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ARAYARA na Mídia: Além da hospedagem, COP em Belém sofre com escassez de mão de obra e já ‘importa’ profissionais

Alta demanda cria dificuldade na contratação de operadores de som, tradutores e motoristas, entre outros

Os altos preços para hospedagens na COP30 não são o único obstáculo de logística enfrentado por delegações e ONGs em Belém. Diante da demanda excepcional, há dificuldade para contratar prestadores de serviços como motoristas, operadores de som e tradutores, o que resultou até na “importação” de profissionais de São Luís e no uso de equipes remotas. Além disso, especialistas em políticas de turismo da Universidade de São Paulo (USP) que analisaram documentos oficiais do evento identificaram falhas na definição de rotas de transporte e na padronização de cardápios, conforme exigido em megaeventos internacionais.

No início do mês, o Instituto Internacional Arayara questionou na Justiça os preços em reservas para a COP30, mas outro problema para a instituição tem sido montar a Amazon Climate Hub, espaço de eventos que o Arayara organiza para receber 120 eventos paralelos durante a COP. Diretor da ONG, Juliano Araújo diz que o principal gargalo é a falta de mão de obra ainda disponível em Belém, onde só conseguiu contratar, com dificuldades, motoristas, seguranças e pessoal de faxina e copa.

Já motoristas, pintores e recepcionistas bilíngues, operadores de som, de iluminação, e outros funcionários que atuam na produção de eventos e de transmissões on-line serão “importados” de São Luís, a capital mais próxima. A maioria dos tradutores simultâneos e editores de áudio e vídeo, diz, devem trabalhar remotamente durante as palestras.

— Temos que trazer mão de obra de São Luís do Maranhão, que fica a seis, oito horas, de ônibus para complementar. Dependendo da situação, até mesmo de outras capitais, porque não tem mais essa mão de obra disponível lá em Belém, de eletricista a técnicos de som e iluminação — afirma Araújo, que citou necessidade de se investir em soluções tecnológicas. — Cortes de vídeos e áudios serão feitos parcialmente por uma equipe remota que fica em São Paulo e Brasília.

Serviços mais caros

Uma das consequências é o encarecimento dos serviços em Belém. Araújo deu como exemplo o preço pago para instalação de ar-condicionado no pavilhão de eventos. Segundo ele, o valor foi mais que o dobro que o preço habitual.

Pesquisadora de políticas de turismo da USP, Mariana Aldrigui analisou os documentos oficiais da COP30, incluindo o dossiê entregue à ONU sobre a candidatura de Belém, para avaliar o planejamento de logística. Ela e Juliana Aranega finalizam o artigo “COP30 em Belém: os improvisos que ameaçam a imagem do Brasil no palco internacional”, que compara o que foi feito dentro de um padrão de qualidade de megaeventos internacionais.

Alguns dos gargalos encontrados são a ausência de rotas de transporte que serão utilizadas pelas delegações, de rotas de emergência de saúde, e da contratação de menus padronizados e orientações quanto às adaptações necessárias a algumas delegações, por exemplo muçulmanas e judaicas.

Um exemplo do desafio é a logística para que os hóspedes que ficarão em embarcações cheguem ao local das conferências. Atingir o tempo de 30 minutos para o trajeto, anunciado pela organização, não é tão simples. Especialistas alertam que o percurso, com múltiplas etapas e gargalos conhecidos, pode facilmente triplicar esse tempo.

Mariana Aldrigui explica que não é necessária a divulgação pública das rotas oficiais que serão reservadas para passagens de delegações e batedores, cena comum em megaeventos com muitas autoridades internacionais, como Olimpíada e encontro do G20, mas que não foi possível identificar alternativas seguras para o deslocamento de 50 mil pessoas. Ela citou a distância entre o local do evento e os transatlânticos atracados na Ilha Caratateua, conhecida como Outeiro, onde haverá 6 mil leitos, como um dos possíveis pontos críticos do trânsito.

— O que ficamos pensando é como isso será administrado, considerando o efeito da chuva que normalmente para a cidade nessa época, em meio a passagens de três, quatro veículos da mesma delegação mais batedores — alerta a especialista, que acrescenta a necessidade de se ter rotas de emergência. — Para qualquer evento de aglomeração, precisa de ambulâncias, socorristas.

Em relação ao cardápio, Aldrigui explica que, em eventos internacionais desse porte, recomenda-se uma mínima padronização de alimentos, a fim de minimizar riscos. Além disso, ela chama a atenção para a necessidade de se planejar a demanda de cardápios adaptados a comunidades étnicas:

— A gente não viu apontamento de foco para alimentação da comunidade islâmica, por exemplo. Não é que não vá ter, mas a gente não encontrou a informação, apenas a sinalização do Senac e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) de que essa oferta será respeitada.

Para Mariana Aldrigui, todos esses problemas evidenciam uma falha anterior, de planejamento prévio. Na sua avaliação, uma das dificuldades é a falta da construção de uma política de turismo a longo prazo.

Itinerários exclusivos

Ao GLOBO, a Secretaria Extraordinária para a COP30 afirma que definiu “13 itinerários exclusivos para o transporte de delegados entre os locais de hospedagem e o Parque da Cidade”, onde ocorrerá a conferência, com base em estudos de fluxo e segurança, e que haverá reforço no transporte público — o governo do Pará comprou 265 novos ônibus —, além da previsão de “hubs de transporte por aplicativo e táxis próximos ao perímetro do evento”. Já “os cardápios estão sendo desenvolvidos com especial atenção à diversidade cultural, ao equilíbrio nutricional e ao compromisso com a sustentabilidade”. Segundo a Secop, haverá alternativas veganas, sem glúten e sem lactose.

Em relação à mão de obra, a pasta diz que foi contratada empresa de prestação de serviços de motoristas para delegações e que vai contratar empresa para tradução. O governo do Pará respondeu que o programa Capacita COP30, com mais de cem cursos nas áreas de turismo, produção alimentícia, infraestrutura e segurança do trabalho, já emitiu 22 mil certificados e que mais de 200 novos guias de turismo se formaram pela Escola Técnica do Estado do Pará desde que Belém foi anunciada como sede da COP.

Fonte: O Globo

Foto: reprodução/ O globo/  Alex Ribeiro/ Agência Pará

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