+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Estudos revelam que menos de 10% dos investimentos da Petrobrás são direcionados para energias limpas

Instituto Internacional ARAYARA participa de coalizão que propõe rota concreta de descarbonização da estatal

Dois estudos divulgados nesta semana apontam caminhos para que a Petrobras assuma um papel de liderança na transição energética brasileira, mas alertam que os investimentos da companhia em fontes de energia de baixo carbono ainda são insuficientes.

O documento “Questões‑Chave e Alternativas para a Descarbonização do Portfólio de Investimentos da Petrobras”, elaborado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), serviu de base para o relatório “A Petrobras de que Precisamos”, produzido por 30 organizações que integram o Observatório do Clima, entre elas o Instituto Internacional ARAYARA.

De acordo com os estudos, apenas US$ 9,1 bilhões dos US$ 111 bilhões previstos no plano de negócios da Petrobras para 2025-2029 estariam destinados a energias de baixo carbono – menos de 10% do total. A estatal afirma, em nota, que os investimentos somam US$ 16,3 bilhões, mas as organizações alertam que, mesmo com essa revisão, o volume ainda está aquém do necessário para cumprir as metas do Acordo de Paris e do Plano Clima, que preveem neutralidade de emissões até 2050.

Propostas para a transição energética

O estudo do Observatório do Clima propõe um plano estratégico que inclui:

-Interrupção da expansão em novas fronteiras fósseis, como a Foz do Amazonas;

-Redirecionamento de investimentos para energias renováveis e tecnologias limpas;

-Fortalecimento de pesquisa e desenvolvimento em biocombustíveis, hidrogênio verde e energia solar e eólica;

-Reestruturação do plano de negócios da Petrobras, com foco na descarbonização.

A coalizão recomenda o congelamento da expansão da exploração de combustíveis fósseis em novas fronteiras, como a Foz do Amazonas, e defende que a produção seja concentrada em áreas já em operação, como o pré-sal.

“A Petrobras é uma empresa estratégica para o Brasil, mas precisa reconhecer e incorporar com mais seriedade a gravidade da crise climática em suas decisões de investimento”, afirma Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima.

Participação da ARAYARA no debate

O Instituto Internacional ARAYARA teve papel de destaque no evento. Urias Neto, Coordenador de Meio Ambiente e Engenharia da organização, mediou a mesa “Os limites da expansão e exploração de Petróleo e Gás”, que contou com a participação de representantes da UFRJ, WWF, EPE, INESC, IEMA, Coalizão Energia Limpa e outras entidades.

Neto iniciou o debate apresentando o dado de que apenas 33% das áreas do pré-sal sob o Regime de Oferta Permanente de Partilha estão atualmente em operação. 

Segundo o engenheiro ambiental da ARAYARA, o número levanta questionamentos sobre a real necessidade de explorar novas fronteiras fósseis, como as bacias da Foz do Amazonas e de Pelotas — regiões com alta sensibilidade socioambiental e importância para a pesca artesanal e a biodiversidade marinha.

Durante sua fala, Neto também alertou para as contradições do discurso da estatal. “Embora se projete uma queda nas reservas do pré-sal nos próximos anos, a recente descoberta de grandes volumes pela petroleira britânica BP — com potencial de produzir até 2,5 milhões de barris por dia, número próximo ao da Petrobras — enfraquece o argumento de escassez e reforça a urgência de rever a política de expansão de fronteiras fósseis”, afirmou.

Conselheiro do CONAMA e do FONTE, além de doutor em Urgências e Emergências, o diretor técnico da ARAYARA, Juliano Bueno, critica a baixa alocação de recursos para energias limpas no plano de negócios da estatal: “é preciso coerência entre o discurso público e as ações concretas. Atualmente, menos de 10% dos investimentos da Petrobras estão realmente voltados à transição para fontes de baixo carbono. Enquanto isso, os territórios e comunidades já vivem os impactos dessa contradição.”

Segundo Bueno, a transição energética exige prioridade real, respeito aos territórios e planejamento de longo prazo. Caso contrário, o Brasil continuará refém de um modelo fóssil que compromete o futuro do planeta.

Foto: Enrico Marone/ ARAYARA

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Aviso de Convocação – Assembleia Geral Ordinária

O Instituto Internacional ARAYARA convoca os(as) associados(as) com filiação regular e quites com as taxas anuais e remidas, e que estejam em pleno gozo de seus direitos estatutários, para a Assembleia Geral Ordinária a ser realizada em formato híbrido no dia 18 de dezembro de 2025, às 18h30 em primeira chamada e às 19h00 em segunda chamada. A participação poderá

Leia Mais »

Audiência pública sobre o fracking no STJ : uma das maiores ameaças à saúde humana e prejuízos ao agronegócio e às mulheres do Brasil

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) sedia, no dia 11 de dezembro de 2025, uma audiência pública de importância crucial para o futuro energético e ambiental do Brasil. O evento coloca em debate a exploração de gás de xisto (shale gas) por meio do fraturamento hidráulico (fracking), uma técnica não-convencional que, segundo dados e subsídios científicos compilados pelo Instituto Internacional

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Roteiro brasileiro para fim dos combustíveis fósseis começa a sair do papel

Lula dá 60 dias para os ministérios do Meio Ambiente, Fazenda e Minas e Energia, e Casa Civil apresentarem as diretrizes para a transição energética justa, mas condiciona financiamento à exploração de petróleo e gás O despacho publicado ontem no Diário Oficial da União onde o presidente Lula convoca os ministérios de Minas e Energia, Fazenda e Meio Ambiente e mais a

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Direitos humanos e violência política são temas de roda de conversa nesta quarta (10)

A atividade realizada no Dia Internacional dos Direitos Humanos, acontece na sede da Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD) Nesta quarta-feira, 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, roda de conversa sobre Direitos Humanos e Violência Política, acontece às 9h, na Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD), no Pelourinho. O encontro, iniciativa da vereadora Eliete Paraguassu (PSOL), tem como objetivo fortalecer a

Leia Mais »