Formação reuniu representantes do Sudeste e organizações de base para debater estratégias de atuação na agenda climática internacional
Nos dias 29 e 30 de maio, a Aldeia Renascer, em Ubatuba (SP), recebeu a 4ª etapa do Ciclo COParente — iniciativa voltada à preparação de lideranças indígenas para a 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em Belém (PA), em 2025.
Organizado pelo Ministério dos Povos Indígenas, o encontro contou com a participação de lideranças da ARPINSUDESTE (Articulação dos Povos Indígenas da Região Sudeste), da Comissão Guarani Yvyrupa — representando os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo —, além de apoiadores da causa indígena. Entre eles, esteve presente o Instituto Internacional ARAYARA, referência em advocacy ambiental e justiça climática.
Capacitação e articulação política indígena
O objetivo da formação foi capacitar organizações indígenas de base de diversas regiões do país para compreenderem o funcionamento da COP, fortalecerem sua presença política nas instâncias internacionais e refletirem sobre os impactos da crise climática sobre seus territórios.
Além dos representantes indígenas, o evento também contou com a presença de autoridades locais, como um vereador e uma representante da Secretaria Municipal de Educação de Ubatuba, além de integrantes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), com delegações vindas de Itanhaém e de Brasília.
Um dos momentos mais relevantes foi a participação da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. Ela apresentou as diretrizes de atuação dos povos originários na COP 30 e destacou o caráter inédito da conferência: serão disponibilizadas mil credenciais para indígenas para a Blue Zone — área oficial de negociações da ONU —, sendo 500 delas destinadas exclusivamente a indígenas brasileiros.
Outro anúncio importante foi o da criação da “Aldeia COP”, espaço que hospedará as delegações indígenas em Belém. Além disso, um dos destaques desta edição será a realização de Círculos de Lideranças no contexto da Blue Zone, sendo o “Círculo dos Povos” espaço voltado ao diálogo entre indígenas e povos tradicionais de diferentes países, com foco em experiências locais e soluções para a crise climática.
“Essa estrutura permitirá que indígenas e povos tradicionais do Brasil e do mundo debatam temas relevantes a partir de suas próprias vivências”, explicou a pesquisadora da ARAYARA, Heloísa Simão.

Heloísa Simão, pesquisadora da ARAYARA com a ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara
Demarcação como estratégia climática
Durante os debates, foi enfatizada a importância da demarcação dos territórios indígenas como medida fundamental para a mitigação e adaptação frente às mudanças climáticas. Os participantes reafirmaram o papel dos povos originários não apenas como vítimas dos efeitos da crise, mas como protagonistas na preservação da biodiversidade e na proteção das florestas.
“Nós, indígenas, somos a resposta” — esse foi o lema escolhido pelas organizações indígenas brasileiras para a COP 30, refletindo a urgência de reconhecer os saberes ancestrais, as práticas e tecnologias sociais indígenas como elementos centrais no enfrentamento à emergência climática, completou Simão.
Impactos socioambientais em terras indígenas
Estudos da ARAYARA chamaram a atenção para os impactos de grandes empreendimentos energéticos sobre terras indígenas. Segundo o relatório Monitor Amazônia Livre de Petróleo, cerca de 230 territórios tradicionais estão ameaçados por blocos de petróleo e gás, gasodutos, linhas de transmissão e terminais de gás natural liquefeito (GNL) — o que representa 28% das terras indígenas no Brasil.
Para Sara Ribeiro, gerente de Relações Institucionais da ARAYARA, o protagonismo indígena na COP 30 é decisivo. “Estamos diante da possibilidade de uma participação indígena histórica — e isso, por si só, já é uma conquista significativa. Mas é preciso garantir que essa presença venha acompanhada de escuta ativa, respeito aos territórios e justiça climática em todas as suas dimensões.”
Ela também reforçou a importância do direito à consulta livre, prévia e informada, conforme prevê a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), incluindo e respeitando os direitos dos povos indígenas de forma efetiva.