Foto: Usina Hidrelétrica de Belo Monte (PA) |
O aumento da demanda de energia em escala global aumentou o número de projetos hidrelétricos em rios tropicais. Essa tendência tem chamado a atenção para os resultados negativos do represamento de grandes rios da bacia do Rio Amazonas, onde se espera que centenas de hidrelétricas tenham impactos nas comunidades ribeirinhas e nos ecossistemas.
As emissões de gases de efeito estufa representam uma questão crítica no debate sobre os benefícios versus custos socioambientais da expansão hidrelétrica na Amazônia.
Foram construídas centenas de usinas hidrelétricas na bacia amazônica para aproveitar a energia supostamente “verde” gerada por seu complexo de rios.
Mas os pesquisadores do clima agora sabem que a energia hidrelétrica não é tão boa para o meio ambiente quanto se pensava. Embora nenhum combustível fóssil seja queimado, os reservatórios liberam milhões de toneladas de metano e dióxido de carbono à medida que a vegetação se decompõe debaixo d’água.
As chamadas usinas hidrelétricas a “fio d’água”, como Belo Monte ao longo do Rio Xingu, que têm reservatórios menores e canais que permitem a redução do fluxo do rio, deveriam resolver o problema, mas um estudo publicado na revista científica Science Advances descobriu que não é bem assim.
A equipe do pesquisador de clima Dailson Bertassoli estudou as emissões de metano e dióxido de carbono durante os primeiros dois anos de operação de Belo Monte e comparou os resultados aos níveis anteriores ao enchimento dos reservatórios, descobrindo um aumento de três vezes nas emissões de gases de efeito estufa.
“Depois de inundar a terra seca, a matéria orgânica que ficou presa no solo começa a se degradar”, disse à Agence France-Presse o professor de geologia e mudanças climáticas da Universidade de São Paulo. “Em vez de um rio natural, temos agora um reator que favorece a produção de metano”, acrescentou.
Andre Sawakuchi, professor da Universidade de São Paulo com foco em mudanças climáticas e sistemas fluviais e que também participou do estudo, acrescentou que esta análise destaca duas questões a serem consideradas na construção de usinas hidrelétricas na região.
Um é o impacto ambiental local sobre as espécies aquáticas exclusivas da área e o outro é o impacto social nas comunidades indígenas que vivem ao longo do rio.
Grupos indígenas e ambientalistas protestaram contra a construção proposta de Belo Monte na década de 1990, fazendo com que fosse abandonado antes de ser revivido como uma usina a fio d’água em 2011.
Grupos ambientalistas protestaram contra a perda da floresta que precisou ser derrubada para o local, enquanto grupos indígenas resistiram à perda de terras inundadas e redirecionaram ou desviaram o fluxo natural do rio.
Sawakuchi argumenta que é importante manter o fluxo do rio, apesar do aumento da necessidade de energia, e não “interromper esse ciclo natural com usinas hidrelétricas de qualquer tipo”.
Os autores concluíram em seu estudo que se o Brasil continuar construindo usinas a fio d’água ao longo da Amazônia, é importante pelo menos evitar inundações de vegetação, aumentando assim os gases de efeito estufa.
Um estudo de 2019 da Environmental Defense Fund (EDF) descobriu que algumas das usinas hidrelétricas do mundo são sumidouros de carbono – o que significa que absorvem mais carbono por meio da fotossíntese por organismos que vivem na água do que emitem por decomposição – , enquanto outros têm pegadas de carbono iguais ou maiores do que os combustíveis fósseis.
De acordo com o estudo, das quase 1.500 usinas em todo o mundo que a EDF examinou e são responsáveis por metade da geração hidrelétrica global, mais de 100 instalações têm emissões de GEE que causam mais aquecimento do que os combustíveis fósseis.
Com informações da Agence France-Presse
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