A 5ª Conferência Distrital do Meio Ambiente, realizada em Brasília nos dias 22 e 23 de fevereiro, reuniu representantes da sociedade civil, gestores públicos, ambientalistas e especialistas para debater estratégias de enfrentamento às mudanças climáticas e o fortalecimento da governança ambiental no Distrito Federal. O evento, coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente do DF (Sema-DF), teve como tema central a “Emergência Climática — O desafio da transformação ecológica”.
Entre os encaminhamentos do encontro, destaca-se a elaboração de uma carta de repúdio à implantação da Usina Termelétrica (UTE) Brasília, empreendimento da empresa Termo Norte Energia. O documento lista dez impactos socioambientais negativos que a instalação da usina pode gerar no DF, reforçando preocupações com a poluição do ar, a degradação dos recursos hídricos e a incompatibilidade do projeto com as metas de sustentabilidade da região.
Impactos do projeto
Um dos pontos mais sensíveis levantados pela Conferência é o aumento das emissões de gases de efeito estufa. “O estudo de impacto ambiental da UTE Brasília estima uma emissão anual de 4,7 milhões de toneladas de CO2, agravando o aquecimento global. A queima de gás natural também libera óxidos de nitrogênio (NOx) e outros poluentes nocivos à saúde pública, potencializando doenças respiratórias e cardiovasculares”, explica o gerente de Transição Energética da ARAYARA, John Wurdig.
Outro ponto destacado pelo engenheiro ambiental é o impacto sobre os recursos hídricos. “A usina demandaria uma captação de 110 m³/h de água, com uma perda estimada de mais de 144 mil litros diários no processo de resfriamento”, alerta. Segundo Wurdig, a região do Rio Melchior, onde o empreendimento seria instalado, já sofre com poluição severa e escassez hídrica, tornando a instalação da usina ainda mais preocupante.
Além dos impactos ambientais, o projeto é criticado por ser incoerente com a política climática e energética sustentável, sobretudo , em ano de COP no Brasil. “Investir em termelétrica a gás natural — um combustível fóssil — desvia recursos que poderiam ser aplicados na ampliação de fontes limpas como solar e eólica”, ressalta o diretor técnico da ARAYARA, Juliano Bueno de Araújo.
Araújo também pontua que a localização da usina também gera preocupações. “O empreendimento está previsto para ser construído a aproximadamente 35 km da Praça dos Três Poderes, o que pode afetar diretamente a qualidade do ar da capital federal”, declara. Além disso, a Escola Classe Guariroba, que atende cerca de 560 alunos, pode ser demolida para dar lugar à usina, impactando famílias e a educação local.
Durante a fase de operação, a previsão é que a usina gere apenas 80 empregos, muitos deles ocupados por profissionais de fora da localidade. “A automação não resultará em empregos significativos e poderá causar prejuízos à saúde pública do DF, estimados em mais de 100 milhões de reais por ano, devido à piora na qualidade do ar. Dessa forma, não haverá benefícios reais para a população, nem para o clima e o meio ambiente”, afirma Araújo.
Investigação e mobilização
Diante da situação, parlamentares do Distrito Federal anunciaram a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as causas da poluição do Rio Melchior, incluindo a relação do empreendimento da Termo Norte Energia com a degradação ambiental da região.
A audiência pública do processo de licenciamento ambiental prévio junto ao IBAMA está marcada para o dia 12 de março, às 18h, onde a população terá oportunidade de se manifestar sobre o projeto. Durante o evento, a empresa Termo Norte Energia apresentará os estudos de impacto ambiental da usina e responderá a questionamentos da comunidade.
Movimentos sociais e ambientalistas, como a campanha #XôTermelétrica, seguem mobilizados contra o empreendimento, defendendo um modelo energético limpo e sustentável para o Distrito Federal.
“Em 2024 o Distrito Federal quebrou o recorde de maior período de seca de sua história, foram 167 dias sem chuva e agora a população desta Região do rio Melchior teme com a instalação da UTE Brasília, um verdadeiro “vampiro hídrico” que acentuará o contexto de racismo ambiental desta localidade do Distrito Federal”, alerta Araújo.