+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Arayara e Urgewald revelam rastro do financiamento fóssil na América Latina e Caribe na COP 30

O relatório sobre o financiamento da expansão de combustíveis fósseis na América Latina e no Caribe foi apresentado nesta segunda-feira no Arayara Amazon Climate Hub, em Belém, durante a COP 30.

A pesquisa, desenvolvida em parceria entre a Urgewald, Instituto Internacional ARAYARA, FARN (Argentina), Amazon Watch (Peru) e Conexiones Climáticas (México), revela como bancos e investidores internacionais continuam a financiar a abertura de novas fronteiras de petróleo e gás na região, contrariando metas climáticas globais.

O evento reforçou a importância de transparência financeira, justiça climática e fortalecimento da sociedade civil, destacando a necessidade urgente de políticas públicas que protejam territórios, reconheçam direitos indígenas e priorizem a redução de emissões na região.

O estudo “The Money Trail Behind Fossil Fuel Expansion in Latin America & the Caribbean” (O Rastro do Dinheiro por Trás da Expansão de Combustíveis Fósseis na América Latina e Caribe) identifica 190 empresas de petróleo e gás de 42 países que seguem explorando novas reservas ou construindo infraestrutura fóssil. Segundo Heffa Schuecking, diretora da Urgewald e autora principal do relatório, a América Latina e o Caribe são um dos principais hotspots globais da expansão fóssil. Grandes empresas como Petrobras, ExxonMobil, YPF e Chevron estão determinadas a extrair o máximo possível de petróleo e gás antes que os prazos de neutralidade climática estabelecidos pelo Acordo de Paris entrem em vigor. Mesmo empresas estatais dependem fortemente de financiamento estrangeiro. 

Por trás do fracasso em reduzir emissões há um rastro de dinheiro que leva às salas de reunião de instituições financeiras que ignoram a ciência e o bom senso para continuar financiando combustíveis fósseis. Quem financia, tem responsabilidade, e nosso trabalho é expor isso, acrescentou a diretora da Urgewald.

Nicole Oliveira, diretora executiva ARAYARA, destacou os riscos específicos para o Brasil e a Amazônia:

“ De acordo com o relatório, o Brasil responde por 45% de toda a nova expansão de petróleo e gás na região, com mais de 3 mil quilômetros de novos gasodutos. A autorização do Ibama para perfurar o bloco FZA-M-59, na Foz do Amazonas, abriu a primeira frente de exploração na costa amazônica, ignorando alertas científicos e consulta prévia às comunidades indígenas e pesqueiras, em clara violação à Convenção 169 da OIT. 

A Amazônia hoje abriga 2,7 milhões de indígenas, 14 mil km de manguezais e milhares de quilômetros do sistema recifal — hoje ameaçados por perfurações em áreas de corais. A Petrobras, responsável por 29% da expansão fóssil entre 2022 e 2024, segue avançando mesmo diante de pareceres técnicos contrários do próprio Ibama. Por isso, entramos com ação civil pública para barrar essa expansão: há emissões elevadas, ausência de consulta e estudos hidrológicos desatualizados que podem tornar qualquer vazamento catastrófico.”

Lorena Noemí Bravo, Werken do Território Xawvnko da Confederação Mapuche de Neuquén, denunciou os impactos do fracking em Vaca Muerta. Lorena revelou que a prática se instalou no território sem qualquer consulta,  abrangendo três províncias, e toda a região está sendo devastada. Segundo a representante da Confederação Mapuche de Neuquém, essa exploração traz doenças, morte e contaminação ambiental para as comunidades, esclarecendo que a água que consomem já está contaminada com metais pesados. 

Luis Canelos, presidente da Nacionalidade Kichwa da Amazônia Equatoriana (Pueblo Kichwa de Pastaza-Pakkiru), ressaltou os desafios frente ao avanço do extrativismo:

“Amanhecemos com a notícia de que o governo nacional convocou um referendo para alterar a Constituição, eliminando direitos coletivos, da natureza e o direito à consulta livre, prévia e informada. Vivemos 50 anos de exploração petroleira na Amazônia e agora exigimos a demarcação legal para proteger nossos territórios. Já conseguimos vitórias importantes: empresas que nunca consultaram nossas comunidades tiveram de atender às nossas exigências, e outras ações que burlavam regras foram revertidas nos tribunais graças à nossa unidade e resistência.”

Alisson Capelli, coordenador de Geotecnologias e Meio Ambiente da ARAYARA e um dos desenvolvedores do Monitor de Expansão de Combustíveis Fósseis, apresentou dados sobre o impacto das usinas térmicas e do financiamento internacional:

“O monitor mostra terras indígenas com direitos reconhecidos sendo sobrepostas por blocos de petróleo em produção ou estudo, e o impacto na vida das comunidades é enorme. No Brasil, a expansão projetada é de 11 bilhões de barris de óleo equivalente, e há 54 gigawatts de expansão de termelétricas propostas — 40 projetos, quatro deles na Amazônia. A Eneva planeja um cluster no coração da floresta.

92% desse financiamento fóssil vem do Norte Global, mostrando um novo imperialismo que destrói o meio ambiente e promove racismo ambiental. Bancos brasileiros, como Banco do Brasil e Caixa, financiam essa expansão enquanto promovem campanhas de transição energética na COP 30. É preciso questionar: quando realmente vai acontecer essa transição? A maior parte da matriz energética ainda depende de fósseis, e a Amazônia e seus povos pagam o preço disso.”

Foto: Oruê Brasileiro/ ARAYARA

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Donos da JBS, petroleiras e mineradoras estão entre os convidados do governo Lula na COP30

Executivos de empresas do petróleo, mineração e agronegócio receberam, após indicação do governo brasileiro, credenciais para ter acesso à chamada zona azul da COP30, onde ocorrem as negociações climáticas da conferência que discute o futuro do clima no planeta. Entre os executivos estão os irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS, maior produtora mundial de proteína animal. Também há representantes de petroleiras como a Petrobras e Exxon Mobil, e

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Impasse em Belém: ainda com pendências na agenda oficial, metas de adaptação criam novo entrave na COP30

O presidente da convenção prometeu apresentar novos desdobramentos das conversas até sábado; no domingo tratativas avançaram até o fim da noite Ao abrir a COP30, na segunda-feira, a presidência da conferência prometeu para dali a dois dias uma definição sobre quatro itens que, àquela altura, não se sabia se entrariam na agenda oficial do encontro. Esgotado o prazo nesta terça-feira,

Leia Mais »

Painel Expõe Lobby do Gás e Desmascara a Falsa Transição Energética na América Latina

A expansão desenfreada do gás natural e a urgência de uma Transição Justa foram o foco do painel “Reducción de emisiones de metano en los sectores energía y residuos desde los principios de la Transición Justa”, realizado no ARAYARA Amazon Climate Hub. O debate, organizado por entidades latino-americanas de defesa ambiental, expôs como a indústria fóssil avança no continente, ignorando

Leia Mais »

Belém em Alerta: Painel na COP30 Expõe Racismo Ambiental e o Legado de Violações em Grandes Eventos

A crise climática não é apenas ambiental, é uma crise de direitos humanos, e o seu impacto recai de forma desproporcional sobre populações negras, periféricas e de baixa renda. Essa foi a tese central do debate “Racismo Ambiental e os Impactos Locais de Grandes Eventos: O Caso de Belém e a Justiça Climática Territorial”, promovido pela Anistia Internacional Brasil no

Leia Mais »