A estiagem causada pela crise climática afeta transporte de carga, produção de energia, água potável, produtos alimentícios de origem animal e colheitas
A seca advém de um inverno e primavera excepcionalmente secos, seguidos por ondas de calor que quebraram recordes de temperaturas máximas, matando milhares de pessoas em todo o continente. Os especialistas em clima dizem que todas as ondas de calor são agora mais prováveis e piores devido à crise climática, e advertem que as condições de seca podem piorar nos verões futuros se as emissões continuarem, com os custos da estiagem aumentando potencialmente até 65 bilhões de euros.
47% da UE está sob alerta de seca, com 17% em alerta vermelho, de acordo com o Observatório Europeu da Seca da UE. Espera-se que as colheitas de milho sejam as menores desde 2007, enquanto os preços da carne e dos laticínios estão subindo em todo o continente.
– Alemanha: o rio Reno atingiu níveis tão baixos que os barcos estão sendo obrigados a cancelar o transporte ou reduzir sua capacidade de carga em até 75%. Este é um problema enorme, pois o Reno é uma importante rota de transporte na Alemanha, e o transporte fluvial é mais econômico e mais amigável ao meio ambiente do que o transporte rodoviário ou ferroviário. Enquanto o Reno é o rio mais importante da Alemanha para o transporte de carga, o Elba também está em níveis baixos, sem barcaças de carga funcionando durante semanas.
A crise no Reno pode atingir gravemente os países da Europa Central e Oriental sem litoral, pois eles dependem do Reno para transportar combustível. Enquanto isso, os economistas estimam que os impactos no corredor de navegação poderiam derrubar meio ponto percentual do crescimento econômico na Alemanha.
No rio Oder, que corre entre a Alemanha e a Polônia, tem havido mortandades em massa de peixes. Isto pode ter sido causado por um derramamento químico que piorou as condições para os peixes que já enfrentavam temperaturas de água muito altas, níveis de água mais baixos, e níveis de oxigênio mais baixos devido à seca. Na Sérvia e na França alguns rios secaram totalmente, deixando peixes mortos no leito.
– França: o país está diante de sua pior seca de todos os tempos. Mais de 100 cidades da França estão sem água potável em meio a seca histórica.
A empresa de energia EDF foi forçada a reduzir a produção nuclear devido à escassez de água para resfriar as usinas; as plantas nucleares produzem 70% da eletricidade da França.
A produção de energia para usinas hidrelétricas que dependem da água dos rios foi 3930 GWh inferior ao normal este ano no início de julho na França, 2244 GWh inferior em Portugal, e 5039 GWh inferior na Itália.
A França está tão seca que incêndios florestais forçam dezenas de milhares de pessoas a fugir de suas casas. Enquanto isso, a infraestrutura também está sob severo estresse, com casas rachando à medida que o solo seca.
Está em vigor na França uma proibição de irrigação para os agricultores. A produção de milho será a pior em uma década – isto é especialmente preocupante depois de as importações de milho da Ucrânia terem sido perturbadas pela guerra. Outras culturas, incluindo trigo, pêssegos, morangos e damascos, também estão sendo afetadas.
– Itália: o fluxo do rio Pó caiu 90%, atingindo a produção de milho e risoto de arroz. O Pó está no nível mais alto de gravidade da seca, com a água salgada movendo-se a distâncias recordes para o interior do Delta do Pó à medida que o nível do rio cai. A colheita de arroz risoto pode cair 60%, com os campos de arroz danificados por muitos anos de aumento da salinização.
O aumento das temperaturas e as condições secas também abriram o caminho para o pior surto de gafanhotos em três décadas, o que dizimou o fornecimento de alimentos de inverno para o gado na ilha da Sardenha. No total, um terço das fazendas na Itália estão agora produzindo alimentos sob prejuízos.
– Espanha: a disponibilidade hídrica caiu para 39%, a mais baixa de quase 30 anos. O sul é a região mais atingida, especialmente Andaluzia e Extremadura, cujos reservatórios estão em 26% e 24%, respectivamente. A irrigação para a agricultura espanhola está prevista para ser afetada. Em alguns lugares, abacateiros estão sendo cortados — a esta altura da estiagem eles já não serão mais capazes de produzir frutas, e a água que consomem é urgentemente necessária em outros lugares. A Espanha está sendo instada a reduzir a produção de culturas que exigem muita água, tais como frutas e verduras.
As altas temperaturas e as condições secas causaram quase 400 incêndios devastadores na Espanha, queimando quase 270.000 ha. Muitas pessoas foram feridas pelos incêndios, e pelo menos cinco morreram. Milhares de pessoas foram forçadas a fugir de suas casas. Enquanto isso, mais de 2.000 pessoas foram mortas em toda a Espanha e Portugal em decorrência das ondas de calor.
– Suíça: Na Suíça, o nível do Lago Constança está no nível mais baixo para esta época do ano desde que os registros começaram há mais de 130 anos. A produção de queijo está sendo interrompida porque os prados alpinos estão muito secos para que as vacas possam pastar, e o abastecimento de água para o gado também está diminuindo. As populações de peixes estão em risco devido às altas temperaturas da água em córregos e rios. A Suíça também está enfrentando uma escassez de produtos petrolíferos, devido à dificuldade de transportá-los pelo rio Reno.
– Reino Unido: país está no período de 9 meses mais seco desde 1976, ondas de calor que quebram recordes cruzando a marca dos 40°C pela primeira vez, e inundações repentinas causadas por chuvas fortes em solo seco. Com muitas áreas do país agora oficialmente em seca, proibições de irrigação estão em vigor em grande parte do país, em alguns locais pela primeira vez em 30 anos. Se as chuvas de inverno não forem acima da média este ano, o sudeste da Inglaterra será afetado por uma seca “severa” no ano que vem.
Espera-se que a produção de batatas, maçãs, cenouras e lúpulo seja metade dos níveis normais no Reino Unido. A produção de milho supostamente resistente à seca está reduzida, o suprimento de leite também está abaixo do normal e vegetais de raiz (beterraba, e etc) estão com qualidade inferior.
A guerra contra a Ucrânia e o Brexit se somam às atuais secas na Europa para elevar o preço de alguns alimentos em até 20% no Reino Unido. A continuidade da seca deverá agravar a crise de preços, empurrando mais cidadãos britânicos para a insegurança alimentar. 18% das pessoas no país são classificadas como “inseguras”, o que significa que são forçadas a fazer uma dieta de qualidade, variedade ou desejabilidade reduzidas e, em casos extremos, a reduzir o consumo de alimentos.
– Eslováquia: 99% do país está sob condições de seca, com quase 60% do país em condições de seca “extrema”. Muitos lugares estão lutando para fornecer água potável suficiente. Os preços dos alimentos subiram 20% e os famintos estão “desesperados” em um país com pouca infraestrutura de irrigação. Existe a possibilidade de que dezenas de milhares de vacas tenham que ser mortas devido à falta de provisão de alimentos para elas durante o inverno.
– Croácia: os preços dos alimentos aumentam à medida que os agricultores lutam para cultivar frutas, vegetais, milho, girassol e beterraba sacarina em quantidade suficiente — há receios de uma escassez de alimentos no inverno. Com os preços já altos, e no momento em que o país antecipa a mudança de sua moeda para o euro, alguns clientes estão comprando menos verduras e se preparam para criar estoques de inverno. Vinícolas também enfrentam altas temperaturas e falta de chuva, enquanto no sul do país a água potável está ficando escassa. As condições secas e as altas temperaturas levaram a um aumento de 74% nos incêndios florestais em comparação com o ano passado.
AQUECIMENTO GLOBAL
“A seca e a onda de calor são manifestações do aquecimento global, hoje ninguém questiona isso”, explicou nesta quarta a ministra de Transição Energética da França, Agnès Pannier-Runacher. “O clima de 2020 pode ser esquecido e o de 2022 talvez seja o mais fresco dos próximos anos”, garantiu.
A extração e queima de combustíveis fósseis como carvão mineral, gás natural e petróleo, agravam a crise climática, então é preciso parar de explorá-los, investindo em renováveis urgente! O mundo está à beira da extinção e só não percebe quem não quer.