+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

ARAYARA na Mídia: Câmara debate impactos de hidrelétricas, petróleo e renováveis em terras indígenas

Audiência pública expõe as tensões entre expansão energética e a proteção de povos originários, com foco em salvaguardas ambientais e direitos constitucionais

A Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais da Câmara dos Deputados promoveu nesta terça-feira (8) uma audiência pública para discutir os impactos da geração de energia, em suas diversas formas, sobre terras indígenas no Brasil. A iniciativa partiu da deputada federal Célia Xakriabá (Psol-MG), uma das principais vozes do Congresso na defesa dos direitos dos povos originários. O evento foi realizado no Plenário 12 da Casa e reuniu representantes de ministérios, organizações indígenas e entidades ambientais.

A proposta da audiência foi analisar de forma crítica o avanço de empreendimentos energéticos, como hidrelétricas, parques eólicos, usinas solares e até a exploração de petróleo, sobre territórios indígenas. Segundo a deputada, o objetivo central é “avançar na regulamentação de salvaguardas efetivas aos povos indígenas diante do crescimento do setor energético no país”.

Tensão entre expansão energética e direitos indígenas

Durante o encontro, foram debatidos projetos de exploração de combustíveis fósseis em terras indígenas, como o da Petrobras na Bacia da Foz do Rio Amazonas. Célia destacou que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) já negou licença para essa operação, citando a falta de garantias em caso de acidente ambiental. “O Ibama apontou que não há salvaguardas para a fauna e para os povos indígenas do Oiapoque em caso de derramamento de óleo”, lembrou a deputada.

Célia Xakriabá também destacou que os povos indígenas são favoráveis à descarbonização da matriz energética brasileira, mas alertou: “As soluções propostas não podem ser mais um mecanismo de violação de direitos humanos”. A parlamentar citou os impactos históricos das grandes usinas hidrelétricas, como as construídas no rio São Francisco, que causaram alagamentos e deslocamentos forçados de comunidades indígenas desde 2012.

Energia “limpa”, impactos reais

Contrariando o senso comum de que as fontes renováveis são ambientalmente neutras, representantes indígenas relataram diversos impactos associados às usinas eólicas e solares instaladas próximas às aldeias. Entre os principais problemas citados estão o aumento da temperatura média dos rios, a redução da fauna aquática e polinizadora (peixes e abelhas), perda de áreas de criação de animais, especulação imobiliária, desmatamento e, sobretudo, o desequilíbrio na saúde mental das comunidades afetadas.

“Além de comprometer nosso território físico, esses empreendimentos destroem nossos lugares sagrados e nossas referências culturais. Isso tem causado aumento de casos de depressão e ansiedade entre nossos jovens”, afirmou Dinamam Tuxá, representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

Acordo de Paris e mineração

Outro tema discutido foi o avanço da mineração em regiões próximas e, em alguns casos, dentro de terras indígenas. Com a crescente demanda por lítio e outros minerais essenciais à transição energética, cresce também a pressão sobre os territórios originários.

Célia Xakriabá lembrou que o Acordo de Paris, do qual o Brasil é signatário, determina que os países signatários devem conservar e fortalecer os sumidouros naturais de carbono, como as florestas. “Esses territórios são salvaguardados pelos povos indígenas, que são os verdadeiros guardiões da biodiversidade e do clima”, ressaltou.

Representatividade e convergência de vozes

Estiveram presentes na audiência representantes de importantes instituições governamentais e da sociedade civil: Bruno Potiguara, do Ministério dos Povos Indígenas (MPI); Cláudia Regina de Pinho, do Ministério do Meio Ambiente (MMA); Nicole Oliveira (Instituto Arayara); Carolina Marçal (ClimaInfo); e lideranças regionais como Kretã Kaingang (ARPINSUL) e Paulo Tupinikim (APOINME).

A diretora do Departamento de Gestão Socioambiental do MMA destacou que é urgente a construção de um modelo energético que reconheça os limites ecológicos e os direitos constitucionais dos povos tradicionais. “A transição energética precisa ser justa, inclusiva e dialogada”, afirmou.

Caminhos para uma transição energética com justiça social

O debate escancarou a necessidade de o Brasil conciliar seus objetivos de expansão energética com o respeito aos direitos originários. A ausência de uma legislação clara que regulamente salvaguardas específicas para os povos indígenas frente a empreendimentos energéticos foi apontada como uma lacuna grave.

Para Célia Xakriabá, a audiência é apenas o início de uma agenda que precisa ser permanente. “Queremos que a transição energética ocorra com justiça, e não às custas do nosso povo. Energia limpa não pode ser sinônimo de apagamento cultural.”

Fonte: Cenário Energia

Foto: reprodução/ Elio Rizzo / Câmara dos Deputados

 

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Opinião: PL da Devastação deve acelerar empreendimentos fósseis no Brasil

A PL da Devastação (PL 2.159/2021), aprovada pelo Congresso Nacional, representa um grave retrocesso na política ambiental brasileira ao modificar profundamente o licenciamento ambiental, fragilizando instrumentos de controle, fiscalização e participação social. Embora o mecanismo de Licenciamento por Adesão e Compromisso (LAC) — conhecido como autolicenciamento — tenha recebido maior atenção crítica, a proposta legislativa contempla outras formas de flexibilização

Leia Mais »

ARAYARA marca presença no Indonesia Net-Zero Summit 2025

Neste sábado (26), a ARAYARA participa do Indonesia Net-Zero Summit 2025, realizado em Jacarta, integrando um importante debate sobre o papel de países emergentes na liderança climática global.  Nossa diretora executiva, Nicole Figueiredo de Oliveira, é uma das painelistas da sessão “Middle Powers Rising! How Countries Turn Climate Action into Growth Engines in the 21st Century”, ao lado de representantes

Leia Mais »

Protagonismo Plural na COP30: Mulheres Negras e Justiça Climática

A discussão climática global, especialmente em contextos como a COP 30, só ganha densidade e justiça quando as vozes de mulheres negras deixam de ser periféricas para ocupar espaços efetivos de participação e influência — como mobilizadoras, líderes políticas, produtoras de conhecimento e articuladoras de soluções inovadoras. Desde o anúncio de Belém como sede da COP, essas lideranças vêm revelando

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Avança diálogo com a sociedade civil sobre o Círculo de Ministros de Finanças da COP30

O Ministério da Fazenda do Brasil promoveu a segunda rodada de webinários sobre o tema, articulando contribuições nacionais e internacionais ao relatório do Círculo, que deverá ser apresentado em sua versão final em outubro. O Ministério da Fazenda do Brasil, em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (ICS), promoveu, nesta quinta-feira, 24/7, a segunda etapa dos webinários sobre o

Leia Mais »