+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

ARAYARA na Mídia: Consumo de carvão cresce na Ásia, mas cai na União Europeia e no Brasil

Demanda global pelo combustível fóssil atingiu o recorde de 8,77 bilhões de toneladas em 2024

Por Mônica Magnavita — Para o Valor, do Rio
29/04/2025 05h03 Atualizado 29/04/2025

A demanda global por carvão mineral cresceu 1% em 2024 e atingiu o recorde de 8,77 bilhões de toneladas. Os dados da Agência Internacional de Energia (IEA) revelam que a expansão foi concentrada na Ásia e ocorreu em meio ao avanço mundial da transição energética, que tem como meta substituir a queima do carvão, responsável por cerca de 40% das emissões de gases de efeito estufa no planeta, por fontes renováveis de energia e menos poluentes.

As projeções da entidade apontam que a demanda global por recursos naturais não renováveis tende a permanecer em alta nos próximos anos diante da dependência asiática e da necessidade de um descomissionamento gradual, que acomode os profissionais na cadeia sustentável. Estima-se um consumo, em 2027, de 8,9 bilhões de toneladas de carvão mineral só no setor de energia, que responde por dois terços da demanda pelo combustível fóssil no mundo.

O cenário é visto com preocupação por especialistas do clima, já que, para limitar o aumento da temperatura no mundo em 1,5 0 C – conforme o Acordo de Paris -, o uso de carvão mineral precisa cair 95% até 2050, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O quadro, no entanto, difere entre as regiões.

 

 

Na União Europeia, o descomissionamento de usinas avançou no ano passado, quando 24 dos 27 países do bloco projetaram o fim da dependência do combustível fóssil até 2033. Além disso, a desativação de usinas de carvão quadruplicou no bloco entre 2023 e 2024 ao passar de 2,7 gigawatts (GW) em 2023 para 11 GW em 2024, segundo o Global Energy Monitor (GEM). Reino Unido e Finlândia fecharam suas últimas unidades e se tornaram o sexto e o sétimo países a eliminar totalmente essa fonte de geração desde o Acordo de Paris, em 2015.

Nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, as propostas para usinas a carvão mineral caíram de 142, em 2015, para cinco em 2024. O IPCC ainda mostrou que, em 2024, o mundo adicionou a menor quantidade de energia a carvão em 20 anos, com 44 GW de nova capacidade em operação. No Brasil, a geração de energia a partir do carvão também caiu, saindo de 18,3 GW/hora, em 2014, para 8,7 GWh, em 2023, conforme a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Já na Ásia, a fotografia é outra. A China atingiu o recorde na construção de termelétricas a carvão em 2024, com 97,8 GW adicionados, aponta o GEM. A Índia, por sua vez, foi recordista de novas propostas de usinas a partir do combustível fóssil, totalizando 38,4 GW. A entidade calcula que os dois países respondem por 87% da capacidade de energia a carvão em desenvolvimento no mundo.

A despeito da expansão de fontes limpas e das pressões internacionais, a matriz energética chinesa ainda é dependente do carvão. “Hoje, 61% do total da energia chinesa advém do combustível fóssil. A indústria é o principal setor de consumo final de carvão, muito em função da siderurgia, sendo a China o principal produtor de aço do mundo. Por isso o carvão é essencial”, diz Camila Amigo, analista internacional do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Ela observa que as importações chinesas de carvão alcançaram 543 milhões de toneladas no ano passado, o maior volume desde 2021.

Amigo diz que o movimento nos países do G20 – as 19 maiores economias do mundo mais a União Africana e União Europeia – em favor da redução e da eliminação de todo portfólio de carvão perdeu fôlego com o retorno à Casa Branca de Donald Trump. Sob sua gestão, os Estados Unidos ampliaram o subsídio para a indústria do carvão, criando uma interrogação sobre as responsabilidades climáticas de cada país.

Hoje, a participação do carvão mineral na matriz elétrica global é de 35%, a mais baixa desde 1974. Ainda assim, como observa John Wurdig, gerente de transição energética do Instituto Arayara, tal processo deve ser justo e sustentável. “É preciso pensar no descomissionamento dessas usinas para que os recursos fiquem nos territórios e os trabalhadores sejam inseridos em empregos verdes”, diz.

No caso brasileiro, a energia a carvão não tem competitividade se levar em conta que o preço da energia renovável está em torno de R$ 220 o MW e uma planta de carvão oscila em torno de R$ 840 o MW. “Quando se retira os subsídios, fica inviável”, diz Juliano Bueno de Araújo, diretor do Arayara. Entre 2010 e setembro de 2024 foram repassados para as usinas a carvão da região Sul R$ 12,6 bilhões em subsídios, segundo o Arayara. Dez empresas de exploração de carvão atuam no Sul, que abriga 27,319 bilhões de toneladas de reservas. Entre 2000 e 2023, mais de 70% da produção da região foram destinados à geração das termelétricas.

Fonte: Valor Econômico

Foto: Reprodução /Creative Commons

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Arayara acompanha entrega de relatório para proteger a Foz do Amazonas de ameaças do petróleo

Estudo entregue ao MMA propõe Instituto Nacional da Foz do Amazonas e áreas marinhas protegidas como condição mínima antes de qualquer avanço na exploração de petróleo em uma das regiões mais sensíveis e biodiversas do planeta. O Instituto Internacional ARAYARA participou, nesta quarta-feira (20), do lançamento do relatório “Cenários Estratégicos para a Ampliação do Conhecimento Científico e Proteção da Biodiversidade

Leia Mais »

Sociedade civil participa de audiência da Câmara sobre racismo ambiental e justiça climática

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados promoveu, ontem (19), uma audiência pública para debater racismo ambiental e justiça climática. O encontro, solicitado pelo deputado Nilto Tatto (PT-SP), contou com a presença de representantes do governo, especialistas e movimentos sociais, além do Instituto Internacional ARAYARA. Nilto Tatto destacou a criminalização da população negra e indígena

Leia Mais »

COP30 em Belém terá 30% da alimentação vinda da agricultura familiar

Regra inédita pode movimentar R$ 3,3 milhões na economia rural e promover modelo alimentar sustentável Pela primeira vez na história, a Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP) terá uma regra específica para a alimentação dos participantes. A COP30, que acontecerá em Belém, no Pará, em novembro de 2025, exigirá que pelo menos 30% dos ingredientes utilizados na

Leia Mais »

Crise climática ameaça pesca e comunidades costeiras, aponta a 5ª edição da Auditoria da Pesca Brasil

A Oceana Brasil lançou, na última quarta-feira (13), a 5ª edição da Auditoria da Pesca Brasil, publicação reconhecida como a mais completa avaliação sobre a gestão das pescarias costeiro-marinhas no país. O evento reuniu pescadores, cientistas, gestores e representantes da sociedade civil para debater os desafios e prioridades da pesca sustentável em um cenário de emergência climática. O Instituto Internacional

Leia Mais »