+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Cúpula dos Povos: mobilização global pela justiça climática ganha força rumo à COP30 em Belém

Na última terça-feira (02/06), Renata Prata, coordenadora de Advocacy do Instituto Internacional ARAYARA, participou do programa Diálogos de Justiça e Paz, promovido pela Comissão Justiça e Paz de Brasília.

O encontro, realizado presencialmente com transmissão ao vivo, foi mediado por Ana Paula Inglez, presidente da Comissão, e também contou com a presença de Dorismeire Almeida de Vasconcelos, articuladora da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) e integrante da Cúpula dos Povos rumo à COP30.

A iniciativa é coordenada pelo Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA), em parceria com o Centro Cultural de Brasília (CCB), a Comissão Justiça e Paz de Brasília (CJP-DF) e a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP). Seu objetivo é promover diálogos críticos e reflexões profundas sobre justiça socioambiental, espiritualidade, participação cidadã e cuidado com os territórios.

Durante sua fala, Renata Prata ressaltou o papel fundamental da sociedade civil na mobilização rumo à COP30, marcada para novembro de 2025, em Belém do Pará. Destacou a urgência de integrar os debates sobre justiça climática com a promoção da paz e a superação da lógica de militarização.

“Os combustíveis fósseis financiam guerras e conflitos geopolíticos, violando direitos humanos e agravando a crise climática. O compromisso com o clima precisa se traduzir em decisões concretas, como barrar a exploração de fósseis na Amazônia”, pontuou.

Um espaço vivo de resistência

A trajetória da Cúpula dos Povos, iniciada na Rio-92, segue como um dos principais marcos da mobilização global pela justiça climática. Mais do que um evento paralelo às conferências da ONU, trata-se de um processo contínuo de articulação entre comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, movimentos sociais, sindicais e ambientais.

Nesta edição rumo à COP30, mais de 600 organizações estão engajadas em um modelo descentralizado, enraizado nos territórios. Dorismeire Vasconcelos reforçou:

“A proposta é amplificar as vozes dos povos tradicionais e promover uma mobilização autônoma e transformadora.”

Para Renata Prata, realizar a COP30 no coração da Amazônia é mais do que simbólico — é um convite ao enfrentamento das contradições estruturais.“É a chance de ir além do turismo político. Que essa presença gere empatia, responsabilidade e, principalmente, ação concreta.”

Ela defende que a COP30 seja um ponto de virada, com discussões sobre o fim dos subsídios a combustíveis fósseis e o bloqueio de exportações de petróleo e gás para países envolvidos em violações de direitos humanos.

A Cúpula dos Povos se organiza em torno de sete eixos temáticos centrais:

-Justiça climática e reparação histórica

-Combate ao racismo ambiental e ao poder corporativo

-Feminismo popular e antipatriarcado

-Anticolonialismo e valorização da biodiversidade

-Transição justa, democrática e popular

-Territórios vivos e soberania alimentar

-Cidades justas e periferias vivas

A expectativa é reunir entre 15 mil e 30 mil pessoas entre os dias 12 e 16 de novembro de 2025, em uma programação que inclui plenárias, assembleias populares, caravanas, barqueatas e a tradicional Marcha do Clima, no dia 15. Ao final, será lançada a Declaração dos Povos, com propostas para demarcação de terras indígenas, proteção das florestas e transição energética justa.

Governança popular e legado pós-COP

A Cúpula dos Povos é coordenada por uma comissão política com 43 organizações (25 brasileiras e 18 internacionais), além de grupos temáticos, comitês de mobilização e uma equipe de captação de recursos.

Uma das novidades destacadas durante o evento, e que integra essa ampla mobilização da sociedade civil, é o Amazon Climate Hub, centro multifuncional promovido pela ARAYARA. O espaço reunirá debates científicos, jurídicos, articulações políticas e de inovação, além de expressões artísticas imersivas durante a COP30.

“O Hub será mais do que uma casa de eventos — será um símbolo da resistência e da construção coletiva pela justiça climática”, celebra a gerente de Relações Institucionais da ARAYARA.

Espiritualidade, ética e compromisso com a vida

Redes eclesiais, pastorais sociais e movimentos religiosos têm somado forças à mobilização, defendendo uma espiritualidade que se traduz em ações concretas de cuidado com a Casa Comum.

Inspirada na encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, e no cântico de São Francisco de Assis, a Cúpula envolve também a lógica da ecologia integral, que une cuidado com a vida, justiça social e valores espirituais.

Um chamado à ação contra a violência e o Ecofascismo

A Cúpula dos Povos também denuncia a violência contra defensores ambientais — com o Brasil entre os países mais letais para quem protege a natureza — e o uso distorcido do discurso ambiental por setores conservadores.

O pesquisador Roberto chamou atenção para o avanço do ecofascismo, fenômeno em que a pauta ecológica é instrumentalizada para justificar políticas xenofóbicas e autoritárias.

Depoimentos emocionantes, como a de uma mulher amazônida, atualmente agricultura no Amapá, ilustraram o sentimento de esperança:

“Saber que não estamos sozinhos e que o mundo está nos ouvindo nos dá força para continuar”, disse Aldenora durante o evento.

A luta não acaba em 2025

Ao final do evento ficou a reflexão de que a Cúpula dos Povos não se encerra com a COP30. Ela busca consolidar uma articulação permanente, fortalecendo a presença da sociedade civil nos fóruns nacionais e internacionais de decisão sobre o clima.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Leilão tem 19 blocos arrematados

O leilão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) na última semana terminou com 34 blocos de exploração de petróleo arrematados nas bacias do Parecis, Foz do Amazonas, Santos e Pelotas: uma área de 28.359,55 quilômetros quadrados. No total, 172 áreas de exploração foram colocadas em leilão. Nove empresas vencedoras — duas nacionais e sete estrangeiras —

Leia Mais »

ARAYARA fortalece representação da sociedade civil no Conama com presença ativa em câmaras técnicas

O Instituto Internacional ARAYARA amplia sua atuação no Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) ao integrar oficialmente duas câmaras técnicas fundamentais para a formulação de políticas públicas ambientais no Brasil. A decisão foi aprovada por consenso pela Bancada de Entidades da Sociedade Civil durante a 146ª Reunião Ordinária do Plenário, realizada em 11 de junho na sede do Ibama, em

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Brazilian activists vow to fight Amazon oil auction in court, hail ‘partial victory’ over unsold blocks

Brazil has faced criticism over last week’s auction of exploration blocks just months before it hosts COP30 talks focused on shifting away from fossil fuels   Amanda Magnani Editing: Helen Popper and Sebastián Rodríguez   A controversial auction of oil blocks in the Amazon by COP30 host Brazil drew bids on only 20% of the areas offered, a result that

Leia Mais »

Denúncia na CPI Rio Melchior revela graves impactos ambientais e sociais da UTE Brasília

Na véspera da oitava reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Rio Melchior, marcada para esta quinta-feira (26/06) na Câmara Legislativa do Distrito Federal, o Instituto Internacional ARAYARA protocolou um ofício à presidência da comissão solicitando a inclusão, no inquérito, da Ação Civil Pública e da liminar que suspenderam as outorgas de uso de recursos hídricos — nº 337/2023

Leia Mais »