+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

ARAYARA na Mídia: Da Foz do Amazonas a Fernando de Noronha: a vida leiloada em 172 blocos de petróleo

Ações judiciais tentam impedir o ataque do governo Lula contra a Natureza e seus povos a menos de cinco meses da COP na Amazônia, que vai discutir o fim da produção de combustíveis fósseis, responsáveis por mais de 75% das emissões dos gases que aquecem o planeta

Vinte blocos de exploração de petróleo cercam completamente duas Terras Indígenas em Mato Grosso cujos limites já foram declarados e que esperam a demarcação. Outro bloco fica a cerca de 220 quilômetros da Reserva Biológica do Atol das Rocas, no litoral do Rio Grande do Norte. Este e mais 15 blocos se encontram próximos ou sobrepostos à Cadeia de Montes Submarinos de Fernando de Noronha, reconhecida pela biodiversidade que abriga. Trinta e quatro blocos no litoral do Rio Grande do Sul estão numa região de “alta produtividade biológica e complexidade oceanográfica”, o que a torna “essencial para reprodução e alimentação de diversas espécies de peixes”, de acordo com um relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o Ibama.

Tudo isso está incluído no leilão que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, a ANP, marcou para 17 de junho.

E tem ainda 47 blocos da Bacia da Foz do Amazonas, região ímpar da costa brasileira em termos de riqueza e sensibilidade ambientais, onde nenhuma das empresas petrolíferas que arremataram nove áreas há 12 anos, em 2013, conseguiu a licença do Ibama para fazer perfuração. Isso pode mudar agora, depois que o presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, contrariando um parecer de 29 técnicos, deu o sinal verde para a Petrobras passar à última etapa do licenciamento do bloco 59, a 160 quilômetros do litoral do Oiapoque, no Amapá.

A iminência da emissão da licença para o bloco 59 deverá provocar uma corrida às 47 áreas na Foz do Amazonas incluídas no leilão da ANP. Outro fator que poderá aumentar o interesse das empresas – 12 comunicaram que farão ofertas e mais 31 estão aptas a participar – é o ataque de Israel ao Irã, iniciado na noite de 12 de junho (horário do Brasil, madrugada de 13 de junho no Irã). O preço internacional do petróleo, que vinha caindo neste ano, voltou a subir depois da agressão israelense.

Ao todo, serão oferecidos 172 blocos, dos quais 118 – entre eles os descritos no início deste texto – estão localizados em regiões de “novas fronteiras” petrolíferas, onde ainda não existe produção do combustível fóssil. Apesar disso, nenhuma delas passou por uma Avaliação Ambiental de Área Sedimentar, a AAAS, um estudo socioambiental, previsto em uma portaria federal de 2012, que tem o objetivo de determinar se a instalação de uma cadeia petrolífera numa região é viável.

No terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, a ANP já havia realizado um grande leilão petrolífero em 2023. Na época, houve protestos e ações judiciais. Mas a reação é maior agora, quando a oferta de áreas de exploração acontece a cinco meses da COP30 em Belém, a primeira conferência do clima a ser realizada na Amazônia. Um tema prioritário da reunião é como pôr em prática a decisão, adotada na COP28, de eliminação gradual dos combustíveis fósseis, responsáveis por mais de 75% das emissões de gases que provocam o aquecimento do planeta. Sem que haja uma redução rápida na queima de petróleo, gás e carvão, a temperatura média da Terra continuará aumentando, com consequências drásticas para a vida no planeta.

Além de lideranças indígenas, ambientalistas e cientistas, a oposição ao leilão inclui a Federação Única dos Petroleiros, a FUP. A entidade sindical entrou com uma ação popular pedindo a suspensão do leilão, por causa da oferta dos 47 blocos da Bacia da Foz do Amazonas. “Além de ferir o interesse público, a soberania energética e o patrimônio nacional, o leilão está sendo convocado sem as mínimas garantias ambientais nem consulta às comunidades tradicionais”, argumenta a FUP.

Já o Ministério Público Federal no Pará também entrou na Justiça no dia 12 de junho em uma ação contra a ANP para barrar o leilão, igualmente em função da licitação dos blocos na Foz do Amazonas. A ação pede uma liminar – ou seja, uma ordem emergencial – e que os tribunais condicionem a eventual concessão dessas áreas a quatro medidas, entre elas a realização da Avaliação Ambiental de Área Sedimentar, de um estudo do impacto climático do petróleo que viria a ser produzido e de uma consulta livre, prévia e informada aos povos indígenas e tradicionais da região. O Ministério Público já havia recomendado à ANP que suspendesse o leilão.

O Instituto Internacional Arayara, que monitora os riscos ambientais, sociais e econômicos da exploração de combustíveis fósseis, iniciou cinco ações civis públicas pedindo a retirada dos 118 blocos das “novas fronteiras” petrolíferas. Isso inclui, além da Foz do Amazonas, 21 áreas da bacia terrestre dos Parecis, em Mato Grosso e Rondônia, 34 da Bacia de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e 16 da Bacia Potiguar, no litoral do Rio Grande do Norte e do Ceará. A oferta de 117 desses blocos foi autorizada por uma manifestação conjunta do Ministério de Minas e Energia e do Ministério do Meio Ambiente em 2020.

O prazo de validade da manifestação acaba em 18 de junho, um dia depois do leilão. Para o Instituto Arayara, isso configura uma irregularidade jurídica, já que o processo de licitação só termina com a assinatura dos contratos de concessão, prevista para novembro. Além disso, o instituto argumenta que a manifestação não contempla os requisitos de uma portaria interministerial de 2022, que atualizou os critérios socioambientais obrigatórios para a oferta de blocos petrolíferos.

Até a publicação desta reportagem, não havia decisões da Justiça sobre essas ações.

Fonte: Sumaúma

Foto: reprodução/ Sumaúma/ BRUNO SANTOS/FOLHAPRESS

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Projeto Conexões Oceânicas Sudeste em Vila Velha (ES) reforça compromisso com a justiça climática e a proteção dos oceanos

Entre os dias 6 e 8 de junho, o Instituto Internacional ARAYARA participou da oficina presencial do projeto Conexões Oceânicas Sudeste, realizada em Vila Velha (ES). O encontro marcou o encerramento do ciclo de oficinas virtuais e presenciais do projeto, reunindo representantes de comunidades tradicionais, pescadores, surfistas, pesquisadores, ativistas e organizações da sociedade civil comprometidas com a defesa dos ecossistemas

Leia Mais »

Audiência Popular em Garopaba rejeita petróleo e clama por transição energética justa e segura

Audiência Pública e Popular promovida pelo Instituto Internacional ARAYARA reuniu representantes de pescadores e pescadoras, ativistas ambientais, parlamentares, comunidade científica e ativistas socioambientais da região.     Na noite desta segunda-feira (9), a comunidade de Garopaba (SC), reunida em audiência pública e popular na Câmara de Vereadores do município, manifestou seu repúdio a toda e qualquer tentativa de expansão da

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Justiça suspende uso da água do Rio Melchior na instalação da Usina Termelétrica Brasília

Impactos ambientais como a captação do uso de 110 mil litros de água por hora do rio Melchior foi um dos argumentos para embasar a decisão Uma decisão liminar do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) suspendeu as outorgas de uso de água concedidas à Usina Termelétrica Brasília (UTE Brasília), megaprojeto da empresa Termo Norte Energia, atualmente em licenciamento.

Leia Mais »