+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org
usina belo monte

Estudo: Usina hidrelétrica na Amazônia contribui com emissões de efeito estufa significativas

Foto: Usina Hidrelétrica de Belo Monte (PA) |

O aumento da demanda de energia em escala global aumentou o número de projetos hidrelétricos em rios tropicais. Essa tendência tem chamado a atenção para os resultados negativos do represamento de grandes rios da bacia do Rio Amazonas, onde se espera que centenas de hidrelétricas tenham impactos nas comunidades ribeirinhas e nos ecossistemas.

As emissões de gases de efeito estufa representam uma questão crítica no debate sobre os benefícios versus custos socioambientais da expansão hidrelétrica na Amazônia.

Foram construídas centenas de usinas hidrelétricas na bacia amazônica para aproveitar a energia supostamente “verde” gerada por seu complexo de rios.

Mas os pesquisadores do clima agora sabem que a energia hidrelétrica não é tão boa para o meio ambiente quanto se pensava. Embora nenhum combustível fóssil seja queimado, os reservatórios liberam milhões de toneladas de metano e dióxido de carbono à medida que a vegetação se decompõe debaixo d’água.

As chamadas usinas hidrelétricas a “fio d’água”, como Belo Monte ao longo do Rio Xingu, que têm reservatórios menores e canais que permitem a redução do fluxo do rio, deveriam resolver o problema, mas um estudo publicado na revista científica Science Advances descobriu que não é bem assim.

A equipe do pesquisador de clima Dailson Bertassoli estudou as emissões de metano e dióxido de carbono durante os primeiros dois anos de operação de Belo Monte e comparou os resultados aos níveis anteriores ao enchimento dos reservatórios, descobrindo um aumento de três vezes nas emissões de gases de efeito estufa.

“Depois de inundar a terra seca, a matéria orgânica que ficou presa no solo começa a se degradar”, disse à Agence France-Presse o professor de geologia e mudanças climáticas da Universidade de São Paulo. “Em vez de um rio natural, temos agora um reator que favorece a produção de metano”, acrescentou.

Andre Sawakuchi, professor da Universidade de São Paulo com foco em mudanças climáticas e sistemas fluviais e que também participou do estudo, acrescentou que esta análise destaca duas questões a serem consideradas na construção de usinas hidrelétricas na região.

Um é o impacto ambiental local sobre as espécies aquáticas exclusivas da área e o outro é o impacto social nas comunidades indígenas que vivem ao longo do rio.

Grupos indígenas e ambientalistas protestaram contra a construção proposta de Belo Monte na década de 1990, fazendo com que fosse abandonado antes de ser revivido como uma usina a fio d’água em 2011.

Grupos ambientalistas protestaram contra a perda da floresta que precisou ser derrubada para o local, enquanto grupos indígenas resistiram à perda de terras inundadas e redirecionaram ou desviaram o fluxo natural do rio.

Sawakuchi argumenta que é importante manter o fluxo do rio, apesar do aumento da necessidade de energia, e não “interromper esse ciclo natural com usinas hidrelétricas de qualquer tipo”.

Os autores concluíram em seu estudo que se o Brasil continuar construindo usinas a fio d’água ao longo da Amazônia, é importante pelo menos evitar inundações de vegetação, aumentando assim os gases de efeito estufa.

Um estudo de 2019 da Environmental Defense Fund (EDF) descobriu que algumas das usinas hidrelétricas do mundo são sumidouros de carbono – o que significa que absorvem mais carbono por meio da fotossíntese por organismos que vivem na água do que emitem por decomposição – , enquanto outros têm pegadas de carbono iguais ou maiores do que os combustíveis fósseis.

De acordo com o estudo, das quase 1.500 usinas em todo o mundo que a EDF examinou e são responsáveis ​​por metade da geração hidrelétrica global, mais de 100 instalações têm emissões de GEE que causam mais aquecimento do que os combustíveis fósseis.

Com informações da Agence France-Presse

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Congresso aprova marco da eólica offshore com incentivo ao carvão

Câmara ressuscitou “jabutis” da privatização da Eletrobras e assegurou a contratação, até 2050, de termelétricas movidas a gás e carvão. Governo estuda veto Originalmente publicado em O Eco, por Ellen Nemitz em 19/12/2024.  O urgente projeto de tornar o setor elétrico brasileiro mais verde sofreu um importante revés no Congresso Nacional. O Projeto de Lei n. 576/2021, que traz uma

Leia Mais »

Jabuti’ para térmicas a carvão beneficia diretamente estatal do RS, diz Arayara

Entidade aponta que emenda somam cerca de R$ 4 bilhões até 2050, “beneficiando diretamente a Companhia Riograndense de Mineração (CRM) O Instituto Internacional Arayara realizou o lançamento oficial do Monitor de Energia, uma plataforma digital voltada para disseminar informações sobre a matriz energética brasileira. O evento aconteceu na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e marcou também a divulgação

Leia Mais »

Impulsionado por lobby, gás natural acumula vitórias em 2024 no Brasil

Setor emplacou “jabuti” em projeto de eólicas offshore e viu complexo termelétrico avançar no Pará Por Rafael Oliveira – Agência Pública – 16/12/2024 No tabuleiro da produção energética no Brasil, o peão do gás natural avançou várias casas em 2024. A vitória mais recente ocorreu na semana passada, quando o lobby do setor conquistou a aprovação de um jabuti –

Leia Mais »

ARAYARA lança estudo sobre carvão mineral em Candiota, no RS, estado que concentra 90% das reservas do país

No próximo dia 16 de dezembro, o Instituto Internacional ARAYARA lançará oficialmente o Monitor de Energia, plataforma online com estudos, dados, infográficos e legislações sobre a matriz energética do Brasil. Na ocasião será apresentado o estudo UTE Candiota 2050 – O futuro insustentável da produção de energia elétrica a partir do carvão mineral subsidiado. O evento será na Assembleia Legislativa

Leia Mais »