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COP30 em Belém tem nos combustíveis fósseis o principal impasse das negociações, afirmam especialistas

China, EUA e Índia lideram emissões, enquanto países vulneráveis sofrem impactos desproporcionais da crise climática

A COP30 carrega um elefante na sala das negociações em Belém: os combustíveis fósseis. Para especialistas, o tema deve se consolidar como o principal ponto de impasse entre os países e ameaça comprometer o consenso necessário para um acordo global. Enquanto algumas nações defendem e avançam em direção a uma transição energética, Índia, Arábia Saudita, China e Estados Unidos seguem ampliando suas emissões e influenciando outros. 

China, Estados Unidos e Índia ocupam, nessa ordem, as primeiras posições entre os maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE) provenientes da queima de combustíveis fósseis. Em 2022, os Estados Unidos registraram 6,28 bilhões de toneladas de GEE, ficando atrás apenas da China, com 12,67 bilhões de toneladas, segundo dados do Instituto Potsdam. Já em 2021, a Índia alcançou 2,79 bilhões de toneladas, superando, sozinha, as emissões conjuntas de todos os países da União Europeia, segundo dados do The Global Carbon Project.

A presença dos Estados Unidos na COP30 segue incerta. Em julho, o presidente Donald Trump demitiu todos os servidores do Escritório de Mudança Global do Departamento de Estado e retirou o país, novamente, do Acordo de Paris (que tem como objetivo limitar o aquecimento global a 1,5 °C). Em meio ao enfraquecimento das relações diplomáticas na área ambiental, Trump declarou na última terça-feira (26) que países que investem em energia verde estão “se arruinando” e que apenas as fontes fósseis e nucleares “realmente funcionam”, o que demonstra o seu negacionismo e ganância perante a perda de vidas no agravamento da crise climática.

Embora a maior parte das emissões esteja concentrada no hemisfério norte, é nas comunidades vulneráveis que recaem os impactos mais severos. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a África responde por apenas 3% das emissões globais, mas o continente aquece em ritmo mais acelerado que a média mundial. O relatório projeta que, até 2030, cerca de 118 milhões de africanos poderão viver em extrema pobreza e expostos a secas, inundações e ondas severas de calor.

Segundo Sara Ribeiro, gerente de Relações Institucionais do Instituto Internacional ARAYARA, a postura desses Estados pode gerar conflitos decisivos nas minúcias da redação final dos compromissos da conferência. Quando não há acordo, temas cruciais, como a definição de redução de emissões do setor fóssil, ficam suspensas. Isso ocorreu, por exemplo, na COP29, no Azerbaijão, que terminou sem um acordo de financiamento realista.

Sara ressalta a preocupação na priorização da agenda de adaptação ambiental, que é necessária, porém num cenário de continuidade alarmante de aumento das emissões. Para ela, a prioridade deve ser a mitigação, “combater as consequências sem combater a fonte do problema é tapar o sol com a peneira”.

“É como se uma pessoa estivesse doente e optássemos apenas por aliviar os sintomas, em vez de buscar a cura. Quando falamos em adaptação às mudanças climáticas, estamos tratando de medidas paliativas, que podem trazer algum alívio, mas não resolvem a exponencialidade dos eventos extremos. A mitigação, por outro lado, é o caminho para atacar a raiz dessa doença: significa eliminar o ‘vírus’ das emissões, como as provenientes de combustíveis fósseis, em vez de simplesmente aprender a conviver com ele de forma mais “confortável”, pois quem tem acesso a esse conforto momentâneo são justamente os  mais ricos. Sem esse esforço, os governos estarão condenando os mais vulneráveis aos efeitos mais graves da crise climática”, explica a gerente de Relações Institucionais do Instituto Arayara.

Para o diretor técnico da ONG, Juliano Bueno, há um risco crescente de que os recursos financeiros sejam usados para financiar tecnologias caras e centralizadas. Esses investimentos perpetuam a dependência de megaprojetos fósseis, como as usinas a gás, ao invés de apoiar soluções energéticas comunitárias e sustentáveis.

“Não podemos falar em transição energética justa enquanto bilhões de dólares continuam sendo direcionados à expansão de infraestruturas fósseis. Precisamos redirecionar esse fluxo para energias limpas, com devidas consultas e cocriação comunitária, gerando impactos positivos sobre populações vulneráveis”, afirma o engenheiro, doutor em Urgências e Emergências Ambientais.

Consequências da falta de consenso

A frustração em torno de uma COP sem consensos e avanços reais, pode minar a confiança da sociedade, que já denuncia o crescente avanço dos lobbies poluidores no evento. O risco, de acordo com Sara Ribeiro, é que uma conferência inconclusiva passe a imagem de que os países não estão comprometidos com a urgência climática e com um futuro habitável no único planeta capaz de abrigar nossa complexidade biológica. As partes estariam deixando assim, de cumprir sua responsabilidade para com os seres vivos de todas as espécies. Nesse sentido, o Balanço Ético Global vem, na COP30, articular movimentos e denunciar essa postura.

Na ausência de um consenso amplo, a tendência é que surjam coalizões voluntárias e pactos regionais fora do guarda-chuva da ONU, como o Compromisso da High Ambition Coalition. A declaração política reúne mais de 100 países, incluindo nações Africanas, União Européia e aliados, para pressionar metas mais rigorosas de redução de emissões e garantir a neutralidade de carbono até 2050. A união foi criada durante a COP21, em 2015, e teve papel central na inclusão de metas para limitar o aquecimento a 1,5ºC no Acordo de Paris.

Por: Júlia Sabino/ Avenida Comunicação

Foto: reprodução/ Creative Commons

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