+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Direito e Autonomia: Roda de Conversa na COP30 Reforça a Importância da Consulta Livre, Prévia e Informada

O ARAYARA Amazon Climate Hub recebeu, na tarde desta terça-feira (11), uma essencial roda de conversa sobre o Direito à Consulta e ao Consentimento Livre, Prévio e Informado (CCPLI) e o papel estratégico dos Protocolos de Consulta. O debate, aberto ao público, reuniu pesquisadoras indígenas do IDGlobal e o Observatório dos Protocolos de Consulta, destacando que a consulta não é mera formalidade, mas um processo político fundamental para a autodeterminação dos povos.

O CCPLI é regulamentado pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em vigor no Brasil desde 2003, e exige que toda medida legislativa ou administrativa – pública ou privada – que possa afetar povos indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais seja submetida a uma consulta.

Protocolos de Consulta: Um Mecanismo de Autonomia Comunitária

As pesquisadoras do IDGlobal, que são também representantes de suas comunidades, trouxeram a perspectiva de quem vive a realidade dos impactos. Aíla Monteiro de Oliveira, pesquisadora indígena pernambucana, enfatizou a importância dos Protocolos de Consulta como um instrumento de defesa comunitária.

“As comunidades precisam ser consultadas independente desse protocolo, mas no nosso país os protocolos são um mecanismo para que a própria comunidade coloque as normas que devem ser respeitadas dentro desse território,” explicou Aíla.

Ela reforçou que o Protocolo de Consulta é um documento construído pela própria comunidade – em português ou língua nativa –, que define as regras e os modos de vida que devem ser respeitados pelos empreendimentos e governos. A iniciativa e as decisões sobre o formato e conteúdo devem ser sempre das comunidades.

O Desafio de Traduzir o Direito “Branco”

A complexidade de aplicar o direito ocidental nas realidades coletivas dos povos tradicionais foi um ponto central na fala de Amirele Porto Machado, pesquisadora do povo Guarani Kaiowá e Terena (MS) pelo IDGlobal.

Amirele apresentou o projeto “Língua Indígena Viva no Direito”, que traduz a Constituição Federal para três línguas indígenas (Tikuna, Kaingang e Guarani Kaiowá), utilizando a consulta prévia para guiar o processo.

“A comunidade em si trouxe o questionamento de como traduzir o direito branco para que fizesse sentido na língua indígena,” relatou Amirele.

Ela trouxe o exemplo da língua Guarani, onde a palavra terra possui um significado muito mais amplo do que no português, evidenciando as lacunas do direito individualista que se choca com a lógica coletiva dos territórios.

Consulta e Justiça Energética na Amazônia

Júlia Soares, também pesquisadora do IDGlobal, trouxe exemplos de como a ausência ou falha na consulta prévia está diretamente ligada à justiça energética. Ela citou o programa de Universalização Energética, como o “Luz Para Todos”, na região do Xingu.

Segundo Júlia, muitas vezes a chegada das concessionárias e do governo federal aos territórios ocorre com uma comunicação falha. Isso resulta em instalações que não respeitam os costumes locais, equipamentos sem manutenção e, crucialmente, endividamento em massa das famílias por falta de compreensão sobre a política pública.

A pesquisadora destacou que o monitoramento do programa “Luz Para Todos” no Xingu levou 16 povos a elaborarem uma carta conjunta, denunciando o não cumprimento do seu Protocolo de Consulta e exigindo que suas demandas fossem atendidas.

O encontro reforçou a necessidade de enfrentar a não observância dos protocolos por parte de empresas e governos, fortalecendo o protagonismo indígena nas decisões que impactam seus territórios e modos de vida, em linha com a missão do ARAYARA Amazon Climate Hub de promover soluções para a crise climática a partir dos saberes tradicionais.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

LAE: Congresso enterra licenciamento ambiental brasileiro

POSICIONAMENTO – INSTITUTO INTERNACIONAL ARAYARA Hoje (2), o Congresso Nacional deve decidir um tema que afeta diretamente a vida de todas as brasileiras e brasileiros: preservar o pouco que ainda resta do licenciamento ambiental — já enfraquecido pela derrubada, em 27 de novembro, de 52 dos 63 vetos do presidente Lula à nova Lei Geral do Licenciamento — ou abrir

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Arayara: liderazgo ambiental e innovación en la COP30

Arayara presentó en Belém el Monitor de Energía, una herramienta que promete revolucionar la transparencia en el sector energético brasileño. Durante la COP30, busqué temas y debates sobre la transición energética. Fue en Arayara donde encontré discusiones de alto nivel sobre los océanos, el tratamiento de residuos, el derecho ambiental y la justicia social. Pero lo que más me llenó

Leia Mais »

A crise hídrica e o alto custo da água na exploração e queima de carvão mineral no Brasil

O Instituto Internacional ARAYARA marcou presença de destaque no Workshop Internacional Sustentare & WIPIS 2025, realizado de 24 a 28 de novembro, em Campinas, São Paulo. Representada presencialmente pela engenheira ambiental Daniela Giovana da Cunha Barros, coordenadora de Projetos e Clima, a organização levou ao ambiente acadêmico um debate crucial sobre a insustentabilidade do carvão mineral e a expansão de

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Organizações criticam extensão de subsídios a usinas de carvão mineral

Lei que mantém subsídios públicos para as usinas termelétricas a carvão minera foi aprovada no primeiro dia útil depois do final da COP30 Organizações ambientais e associações de consumidores criticaram a manutenção até 2040 de subsídios públicos para as usinas termelétricas a carvão mineral. A decisão consta na Lei 15.269, chamada de Marco Regulatório do Setor Elétrico (2025), aprovada na segunda

Leia Mais »