+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Alerta: ANP inclui Foz da Amazônia no 5º leilão de petróleo e gás 

O Instituto Internacional ARAYARA realizou, na manhã de ontem (28), uma coletiva de imprensa online para anunciar um pacote de ações civis públicas com o objetivo de suspender o 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão da ANP, previsto para ocorrer em 17 de junho.

As ações são fundamentadas em estudos técnicos recém-lançados pela ARAYARA e em pareceres de órgãos da administração pública, e foram protocoladas em diferentes regiões do país:

  • Ação sobre manifestações conjuntas (JFPA) – Processo nº 1024508-88.2025.4.01.3900 
  • Ação sobre emissões (JFDF) – Processo nº 1054900-56.2025.4.01.3400 
  • Ações sobre Unidades de Conservação e Terras Indígenas (JFMT) – Processos nº 1016097-83.2025.4.01.3600 e nº 1016098-68.2025.4.01.3600 
  • Ação sobre Fernando de Noronha (JFRN) – Processo nº 0805426-27.2025.4.05.8400T

Os processos alertam para os graves riscos socioambientais associados aos blocos incluídos no leilão, especialmente em regiões de elevada sensibilidade ambiental, como a Foz do Amazonas, o arquipélago de Fernando de Noronha, Mato Grosso e Rondônia.

Acesse e confira todas as informações do Leilão do Juízo Final: www.lelaofossil.org

O leilão prevê a oferta de 172 blocos exploratórios, totalizando 145.597 km² — uma área equivalente a 1,71% do território brasileiro ou cerca de 20,4 milhões de campos de futebol. Embora a ANP ainda não tenha divulgado oficialmente quais empresas participarão do leilão, a lista de 31 petroleiras habilitadas já aponta prováveis interessadas. 

Esta é a primeira vez que blocos localizados na Foz do Amazonas são incluídos nesse modelo de concessão, o que acendeu o alerta entre ambientalistas e especialistas, diante da elevada sensibilidade ambiental da região. São 47 blocos da Bacia da Foz do Amazonas, distribuídos em quatro setores, que localizam-se em águas profundas entre os estados do Amapá e do Pará. 

Segundo Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora executiva da ARAYARA, cerca de 230 territórios tradicionais estão sob impacto direto de empreendimentos ligados à cadeia do petróleo e gás, como blocos exploratórios, gasodutos, linhas de transmissão e terminais de GNL. Esses territórios representam 28% de todas as terras indígenas no Brasil, conforme dados do Monitor Amazônia Livre de Petróleo.

“Já conseguimos barrar a exploração de diversos blocos de petróleo e impedir outras iniciativas que ameaçavam o meio ambiente e as comunidades tradicionais — e não vamos ficar de braços cruzados”, afirma Nicole.

A ARAYARA denuncia a ausência de consulta prévia, livre e informada às comunidades afetadas pelos processos de concessão e leilão dessas áreas, em desacordo com a Convenção 169 da OIT, ratificada pelo Brasil. “A Constituição brasileira e os tratados internacionais garantem esse direito sempre que houver medidas que impactem diretamente os povos indígenas”, reforça.

Oliveira destaca também que a realização do leilão ocorre a apenas cinco meses da COP 30, conferência global do clima que será sediada pelo Brasil. “Além dos impactos socioambientais, a proximidade entre os eventos levanta críticas sobre a coerência da política ambiental brasileira diante dos compromissos climáticos assumidos internacionalmente”.

Áreas sensíveis sob ameaça

A análise técnica da ARAYARA revela sobreposição dos blocos com diversas áreas ambientalmente sensíveis, entre elas:

-6 blocos incidem sobre Áreas de Influência Direta (AID) TIs, incluindo Tapayuna, Manoki e Ponte de Pedra. Dois territórios estão completamente cercados;

-1 bloco incide diretamente sobre  à Unidade de Conservação Parque Municipal Natural de Pimenta Bueno e três blocos atingem zonas de amortecimento de 3 UCs distintas;

-16 blocos situam-se em áreas com a presença de 17 espécies da flora ameaçada de extinção, incluindo espécies endêmicas da região;

2 blocos situam-se em áreas onde vivem 6 espécies da fauna em risco de extinção, como a águia-cinzenta (Urubitinga coronata) e o tuco-tuco (Ctenomys bicolor), que apresentam maior grau de vulnerabilidade;

-17 blocos estão localizados em áreas prioritárias para conservação na Amazônia, 14 no Cerrado e no Pantanal;

-131 blocos estão sobrepostos a Áreas Prioritárias para Conservação da Biodiversidade Marinha, cobrindo mais de 60 mil km². Destaca-se ao menos a ocorrência de 86 espécies da fauna marinha ameaçada afetadas pelos blocos na bacia de Santos, 58 na bacia Potiguar, 14 na Foz do Amazonas e 5 em Pelotas. Como, por exemplo, o coral-vela (Mussismilia harttii) e a toninha (Pontoporia blainvillei).

O biólogo marinho e gerente de operações da ARAYARA destaca que um dos casos mais alarmantes envolve o Grande Sistema de Recifes Amazônicos (GARS). “Seis blocos incidem diretamente sobre esse ecossistema marinho, classificado como de “extrema importância biológica” e de baixa compatibilidade com a atividade petrolífera, segundo o próprio Plano de Redução de Impactos sobre a Biodiversidade Marinha e Costeira (PRIM P&G)”, revelou.

Noronha volta ao centro da polêmica

Outra região que voltou a despertar preocupação é a Bacia Potiguar, situada nas proximidades da Cadeia de Montes Submarinos de Fernando de Noronha. A oferta de blocos nessa área já havia sido contestada em 2023, quando a ARAYARA ingressou com uma Ação Civil Pública contra o ciclo anterior. 

Em 2024, o Grupo de Trabalho Permanente sobre Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural (GTPEG/MMA) recomendou novamente a exclusão total dos blocos da região, citando a interconexão ecológica e os riscos ambientais elevados, como Interferência sísmica em espécies marinhas sensíveis, Dispersão de óleo por correntes oceânicas, como o Vórtice Potiguar;

Viabilidade questionada

Além dos riscos ambientais, a ARAYARA também questiona a viabilidade técnica e econômica da exploração em alguns blocos. Muitos estão localizados em terrenos geologicamente complexos, como formações vulcânicas, o que implica altos custos operacionais e reduz a compatibilidade com critérios de sustentabilidade.

A diretora da ARAYARA reforça que seguirá atuando junto à sociedade civil e instituições públicas para reverter os riscos do leilão e defender a integridade dos ecossistemas brasileiros. Ela destaca ainda o caso do bloco FZA-M-59, localizado na costa amazônica, na Margem Equatorial — faixa que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte. O bloco se tornou símbolo da resistência de povos indígenas e organizações ambientais contra a exploração de petróleo na região.

“Se o bloco 59 for licenciado, o Ibama perde qualquer argumento técnico ou jurídico para barrar os próximos. Toda a costa estará ameaçada. Não podemos permitir isso”, alertou.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Organizações brasileiras enviam carta à União Europeia contra o “PL da Devastação

Na última terça-feira (28/05), um amplo coletivo de organizações da sociedade civil e comunidade científica brasileira e internacional entregou uma carta aberta a representações diplomáticas internacionais denunciando os riscos associados ao Projeto de Lei 2159/2021 — apelidado de “PL da Devastação”. O texto, que desmonta pilares da Política Nacional de Licenciamento Ambiental, propõe a flexibilização e até a dispensa da

Leia Mais »

Instituto ARAYARA promove reunião de capacitação sobre os riscos da exploração de Petróleo em Fernando de Noronha

O Instituto Internacional ARAYARA realizou, na noite de ontem (29), uma reunião de capacitação para tratar dos riscos da exploração de petróleo em Fernando de Noronha. O especialista em oceanografia e gerente de operações da ARAYARA, Vinicius Nora, e a geógrafa e chefe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) da região, Lilian Hangae, demonstraram os perigos que

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Instituto Arayara move 5 ações contra próximo leilão de áreas de petróleo da ANP

O Instituto Internacional Arayara moveu cinco ações civis públicas, em cinco Estados diferentes, contra o próximo leilão de áreas exploratórias de petróleo e gás do Brasil em 17 de junho, pedindo ainda a exclusão de um total de 117 dos 172 blocos previstos para serem ofertados. As ações civis públicas, embasadas em estudos técnicos, apontam “altos riscos socioambientais” em blocos ofertados na

Leia Mais »