+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Climate Week NYC debate sobre os dois lados da tecnologia para defensores climáticos

Na última semana, ativistas, jornalistas e lideranças internacionais se reuniram no Lever House, em Nova York, para o painel “A Espada dos Oponentes e o Escudo dos Defensores”, promovido pela Global Climate Legal Defense em parceria com o Instituto Internacional ARAYARA. O debate integrou a programação da Climate Week NYC, paralela à Assembleia Geral da ONU, e teve como foco o papel ambíguo da tecnologia: ao mesmo tempo em que amplia riscos de vigilância e ataques digitais contra defensores, também pode ser um instrumento poderoso de mobilização e proteção.

A ARAYARA foi representada por Heloísa Simão, pesquisadora do programa Defensores dos Defensores. Ela destacou a importância de integrar a comunicação às estratégias de proteção de ativistas e movimentos socioambientais, em um contexto de crescentes violações de direitos, inclusive nos Estados Unidos. Para Simão: “É essencial que organizações da sociedade civil construam planos de proteção holística junto com os defensores, incorporando comunicação segura, formação em segurança digital e apoio jurídico e psicológico.”

O painel também discutiu a necessidade de enfrentar campanhas de difamação, processos judiciais abusivos e discursos de ódio que se intensificam nas redes sociais. Um ponto central foi o papel da mídia independente e da comunicação indígena na construção de narrativas próprias sobre justiça climática, rompendo com a lógica de invisibilidade imposta pelos veículos tradicionais e pelos algoritmos das grandes plataformas. A formação de comunicadores nos territórios para este fim foi apresentada como ponto fundamental.

Participantes lembraram ainda que a produção e divulgação de dados confiáveis, como faz a Global Witness, pode pressionar governos a agir para proteger defensores. O uso estratégico dessas informações tem potencial de gerar mudanças reais em políticas públicas nacionais e internacionais. “Se você tem um país que é tido como o que mais que mais mata defensores em determinado ano, isso gera impacto no governo e você tem reações a isso”, explica Javier Garate, assessor de políticas públicas da organização.

Outro aspecto debatido foi a responsabilidade das grandes empresas de tecnologia na proteção de ativistas. Relatório apresentado no painel mostrou que apenas 12% dos defensores que sofreram ataques digitais sentiram ter recebido algum tipo de reparação das plataformas. Esse dado reforça a urgência de regulação mais efetiva para garantir uma internet segura, com maior responsabilidade das empresas e compromisso com os direitos humanos.

O encontro deixou claro que a tecnologia é, ao mesmo tempo, risco e oportunidade. Para os defensores do clima, ela pode ser escudo quando usada para fortalecer redes de solidariedade, visibilizar narrativas invisibilizadas e ampliar a proteção dos territórios. Mas também pode ser espada nas mãos de quem busca silenciar vozes críticas. O desafio, concluíram os participantes, é construir coletivamente caminhos para que a tecnologia esteja a serviço da justiça climática e da defesa da vida.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Ibama arquiva último projeto de usina a carvão mineral no país

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) anunciou, nesta segunda-feira (10/11) o arquivamento em definitivo do processo de licenciamento para a construção da Usina Termelétrica (UTE) Ouro Negro, em Pedras Altas, no Rio Grande do Sul. Este era, até então, o último projeto para um empreendimento fóssil de carvão mineral no país em análise pelo

Leia Mais »

COP30: CNDH recomenda suspensão do licenciamento da UTE Brasília por riscos socioambientais e violação de direitos humanos

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) emitiu a Recomendação nº 14/2025, acolhendo pedido do Instituto Internacional ARAYARA para suspender o licenciamento ambiental da Usina Termelétrica (UTE) Brasília, em Samambaia (DF). A deliberação, aprovada por unanimidade na 93ª reunião do colegiado, ocorreu após sustentação oral de John Wurdig, gerente de Transição Energética da ARAYARA, que representou a entidade durante a

Leia Mais »

Movimentos territoriais, costeiros e energéticos debatem justiça climática em evento do ARAYARA Amazon Climate Hub

Na manhã desta quarta-feira (12), o ARAYARA Amazon Climate Hub sediou o diálogo “Construindo Ação Coletiva pela Justiça Climática: Vozes dos Movimentos Territoriais, Costeiros e Energéticos”, reunindo líderes de povos indígenas, pescadores artesanais e comunidades tradicionais da América Latina, Caribe e África. O encontro teve como objetivo discutir estratégias de justiça climática e compartilhar soluções concretas para um futuro sustentável

Leia Mais »

Proteção dos direitos humanos é central na corrida por uma transição energética justa

No contexto da urgência climática, a transição energética tem avançado em escala global, com a expansão de projetos renováveis e o aumento da demanda por minerais de transição, como lítio, cobalto e níquel. No entanto, grande parte dessas iniciativas ocorrem em territórios indígenas e camponeses do Sul Global, gerando denúncias de violações de direitos humanos e impactos ambientais significativos. Para

Leia Mais »