Na última terça-feira (02/06), Renata Prata, coordenadora de Advocacy do Instituto Internacional ARAYARA, participou do programa Diálogos de Justiça e Paz, promovido pela Comissão Justiça e Paz de Brasília.
O encontro, realizado presencialmente com transmissão ao vivo, foi mediado por Ana Paula Inglez, presidente da Comissão, e também contou com a presença de Dorismeire Almeida de Vasconcelos, articuladora da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) e integrante da Cúpula dos Povos rumo à COP30.
A iniciativa é coordenada pelo Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA), em parceria com o Centro Cultural de Brasília (CCB), a Comissão Justiça e Paz de Brasília (CJP-DF) e a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP). Seu objetivo é promover diálogos críticos e reflexões profundas sobre justiça socioambiental, espiritualidade, participação cidadã e cuidado com os territórios.
Durante sua fala, Renata Prata ressaltou o papel fundamental da sociedade civil na mobilização rumo à COP30, marcada para novembro de 2025, em Belém do Pará. Destacou a urgência de integrar os debates sobre justiça climática com a promoção da paz e a superação da lógica de militarização.
“Os combustíveis fósseis financiam guerras e conflitos geopolíticos, violando direitos humanos e agravando a crise climática. O compromisso com o clima precisa se traduzir em decisões concretas, como barrar a exploração de fósseis na Amazônia”, pontuou.
Um espaço vivo de resistência
A trajetória da Cúpula dos Povos, iniciada na Rio-92, segue como um dos principais marcos da mobilização global pela justiça climática. Mais do que um evento paralelo às conferências da ONU, trata-se de um processo contínuo de articulação entre comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, movimentos sociais, sindicais e ambientais.
Nesta edição rumo à COP30, mais de 600 organizações estão engajadas em um modelo descentralizado, enraizado nos territórios. Dorismeire Vasconcelos reforçou:
“A proposta é amplificar as vozes dos povos tradicionais e promover uma mobilização autônoma e transformadora.”
Para Renata Prata, realizar a COP30 no coração da Amazônia é mais do que simbólico — é um convite ao enfrentamento das contradições estruturais.“É a chance de ir além do turismo político. Que essa presença gere empatia, responsabilidade e, principalmente, ação concreta.”
Ela defende que a COP30 seja um ponto de virada, com discussões sobre o fim dos subsídios a combustíveis fósseis e o bloqueio de exportações de petróleo e gás para países envolvidos em violações de direitos humanos.
A Cúpula dos Povos se organiza em torno de sete eixos temáticos centrais:
-Justiça climática e reparação histórica
-Combate ao racismo ambiental e ao poder corporativo
-Feminismo popular e antipatriarcado
-Anticolonialismo e valorização da biodiversidade
-Transição justa, democrática e popular
-Territórios vivos e soberania alimentar
-Cidades justas e periferias vivas
A expectativa é reunir entre 15 mil e 30 mil pessoas entre os dias 12 e 16 de novembro de 2025, em uma programação que inclui plenárias, assembleias populares, caravanas, barqueatas e a tradicional Marcha do Clima, no dia 15. Ao final, será lançada a Declaração dos Povos, com propostas para demarcação de terras indígenas, proteção das florestas e transição energética justa.
Governança popular e legado pós-COP
A Cúpula dos Povos é coordenada por uma comissão política com 43 organizações (25 brasileiras e 18 internacionais), além de grupos temáticos, comitês de mobilização e uma equipe de captação de recursos.
Uma das novidades destacadas durante o evento, e que integra essa ampla mobilização da sociedade civil, é o Amazon Climate Hub, centro multifuncional promovido pela ARAYARA. O espaço reunirá debates científicos, jurídicos, articulações políticas e de inovação, além de expressões artísticas imersivas durante a COP30.
“O Hub será mais do que uma casa de eventos — será um símbolo da resistência e da construção coletiva pela justiça climática”, celebra a gerente de Relações Institucionais da ARAYARA.
Espiritualidade, ética e compromisso com a vida
Redes eclesiais, pastorais sociais e movimentos religiosos têm somado forças à mobilização, defendendo uma espiritualidade que se traduz em ações concretas de cuidado com a Casa Comum.
Inspirada na encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, e no cântico de São Francisco de Assis, a Cúpula envolve também a lógica da ecologia integral, que une cuidado com a vida, justiça social e valores espirituais.
Um chamado à ação contra a violência e o Ecofascismo
A Cúpula dos Povos também denuncia a violência contra defensores ambientais — com o Brasil entre os países mais letais para quem protege a natureza — e o uso distorcido do discurso ambiental por setores conservadores.
O pesquisador Roberto chamou atenção para o avanço do ecofascismo, fenômeno em que a pauta ecológica é instrumentalizada para justificar políticas xenofóbicas e autoritárias.
Depoimentos emocionantes, como a de uma mulher amazônida, atualmente agricultura no Amapá, ilustraram o sentimento de esperança:
“Saber que não estamos sozinhos e que o mundo está nos ouvindo nos dá força para continuar”, disse Aldenora durante o evento.
A luta não acaba em 2025
Ao final do evento ficou a reflexão de que a Cúpula dos Povos não se encerra com a COP30. Ela busca consolidar uma articulação permanente, fortalecendo a presença da sociedade civil nos fóruns nacionais e internacionais de decisão sobre o clima.