+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

ARAYARA na Mídia: Petrobras tenta expandir área licenciada na Foz do Amazonas

Com permissão para perfurar bloco FZA-M-59 em mãos, empresa usa o mesmo processo para tentar abrir outros três poços de petróleo adjacentes. ONGs vão à Justiça contra autorização do Ibama.

Um dia após obter a licença para perfurar o poço FZA-M-59 na bacia marítima da Foz do Amazonas, a Petrobras pediu autorização para abrir mais três usando o mesmo processo. Em documento encaminhado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a petroleira pede um ajuste na permissão dada pelo órgão no último dia 20 para contemplar a liberação de outros três poços nas proximidades.

O documento ao qual a DW teve acesso afirma que “os três poços contingentes estavam previstos desde o início do processo de licenciamento ambiental” e que a Petrobras compreendeu que eles foram mantidos.

Em sua argumentação, a estatal faz uma “proposta de redação” em pontos específicos do texto da autorização emitida pelo Ibama. A versão sugerida é: “Esta Licença de Operação autoriza a perfuração de um poço (Morpho) nas coordenadas 5° 17′ 10,365″ N e 50° 6′ 15,018″ W e de três poços contingentes”, chamados de Manga, Maracujá e Marolo, a uma média de 178 quilômetros da costa.

Fontes internas do Ibama ouvidas pela DW sob condição de anonimato alegam que o processo conduzido e autorizado considerou apenas os impactos do FZA-M-59. Ou seja, as três novas perfurações solicitadas não passaram pelo mesmo crivo técnico.

Questionado, o órgão e a Petrobras não responderam até a publicação desta reportagem.

Ação na Justiça

Após a autorização recebida pela Petrobras para perfurar o poço 59, organizações da sociedade civil tentam frear a licença. Nesta quinta-feira (23/10), uma ação foi protocolada na Justiça Federal do Pará contra a empresa, o Ibama e a União.

Segundo o processo, o licenciamento teria atropelado as populações indígenas e tradicionais. Terras Indígenas (TIs), quilombos, colônias de pescadores e unidades de conservação estão na zona de influência do empreendimento e essas comunidades não foram ouvidas.

Outra fragilidade estaria na modelagem que prevê impactos ambientais em caso de vazamento. Os dados usados pela petroleira para fazer este cálculo são de 2013 e estariam desatualizados, já que há informações de 2024 disponíveis. O modelo usado teria falhas que comprometem a segurança da atividade, segundo Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima (OC).

“Na própria licença, o Ibama requer uma nova modelagem para daqui a um ano. Se precisa de modelagem atualizada, por que emitiram a licença?”, questiona Araújo.

Do ponto de vista de política pública, a decisão de autorizar a Petrobras a seguir adiante com a prospecção na costa amazônica é ruim porque sinaliza que o Brasil vai liberar esta nova frente de expansão, alega Araújo.

“É um equívoco técnico. Estamos numa emergência climática, não está na hora de intensificar a produção de petróleo em nenhum lugar do mundo”, diz a porta-voz do OC, lembrando que as emissões da queima do combustível fóssil são as maiores responsáveis pelas mudanças climáticas em curso.

Em junho último, a Petrobras arrematou 10 dos 19 blocos oferecidos no leilão para exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). Outras petroleiras, como ExxonMobil, Chevron e CNPC, também fizeram negócio.

 

Cerca de vinte horas após conseguir a autorização, a Petrobras comunicou às autoridades que estaria pronta no local para começar a perfuração no bloco 59. Acionada pela Justiça após o processo movido pelas ONGs, a Advocacia Geral da União (AGU) pediu um prazo mínimo de dez dias para que a União se manifeste antes de uma decisão liminar.

Quando a Justiça freou o petróleo

Em Santa Catarina, uma decisão recente do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF4) suspendeu a licença de exploração de dois blocos de petróleo oferecidos num leilão da ANP no fim de 2023 na Bacia do Paraná. A região, no oeste de Santa Catarina, está numa zona de conflito por coincidir com a área de usufruto da Terra Indigena Rio dos Pardos, e o processo de licenciamento não ouviu a população afetada.

“A oferta permanente de concessão de blocos exploratórios de petróleo e gás deve ser precedida de consulta às comunidades tradicionais, que tem como finalidade assegurar a participação plena e efetiva destes grupos minoritários na tomada de decisões que possam afetar sua cultura e seu modo de viver”, diz um trecho da decisão judicial, assinada pelo desembargador federal Rogerio Favreto.

A consulta e o consentimento prévio, livre e informado de comunidades tradicionais afetadas por empreendimentos é obrigatória segundo a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo Brasil em 2002.

“É um precedente bem forte que pode influenciar o processo atual sobre a Foz do Amazonas. No caso da Bacia do Paraná, houve um recurso da ANP, mas eles perderam”, comenta Nicole Oliveira, diretora-executiva do Instituto Internacional Arayara e bacharel em Direito.

Segundo Oliveira, a empresa que adquiriu os blocos não sabia que eles estavam próximos à TI e, quando foi acionada na Justiça, disse ser favorável ao cancelamento do contrato.

O Instituto Arayara é uma das organizações que processam governo e Petrobras no caso da Foz do Amazonas. Também assinam a ação a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos Extrativistas Costeiros e Marinhos (Confrem), Greenpeace Brasil, Observatório do Clima e WWF-Brasil.

Meio ambiente nos tribunais

Alguns casos recentes mostram que a proteção do meio ambiente tem motivado cada vez mais ações judiciais. Em junho de 2024, uma decisão liminar suspendeu a licença prévia para a reconstrução e asfaltamento do trecho do meio da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho. O processo, movido pelo Observatório do Clima, alerta que a pavimentação da estrada causaria a explosão do desmatamento no estado do Amazonas, que é ainda bem preservado. A licença havia sido concedida no governo Bolsonaro, mas Lula tem dito que a obra seria viável.

Em 2014, o mesmo TRF4 suspendeu a licença de instalação da usina hidrelétrica Baixo Iguaçu, no Paraná. A autorização havia sido dada pela secretaria estadual. Um dos argumentos para o cancelamento da obra foi a proximidade com a zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu, uma unidade de conservação federal.

Fonte: DW Brasil

Foto: Reprodução / Wang Tiancong/ XinHua/ picture alliance

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Ato em Belém denuncia ameaça da exploração de petróleo na Foz do Amazonas

Na noite desta terça-feira (21), movimentos sociais, organizações ambientais, pescadores e lideranças comunitárias se reuniram em Belém (PA) para protestar contra a autorização de perfuração do bloco FZA-M-59, na Foz do Amazonas. O ato — que teve concentração na Escadinha do Cais do Porto e seguiu até a Estação das Docas — reuniu dezenas de pessoas em defesa da vida,

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Ambientalistas entram com ação para interromper perfuração da Petrobras na Margem Equatorial

Oito organizações e redes dos movimentos ambientalistas, indígena, quilombola e de pescadores artesanais entraram na quarta-feira, 22, com uma ação na Justiça Federal do Pará contra o Ibama, a Petrobras e a União, pedindo anulação do licenciamento do bloco FZA-M-59, que permitiu à Petrobras iniciar a perfuração de petróleo na bacia sedimentar da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial brasileira.

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: NGOs sue to suspend Petrobras drilling in the Foz do Amazonas basin and challenge Ibama’s license, focusing on environmental impact and traditional peoples.

NGOs file a lawsuit in the Federal Court of Pará to block Petrobras’ drilling in the Foz do Amazonas basin, alleging environmental risks and questioning the license granted by Ibama. This Wednesday (22), a group of NGOs filed a public civil action in the Federal Court of Pará to suspend drilling of oil by Petrobras in the Foz do Amazonas basin. According to information

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: ONGs vão à Justiça pedir anulação do aval à exploração do petróleo na Foz do Amazonas

Ação movida na Justiça Federal do Pará pede liminar para suspender perfuração Oito organizações não-governamentais, incluindo redes do movimento ambientalista, indígena, quilombola e de pescadores artesanais, entraram na quarta-feira com uma ação na Justiça Federal do Pará pedindo a anulação do aval à exploração do petróleo na Foz do Amazonas. A licença à estatal foi concedida pelo Ibama no último

Leia Mais »