+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Conferência Distrital do Meio Ambiente repudia instalação de usina termelétrica da Termo Norte Energia no DF

A 5ª Conferência Distrital do Meio Ambiente, realizada em Brasília nos dias 22 e 23 de fevereiro, reuniu representantes da sociedade civil, gestores públicos, ambientalistas e especialistas para debater estratégias de enfrentamento às mudanças climáticas e o fortalecimento da governança ambiental no Distrito Federal. O evento, coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente do DF (Sema-DF), teve como tema central a “Emergência Climática — O desafio da transformação ecológica”.

 

Entre os encaminhamentos do encontro, destaca-se a elaboração de uma carta de repúdio à implantação da Usina Termelétrica (UTE) Brasília, empreendimento da empresa Termo Norte Energia. O documento lista dez impactos socioambientais negativos que a instalação da usina pode gerar no DF, reforçando preocupações com a poluição do ar, a degradação dos recursos hídricos e a incompatibilidade do projeto com as metas de sustentabilidade da região.

Impactos do projeto

Um dos pontos mais sensíveis levantados pela Conferência é o aumento das emissões de gases de efeito estufa. “O estudo de impacto ambiental da UTE Brasília estima uma emissão anual de 4,7 milhões de toneladas de CO2, agravando o aquecimento global. A queima de gás natural também libera óxidos de nitrogênio (NOx) e outros poluentes nocivos à saúde pública, potencializando doenças respiratórias e cardiovasculares”, explica o gerente de Transição Energética da ARAYARA, John Wurdig.

Outro ponto destacado pelo engenheiro ambiental é o impacto sobre os recursos hídricos. “A usina demandaria uma captação de 110 m³/h de água, com uma perda estimada de mais de 144 mil litros diários no processo de resfriamento”, alerta. Segundo Wurdig, a região do Rio Melchior, onde o empreendimento seria instalado, já sofre com poluição severa e escassez hídrica, tornando a instalação da usina ainda mais preocupante.

Além dos impactos ambientais, o projeto é criticado por ser incoerente com a política climática e energética sustentável, sobretudo , em ano de COP no Brasil. “Investir em termelétrica a gás natural — um combustível fóssil — desvia recursos que poderiam ser aplicados na ampliação de fontes limpas como solar e eólica”, ressalta o diretor técnico da ARAYARA, Juliano Bueno de Araújo.

Araújo também pontua que a localização da usina também gera preocupações. “O empreendimento está previsto para ser construído a aproximadamente 35 km da Praça dos Três Poderes, o que pode afetar diretamente a qualidade do ar da capital federal”, declara. Além disso, a Escola Classe Guariroba, que atende cerca de 560 alunos, pode ser demolida para dar lugar à usina, impactando famílias e a educação local.

Durante a fase de operação, a previsão é que a usina gere apenas 80 empregos, muitos deles ocupados por profissionais de fora da localidade. “A automação não resultará em empregos significativos e poderá causar prejuízos à saúde pública do DF, estimados em mais de 100 milhões de reais por ano, devido à piora na qualidade do ar. Dessa forma, não haverá benefícios reais para a população, nem para o clima e o meio ambiente”, afirma Araújo.

Investigação e mobilização

Diante da situação, parlamentares do Distrito Federal anunciaram a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as causas da poluição do Rio Melchior, incluindo a relação do empreendimento da Termo Norte Energia com a degradação ambiental da região.

A audiência pública do processo de licenciamento ambiental prévio junto ao IBAMA está marcada para o dia 12 de março, às 18h, onde a população terá oportunidade de se manifestar sobre o projeto. Durante o evento, a empresa Termo Norte Energia apresentará os estudos de impacto ambiental da usina e responderá a questionamentos da comunidade.

Movimentos sociais e ambientalistas, como a campanha #XôTermelétrica, seguem mobilizados contra o empreendimento, defendendo um modelo energético limpo e sustentável para o Distrito Federal.

“Em 2024 o Distrito Federal quebrou o recorde de maior período de seca de sua história, foram 167 dias sem chuva e agora a população desta Região do rio Melchior teme com a instalação da UTE Brasília, um verdadeiro “vampiro hídrico” que acentuará o contexto de racismo ambiental desta localidade do Distrito Federal”, alerta Araújo.  

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Em ano de COP no Brasil, governo lança edital para contratar termelétricas a carvão

Ministério de Minas e Energia (MME) abre consultas públicas que preveem a contratação de termelétricas fósseis, consideradas as mais poluentes. Anúncio marca a volta do carvão à agenda de leilões de energia no Brasil após 11 anos Faltando 76 dias para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA), o governo federal reacendeu uma polêmica no

Leia Mais »

Desafios da Transição Energética Justa é tema de palestra em Semana Acadêmica da UFSC

Evento integrou a Semana Acadêmica de Engenharia Ambiental da UFSC e trouxe reflexões sobre o PL da Devastação, os riscos da Licença Ambiental Especial e as dificuldades da política energética em Santa Catarina. O desafio da transição energética justa diante do recém-sancionado PL da Devastação (a Nova Lei de Licenciamento Ambiental, Nº 15.190, de 08/08/2025) foi tema da palestra do

Leia Mais »

Evento sobre litigância climática para transição energética justa fortalece alianças e estratégias jurídicas coletivas

Organizações, juristas e movimentos sociais se reuniram na PUC-Rio em encontro nacional para discutir caminhos jurídicos e políticos diante do avanço dos combustíveis fósseis e da crise climática. Nos dias 25 e 26 de agosto de 2025, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) sediou o Encontro Nacional sobre Litigância Climática para a Transição Energética Justa e o

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia:AL: Projeto inédito no país quer estocar gás no subsolo e avança sob receio

Um investimento bilionário quer implantar no Brasil, pela primeira vez, a tecnologia de estocagem de gás natural no subsolo. O projeto comercial pioneiro na América Latina está avançando em Pilar, cidade de 35 mil habitantes na região metropolitana de Maceió, onde existe uma das maiores reservas do país —e que são exploradas há quatro décadas. Os riscos e regras da

Leia Mais »