+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Após começar a ser negociada na Nasdaq, água vira produto financeiro também no Brasil

“Não se pode colocar um valor na água como se faz com outras commodities”

No mês em que é comemorado o Dia Mundial da Água (22), o Itaú, um dos maiores bancos sediados no Brasil, começou a transformar os recursos hídricos em mais uma commodity – como o ouro e o petróleo. No dia 13, o conglomerado financeiro lançou o Itaú Index ESG Água, fundo para captar recursos de brasileiros e investir em mercados internacionais.

O banco segue o caminho de uma empresa da Califórnia (EUA), o CME Group. Aproveitando expectativas de escassez de recursos hídricos em nível global, o CME lançou em dezembro passado na bolsa Nasdaq a venda, pela primeira vez no mercado financeiro, de contratos para garantir o fornecimento de água no futuro.

O CME aproveitou aquilo que para ele se apresentou como grande oportunidade de negócio. Em setembro, o Estado da Califórnia passou por imensos incêndios florestais após uma seca que durou oitos anos, e o temor de escassez de água disparou entre grandes fazendeiros, empresas de energia elétrica e demais agentes econômicos que dependem centralmente de recursos hídricos.

Imediatamente após a iniciativa do CME Group, o Relator Especial da ONU sobre os direitos humanos à água potável segura e ao saneamento criticou veementemente a proposta.

“Não se pode colocar um valor na água como se faz com outras commodities”, afirmou em Genebra (Suíça) o espanhol Pedro Arrojo-Agudo (Espanha), que também é professor Emérito de Análise Econômica na Universidade de Saragoza.

“A água pertence a todos e é um bem público. Está intimamente ligada à toda nossa vida e modo de viver, e é um componente essencial à saúde pública, inclusive na luta contra a pandemia de COVID”, disse Arrojo-Agudo.

“A água já está sob a ameaça extrema de uma população crescente, de exigências crescentes e de poluição grave por parte da agricultura e da indústria mineira, no contexto do agravamento do impacto das alterações climáticas”, completou.

Aqui no Brasil, o Itaú descreveu assim o seu produto, reconhecendo que a rentabilidade do Itaú Index ESG Água poderá ser afetada por variações e especulações cambiais:

“Oferecendo acesso à água como tema de investimento, o fundo busca investir em uma carteira de empresas globais cujo modelo de negócio é relacionado à água, com variação cambial. (…) Fundo que busca acompanhar a performance das maiores empresas globais cujos negócios são relacionados à água. (…) Com acesso a mais 50 empresas em mais de 10 países, o fundo oferece um tema de investimento pouco explorado no Brasil”.

Renato Eid, responsável no Itaú pelo fundo, ressaltou que o produto não é do mesmo tipo daquele lançado pelo CME Group na Nasdaq.

“Com foco em ESG (sigla do que seriam regras Ambientais, Sociais e de Governança), o Itaú Index ESG Água não investe no mercado de futuros. O fundo investe em empresas que estão trabalhando para solucionar o desafio de água no nosso planeta. O Itaú Index ESG Água compra um UCITS (Diretiva relativa aos organismos de investimento coletivo em valores mobiliários, uma regra do mercado financeiro da União Europeia) ou que segue um índice internacional que tem as regras como objetivo investir em 50 empresas globais que estejam relacionadas de forma positiva ao negócio de água, promovendo o ODS (Objetivo do Desenvolvimento Sustentável) 6 da Agenda2030 da ONU. As empresas que compõe esse portfólio são distribuídas igualmente entre dois grupos: Serviços de Água & Infraestrutura e Equipamentos & Materiais de água”.

Entre essas empresas podem ser incluídas aquelas que direta ou indiretamente atuam no setor de saneamento, que acabou de passar por uma profunda mudança regulatória no Brasil.

Movimentos sociais e organizações de defesa de direitos humanos reclamam que o assim chamado novo Marco do Saneamento estimula a privatização dos recursos hídricos, reforçando a preocupação de Pedro Arrojo-Agudo, da ONU.

O Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento, por exemplo, chama a atenção para o exemplo de Manaus, uma das cidades em que a pandemia de COVID-19 foi mais dramática.

Na capital do Estado do Amazonas, o saneamento foi privatizado há 20 anos e o resultado atual são mais de 600 mil pessoas sem água e apenas 12,5% da população com acesso ao esgotamento sanitário.

 

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: ONGs vão à Justiça pedir anulação do aval à exploração do petróleo na Foz do Amazonas

Ação movida na Justiça Federal do Pará pede liminar para suspender perfuração Oito organizações não-governamentais, incluindo redes do movimento ambientalista, indígena, quilombola e de pescadores artesanais, entraram na quarta-feira com uma ação na Justiça Federal do Pará pedindo a anulação do aval à exploração do petróleo na Foz do Amazonas. A licença à estatal foi concedida pelo Ibama no último

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Global asset or frontier for extraction? COP30 is a reckoning for the Amazon

Governments of the Amazon are reaffirming their goals of pursuing green investment – all while expanding fossil fuel exploration and mining In November, the world will turn its attention to the Brazilian city of Belém, as it hosts the COP30 summit. In its thirtieth edition, the UN’s annual climate conference, which aims to accelerate international efforts to mitigate and adapt

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: ONGs vão à Justiça contra licença da Petrobras na Foz do Amazonas

Um grupo de ONGs (Organizações Não Governamentais) entrou com pedido na Justiça na 4ª feira (22.out.2025) em que apontam possíveis ilegalidades e falhas técnicas no processo de licenciamento para perfurar o poço Morpho, no bloco FZA-M-059, na bacia da Margem Equatorial. O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) concedeu a licença de operação para a

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Entidades ambientalistas e sociais pedem na Justiça anulação da licença da Petrobras na Foz do Amazonas

As oito entidades ainda pediram uma liminar suspendendo imediatamente as atividades de perfuração, “sob risco de danos irreversíveis ao meio ambiente” Oito entidades ambientalistas e de movimentos indígena, quilombola e de pescadores informaram que entraram na quarta-feira (22) com uma ação na Justiça Federal do Pará contra o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Petrobras e

Leia Mais »