Instituto Internacional ARAYARA participa de coalizão que propõe rota concreta de descarbonização da estatal
Dois estudos divulgados nesta semana apontam caminhos para que a Petrobras assuma um papel de liderança na transição energética brasileira, mas alertam que os investimentos da companhia em fontes de energia de baixo carbono ainda são insuficientes.
O documento “Questões‑Chave e Alternativas para a Descarbonização do Portfólio de Investimentos da Petrobras”, elaborado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), serviu de base para o relatório “A Petrobras de que Precisamos”, produzido por 30 organizações que integram o Observatório do Clima, entre elas o Instituto Internacional ARAYARA.
De acordo com os estudos, apenas US$ 9,1 bilhões dos US$ 111 bilhões previstos no plano de negócios da Petrobras para 2025-2029 estariam destinados a energias de baixo carbono – menos de 10% do total. A estatal afirma, em nota, que os investimentos somam US$ 16,3 bilhões, mas as organizações alertam que, mesmo com essa revisão, o volume ainda está aquém do necessário para cumprir as metas do Acordo de Paris e do Plano Clima, que preveem neutralidade de emissões até 2050.
Propostas para a transição energética
O estudo do Observatório do Clima propõe um plano estratégico que inclui:
-Interrupção da expansão em novas fronteiras fósseis, como a Foz do Amazonas;
-Redirecionamento de investimentos para energias renováveis e tecnologias limpas;
-Fortalecimento de pesquisa e desenvolvimento em biocombustíveis, hidrogênio verde e energia solar e eólica;
-Reestruturação do plano de negócios da Petrobras, com foco na descarbonização.
A coalizão recomenda o congelamento da expansão da exploração de combustíveis fósseis em novas fronteiras, como a Foz do Amazonas, e defende que a produção seja concentrada em áreas já em operação, como o pré-sal.
“A Petrobras é uma empresa estratégica para o Brasil, mas precisa reconhecer e incorporar com mais seriedade a gravidade da crise climática em suas decisões de investimento”, afirma Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima.
Participação da ARAYARA no debate
O Instituto Internacional ARAYARA teve papel de destaque no evento. Urias Neto, Coordenador de Meio Ambiente e Engenharia da organização, mediou a mesa “Os limites da expansão e exploração de Petróleo e Gás”, que contou com a participação de representantes da UFRJ, WWF, EPE, INESC, IEMA, Coalizão Energia Limpa e outras entidades.
Neto iniciou o debate apresentando o dado de que apenas 33% das áreas do pré-sal sob o Regime de Oferta Permanente de Partilha estão atualmente em operação.
Segundo o engenheiro ambiental da ARAYARA, o número levanta questionamentos sobre a real necessidade de explorar novas fronteiras fósseis, como as bacias da Foz do Amazonas e de Pelotas — regiões com alta sensibilidade socioambiental e importância para a pesca artesanal e a biodiversidade marinha.
Durante sua fala, Neto também alertou para as contradições do discurso da estatal. “Embora se projete uma queda nas reservas do pré-sal nos próximos anos, a recente descoberta de grandes volumes pela petroleira britânica BP — com potencial de produzir até 2,5 milhões de barris por dia, número próximo ao da Petrobras — enfraquece o argumento de escassez e reforça a urgência de rever a política de expansão de fronteiras fósseis”, afirmou.
Conselheiro do CONAMA e do FONTE, além de doutor em Urgências e Emergências, o diretor técnico da ARAYARA, Juliano Bueno, critica a baixa alocação de recursos para energias limpas no plano de negócios da estatal: “é preciso coerência entre o discurso público e as ações concretas. Atualmente, menos de 10% dos investimentos da Petrobras estão realmente voltados à transição para fontes de baixo carbono. Enquanto isso, os territórios e comunidades já vivem os impactos dessa contradição.”
Segundo Bueno, a transição energética exige prioridade real, respeito aos territórios e planejamento de longo prazo. Caso contrário, o Brasil continuará refém de um modelo fóssil que compromete o futuro do planeta.
Foto: Enrico Marone/ ARAYARA