+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

COP30 em Belém terá 30% da alimentação vinda da agricultura familiar

Regra inédita pode movimentar R$ 3,3 milhões na economia rural e promover modelo alimentar sustentável

Pela primeira vez na história, a Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP) terá uma regra específica para a alimentação dos participantes. A COP30, que acontecerá em Belém, no Pará, em novembro de 2025, exigirá que pelo menos 30% dos ingredientes utilizados na elaboração dos cardápios venham da agricultura familiar, da agroecologia e de comunidades tradicionais, priorizando práticas de base sustentável, além de empreendimentos coletivos e organizações lideradas por mulheres e pela juventude do campo. A medida, consolidada em edital publicado em agosto pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), tem o potencial de injetar R$ 3,3 milhões na economia rural da região amazônica.

A iniciativa vai muito além de um simples requisito. Ela representa um importante passo para conectar sistemas alimentares à agenda climática, demonstrando como as escolhas de cardápio podem gerar impacto econômico positivo e fortalecer práticas agrícolas sustentáveis na Amazônia. Além disso, a medida também tem como objetivo influenciar políticas públicas de alimentação e clima no Brasil e no mundo

Polêmica

A Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) publicou o edital para selecionar ,até 25 de agosto, operadores de 87 quiosques e restaurantes da COP 30, em Belém — 50 na Blue Zone e 37 na Green Zone. Entretanto, documento listava alimentos proibidos por risco de contaminação, incluindo pratos tradicionais como tucupi, maniçoba e açaí, além de sucos in natura, maionese e molhos caseiros, leite cru, doces sem refrigeração e produtos artesanais sem registro sanitário.

Para a gerente de Relações Institucionais do Instituto Internacional ARAYARA, Sara Ribeiro, “a pergunta que fica é: porque tentaram barrar os alimentos tradicionais locais? Não há justificativa plausível para isso, tanto que a decisão foi revertida. Agora, vamos acompanhar se o edital realmente incluirá esses produtos ou se continuará privilegiando alimentos industrializados, que, de fato, estão repletos de componentes preocupantes”.

O elo entre alimentação sustentável, meio ambiente e a COP30povos

O setor de alimentos é um dos maiores contribuidores para as emissões de gases de efeito estufa. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o sistema alimentar global é responsável por cerca de um terço de todas as emissões de GEE. No Brasil, esse percentual é ainda maior, chegando a 74%, principalmente devido à agropecuária e ao desmatamento, conforme dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima.

A agricultura familiar, com suas práticas agroecológicas, oferece uma alternativa viável para reduzir esse impacto. Ao priorizar o uso de alimentos produzidos sem agrotóxicos e que valorizam a biodiversidade, a COP30 se posiciona como um exemplo de como a cadeia alimentar pode ser uma poderosa aliada no combate às mudanças climáticas. Ao apoiar esses produtores, a conferência não apenas garante uma alimentação mais saudável e nutritiva para seus participantes, mas também fortalece um modelo de produção que preserva o solo, a água e a biodiversidade.

A decisão de incluir a agricultura familiar no edital está alinhada com as demandas do projeto “Na Mesa da COP30”, uma coalizão de organizações da sociedade civil liderada pelos institutos Regenera e Comida do Amanhã. O grupo defende que a alimentação da conferência deve refletir os valores de sustentabilidade e resiliência que são o cerne da discussão climática global.

Impacto financeiro e legado

O valor estimado de R$ 3,3 milhões a ser injetado na economia local é comparável a 80% do orçamento anual do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) destinado à cidade de Belém. Para as cooperativas, associações e pequenos produtores, essa injeção de recursos significa mais do que apenas um número. Representa o fortalecimento de suas atividades, dignidade e reconhecimento.

A logística para viabilizar essa compra já começou. A coalizão “Na Mesa da COP30” fez um mapeamento detalhado de cerca de 80 grupos produtores, entre associações, cooperativas e redes produtivas, que podem fornecer os alimentos. Estima-se que mais de 8 mil famílias da agricultura familiar se beneficiem diretamente da iniciativa.

A expectativa é que a experiência da COP30 deixe um legado duradouro. A meta é inspirar outras políticas públicas e práticas alimentares no Brasil e no mundo, demonstrando que é possível ter uma alimentação alinhada com os objetivos da agenda climática. A iniciativa pode ainda inspirar futuras conferências a adotarem modelos semelhantes, reforçando a mensagem de que a mudança global começa com escolhas locais e sustentáveis.

Texto: Avenida Comunicação
Foto: reprodução/ Creative Commons

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Sociedade civil participa de audiência da Câmara sobre racismo ambiental e justiça climática

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados promoveu, ontem (19), uma audiência pública para debater racismo ambiental e justiça climática. O encontro, solicitado pelo deputado Nilto Tatto (PT-SP), contou com a presença de representantes do governo, especialistas e movimentos sociais, além do Instituto Internacional ARAYARA. Nilto Tatto destacou a criminalização da população negra e indígena

Leia Mais »

COP30 em Belém terá 30% da alimentação vinda da agricultura familiar

Regra inédita pode movimentar R$ 3,3 milhões na economia rural e promover modelo alimentar sustentável Pela primeira vez na história, a Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP) terá uma regra específica para a alimentação dos participantes. A COP30, que acontecerá em Belém, no Pará, em novembro de 2025, exigirá que pelo menos 30% dos ingredientes utilizados na

Leia Mais »

Crise climática ameaça pesca e comunidades costeiras, aponta a 5ª edição da Auditoria da Pesca Brasil

A Oceana Brasil lançou, na última quarta-feira (13), a 5ª edição da Auditoria da Pesca Brasil, publicação reconhecida como a mais completa avaliação sobre a gestão das pescarias costeiro-marinhas no país. O evento reuniu pescadores, cientistas, gestores e representantes da sociedade civil para debater os desafios e prioridades da pesca sustentável em um cenário de emergência climática. O Instituto Internacional

Leia Mais »

Ministério do Meio Ambiente realiza oficina para construção do Plano Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais

Na última quarta-feira (13), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) deu início à segunda oficina de construção do Plano Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs). O Instituto Internacional ARAYARA marcou presença no encontro, que reuniu 27 das 28 representações de PCTs reconhecidos no Brasil para debater diretrizes de uma política pública capaz de transformar em

Leia Mais »