Ambientalistas alegam que lobistas da indústria de combustíveis fósseis têm inundado os espaços de negociação climática global
BRASÍLIA — Um grupo de mais de 260 organizações de diversos países divulgou uma carta (.pdf), nesta terça (18/3), cobrando da presidência da COP30 a adoção de mecanismos eficazes de transparência e medidas contra a influência indevida do lobby dos combustíveis fósseis e agronegócio.
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas está marcada para novembro, em Belém (PA), sob a presidência do Brasil. O documento foi enviado ao governo brasileiro e ao secretariado da UNFCCC (Convenção da ONU sobre o Clima).
A preocupação das organizações ambientais e climáticas é evitar o bloqueio, por parte de representantes da indústria de petróleo, gás e carvão, além do agro, de acordos ambiciosos para implementação de políticas de corte de emissões de gases de efeito estufa.
“Com queimadas avassaladoras em Los Angeles, trágicas enchentes no Brasil e no Sul Asiático, secas na Amazônia e na África Central, estamos adentrando uma nova realidade perigosa que demanda uma ação climática urgente. Entretanto, por muito tempo, lobistas do ramo de combustíveis fósseis têm inundado os espaços de negociação climática global anual, as Conferências das Partes (COPs)”, começa a carta.
“Ao lado de outras indústrias altamente poluidoras (por exemplo, o setor agropecuário no Brasil), os lobistas têm atrasado os processos de eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, de redução das emissões e de proteção das comunidades afetadas”, critica.
O documento é assinado por organizações internacionais como Oxfam International, WWF, Human Rights Watch, Greenpeace International, Médicos sem Fronteiras, Global Witness e Fundação Arayara. Entre as brasileiras estão Observatório do Clima, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e Instituto E+.
O grupo sugere a adoção de quatro medidas pela presidência brasileira da COP30, no curto prazo, e pela UNFCCC, nas próximas conferências: política de conflito de interesses, padrões de transparência, condicionamento de acordos do país anfitrião com indústria poluidoras à aprovação da UNFCCC, e reformas no processo de seleção da presidência das COPs.
“Uma estrutura com transparência e accountability, que priorize as pessoas ao invés dos agentes poluidores, recuperará a confiança nos processos da COP e acelerará o avanço dos objetivos do Acordo de Paris. Sem essas reformas, há o risco de que a diplomacia climática global permaneça um exercício vazio, incapaz de combater a crise mais urgente da atualidade”, completa.
Fonte: Eixos
Foto: reprodução: Peter Kronish/COP29