+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Autoproteção e Aliança: Lideranças Indígenas da América Latina se defendem em autogestão

A necessidade de fortalecer a autonomia e a autoproteção indígena diante da crise climática e da violência territorial foi o tema central do evento “Justiça Climática e Autonomia Indígena: Integrando a Defesa Territorial, a Proteção e as Estratégias de Resiliência nas Políticas Globais e Nacionaisl”, realizado no ARAYARA Amazon Climate Hub, nesta terça-feira (11).

Organizado pela Alianza Latinoamericana de Defensores y Defensoras de Territorios Indígenas (ALADTI), o encontro reuniu representantes de organizações de base indígena da América Latina – incluindo COICA, AMPB, APOINME e CARE – para discutir como a falta de segurança jurídica, a pressão de empreendimentos extrativistas e a criminalização de líderes impedem a ação climática efetiva.

Autonomia na Crise: A Resposta dos Povos ao Abandono Estatal

A abertura da mesa destacou que os povos originários não esperam mais pela proteção estatal, mas constroem seus próprios mecanismos de defesa em um contexto de crise.

Apu Jamner, vice-presidente da COICA, enfatizou que os desafios enfrentados pelos povos amazônicos são sistêmicos e globais.

“Como povos indígenas também respondemos a esses sistemas globais que nos afetam,” afirmou. “Nossos ecossistemas respondem não apenas para os nossos povos indígenas, mas para toda a humanidade. Mas as economias hoje em dia desconhecem os direitos dos povos e a integridade física de nossos territórios, deixando dano, pobreza para a vida dos nossos irmãos.”

Em resposta a essa realidade, a estratégia é a articulação e a autonomia. “Hoje os povos indígenas também estão construindo seus níveis de autoproteção porque não nos sentimos protegidos pelos estados, pelos governos”, disse Jamner, citando as organizações autônomas como a melhor forma de se proteger e assegurar a vida de milhões de pessoas.

Vigilância Indígena: A Defesa com Tecnologia Própria

A urgência da autoproteção foi exemplificada por Angel Pedro Valério, do povo presidente do CARE, da selva peruana, que trouxe dados alarmantes: entre 2014 e 2025, foram registrados 35 casos de assassinato de defensores ambientais no Peru.

Em vez de esperar por recursos que não chegam, o povo Asháninka desenvolveu suas próprias ferramentas. Valério apresentou o SAT-CARE (Sistema de Alerta Temprano), uma ferramenta de vigilância indígena que registra alertas em tempo real sobre ameaças como tráfico de terras, drogas e mineração ilegal, e articula respostas junto às comunidades.

“Frente a isso, o que estamos fazendo? Estamos nos autoprotegendo com nossas próprias ferramentas,” explicou Valério.

Somente em 2024 e 2025, o sistema registrou 90 alertas, afetando quase 1.200 pessoas e 273 territórios, e tem sido fundamental para diminuir até mesmo os incêndios florestais. Valério reforçou que os povos não ficarão de braços cruzados, mas desenvolverão suas próprias ferramentas de proteção e autodefesa.

Criminalização e Resiliência pelo Coletivo

O segundo bloco do debate focou na força da articulação e na dimensão histórica e de gênero da criminalização. Dina Júc, autoridade indígena Kitchê da Alianza Mesoamericana de Pueblos y Bosques (AMPB), destacou que a criminalização de defensores na Mesoamérica é severa, mas que a organização territorial é uma resposta eficaz.

“Em Mesoamérica protegemos 8% da biodiversidade global,” disse Dina. Ela mencionou que, nos territórios onde as organizações estão articuladas, a incidência da exploração predatória é menor, um reflexo do poder de se articular e proteger em conjunto.

Arnelio Oliano, jovem da AMPB no Panamá, reforçou que a resistência é uma herança. “Se você não entende o contexto histórico dos povos indígenas, não podes entender o contexto no qual vivem hoje em dia,” afirmou, citando a luta de seu povo, o Kuna, e a importância de cuidar da Mãe Terra, um legado passado de mães para filhos.

Representando o Brasil, Elisa Pankararu (APOINME) conectou a justiça climática diretamente à luta territorial.

“Pensar justiça climática sob a ótica do movimento indígena, abre um leque para essas reflexões, e não dá pra pensar nela sem pensar na questão territorial,” defendeu. “Os golpistas de 1500 fincaram as suas raízes e seus herdeiros ainda estão aqui violando os direitos dos nossos territórios.”

Katrin Rosas, da Amazônia Colombiana, que apontou ainda como a violência territorial atinge desproporcionalmente as mulheres, que são duplamente vulneráveis na relação de desigualdade.

A mesa, que abriu um espaço crucial de intercâmbio de conhecimentos na COP30, foi encerrada por Olimpia Castillo, que concluiu que a Justiça Climática deve ser o tema central da COP e que a articulação autônoma, o conhecimento ancestral e o protagonismo de jovens e mulheres são indispensáveis para exigir compromissos reais dos governos.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Véget ért a szénalapú energiatermelés korszaka Brazíliában: az Ouro Negro erőmű engedélyezési eljárását lezárták

Belém, COP30 nyitónapja: Az Ibama, Brazília környezetvédelmi hatósága hivatalosan bejelentette az Ouro Negro széntüzelésű termelőerőmű (UTE) engedélyezési folyamatának végleges lezárását. Ez a döntés egyben az utolsó, Latin-Amerikában vizsgált fosszilis szénalapú projekt lezárását is jelenti, amely jelentős mérföldkő a régió energetikai átmenetében. A projekt és az engedélyezési folyamat háttere Az Ouro Negro projekt egy 600 MW teljesítményű széntüzelésű erőmű megépítését célozta Pedras

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Khi than đá vẫn trụ vững ở Brazil giữa thời kỳ năng lượng tái tạo

Tại Brazil, nơi năng lượng tái tạo chiếm hơn 80% sản lượng điện, ngành than vẫn tồn tại nhờ lợi ích địa phương và thiếu chiến lược chuyển đổi, phơi bày những thách thức khi nền kinh tế xanh phải dung hòa với sinh kế của hàng nghìn lao động.   ổng thống Brazil Luiz Inacio Lula da Silva phát

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Welcome to the planet’s newest oil frontier

Off Brazil’s northeastern coast, where the sediment-heavy water of the vast Amazon River tips out into the Atlantic, are two very different types of treasure. The first is an ecological gem: a 3,600 square-mile deepwater coral reef discovered less than a decade ago. The second treasure puts the first in immediate danger. Billions of barrels of oil may lie in the ancient

Leia Mais »

Silêncio Judicial: Lançamento de Pesquisa Inédita na COP30 Expõe Assédio Contra Defensores Climáticos

O ARAYARA Amazon Climate Hub sediou, nesta terça-feira (11), o lançamento da pesquisa inédita “Mapeamento da Litigância Estratégica contra a Participação Pública no Brasil”, que revela como grandes atores utilizam o sistema de Justiça para intimidar, silenciar e criminalizar defensores ambientais, indígenas e quilombolas. O evento, com o tema “Litigância Estratégica contra a Participação Pública (LEPPs): tendências, impactos e caminhos

Leia Mais »