissão e terminais de gás natural liquefeito (GNL) — o que representa 28% das terras indígenas no Brasil.

Para Sara Ribeiro, gerente de Relações Institucionais da ARAYARA, o protagonismo indígena na COP 30 é decisivo. “Estamos diante da possibilidade de uma participação indígena histórica — e isso, por si só, já é uma conquista significativa. Mas é preciso garantir que essa presença venha acompanhada de escuta ativa, respeito aos territórios e justiça climática em todas as suas dimensões.”

Ela também reforçou a importância do direito à consulta livre, prévia e informada, conforme prevê a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), incluindo e respeitando os direitos dos povos indígenas de forma efetiva.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Instituto ARAYARA lança estudo inédito “Do Mar à Mesa: Como a pesquisa para a exploração de petróleo ameaça a vida”

Enquanto o senso comum atribui ao vazamento de óleo a parte problemática da exploração de petróleo no mar, estudo de especialistas do Instituto ARAYARA indica que as ameaças à vida marinha e de pescadores começam ainda na fase de estudos. O Instituto Internacional ARAYARA lança, na terça-feira (02/09), durante audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, o estudo técnico

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: LRCAP: FNCE manifesta preocupação e vê contratações mais caras

Frente vê favorecimento a grupos econômicos que não atenderiam às exigências iniciais do certame A Frente Nacional dos Consumidores de Energia manifestou em nota à imprensa surpresa e preocupação com as diretrizes adotadas pelo Ministério de Minas e Energia para o Leilão de Reserva de Capacidade de 2026. Análise técnica das portarias postas em consulta pública indica que, inevitavelmente, o

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Leilão de capacidade reacende críticas sobre lobby do carvão e riscos ambientais

MME reabre consulta pública em meio a denúncias de favorecimento à UTE Candiota III O Ministério de Minas e Energia (MME) reabriu em 22 de agosto de 2025 a consulta pública para o Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) 2026, por meio da Portaria nº 859/2025. A medida prevê a contratação de potência elétrica a partir de termelétricas movidas a gás natural, carvão mineral e óleo diesel,

Leia Mais »

Fábrica de fertilizantes no norte do Paraná aposta no carvão mineral e ambientalistas fazem alerta

O município de Sapopema, no norte do estado do Paraná, volta a ser destaque nas discussões sobre os limites do desenvolvimento econômico baseado em combustíveis fósseis.  Segundo dados do Monitor do Carvão Mineral, o projeto de uma fábrica de fertilizantes nitrogenados, estimado em 800 milhões de dólares, pretende utilizar o carvão mineral da região como insumo — justamente em um

Leia Mais »