+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Fusão das petrolíferas Chevron e ExxonMobil: Um retrocesso perigoso

Foto: Vazamento de petróleo da Chevron esta semana na Baía de San Francisco (Ray Chavez/Bay Area News Group)

Este mês nos deparamos com a notícia de que os CEOs da Chevron e ExxonMobil – as duas maiores petrolíferas dos Estados Unidos – conversaram sobre a possibilidade de fusão das duas empresas por conta do impacto negativo da pandemia no setor. A informação divulgada pelo Wall Street Journal surpreende e preocupa.

Em um momento no qual todo o planeta discute tanto sobre alternativas sustentáveis, mudanças climáticas e transição energética, a possibilidade dessa fusão – que estaria entre as maiores da história – e do fortalecimento da exploração de combustíveis fósseis soa como um retrocesso perigoso.

Esta semana, uma refinaria de petróleo da Chevron na Califórnia já esteve envolvida no vazamento de cerca de 600 galões de petróleo na Baía de San Fracisco.

O vazamento não foi detectado até que um brilho de óleo na água perto da refinaria foi notado pelos moradores locais, que reclamaram da fumaça do vazamento. As autoridades ainda alertaram que a fumaça poderia causar irritação nos ouvidos, nariz e garganta.

A mesma empresa esteve por décadas envolvida em uma série de denúncias de comunidades indígenas do Equador por contaminar territórios da selva equatoriana e chegou a ser condenada a pagar 9,5 bilhões de dólares – mas conseguiu se livrar da multa em 2018. As comunidades ainda denunciaram sofrer perseguições por conta do caso.

No ano passado, uma pesquisa da Climate Accountability Institute, nos EUA – líder mundial em pesquisas sobre o papel das grandes petrolíferas na escalada da emergência climática – já citava a Chevron e ExxonMobil como duas das principais poluidoras do planeta.

A pesquisa do instituto apontou as 20 empresas de combustíveis fósseis cuja exploração indiscriminada das reservas mundiais de petróleo, gás e carvão pode estar diretamente ligada a mais de um terço de todas as emissões de gases de efeito estufa na era moderna.

Para se ter uma ideia, a Chevron liderou a lista das empresas americanas, seguida justamente pela Exxon, depois BP e Shell. Juntas, as quatro estão por trás de mais de 10% das emissões de carbono do mundo desde 1965.

Fonte: Climate Accountability Institute

Neste período, as 20 empresas da lista emitiram 493 bilhões de toneladas de dióxido de carbono e metano – o equivalente a 35% de todas as emissões de combustíveis fósseis e cimento em todo o mundo.

A ascensão das energias renováveis

Apesar de as principais petrolíferas dos EUA ainda resistirem à mudança para as energias renováveis, várias das maiores empresas de energia do mundo têm comprometido altos investimentos para a transição energética global.

Mesmo com uma queda geral nos gastos por causa da pandemia, algumas empresas de energia estão dispostas a investir com força em grandes projetos de baixo carbono para sair na frente dos concorrentes.

As principais petrolíferas europeias reconhecem este movimento e começam a diversificar suas operações, incluindo o investimento em energia renovável.

A Total – petrolífera francesa – até planeja mudar seu nome para TotalEnergies para melhor refletir seu envolvimento em fontes de energia variadas. A mudança segue a Statoil da Noruega, que mudou sua marca para Equinor.

Os principais motivos das mudanças estão nas políticas de mudanças climáticas e nas pressões para que as petroleiras comecem a descarbonizar.

A transição energética não é só uma realidade, mas uma necessidade crucial do planeta. Vivemos uma emergência climática que prevê consequências sérias e irreversíveis para a humanidade. A sociedade civil, as organizações e até as políticas mundiais estão se voltando para o tema. A fusão de duas empresas marcadas por históricos de devastação pelo mundo só é sinônimo de retrocesso”, ressalta Juliano Bueno de Araújo, diretor da Coalização Não Fracking Brasil e do Observatório do Petróleo e Gás.

A conversa sobre a fusão das duas petrolíferas parece não ter ido para frente, mas parmanecemos atentos. O diálogo deve ser outro, sobre alternativas e novas formas de energia.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Exploração de petróleo na Foz do Amazonas gera tensão e ameaça ativistas ambientais

A Foz do Rio Amazonas, uma das áreas mais ricas em biodiversidade do Brasil, está no centro de uma intensa disputa ambiental. Em meio ao debate sobre a liberação do bloco petrolífero FZA-M-59, comunidades locais, pescadores e ambientalistas têm buscado apoio para tentar barrar a expansão da exploração predatória de petróleo na região. Diante desse cenário, o Instituto Internacional ARAYARA,

Leia Mais »

Congresso aprova marco da eólica offshore com incentivo ao carvão

Câmara ressuscitou “jabutis” da privatização da Eletrobras e assegurou a contratação, até 2050, de termelétricas movidas a gás e carvão. Governo estuda veto Originalmente publicado em O Eco, por Ellen Nemitz em 19/12/2024.  O urgente projeto de tornar o setor elétrico brasileiro mais verde sofreu um importante revés no Congresso Nacional. O Projeto de Lei n. 576/2021, que traz uma

Leia Mais »

Jabuti’ para térmicas a carvão beneficia diretamente estatal do RS, diz Arayara

Entidade aponta que emenda somam cerca de R$ 4 bilhões até 2050, “beneficiando diretamente a Companhia Riograndense de Mineração (CRM) O Instituto Internacional Arayara realizou o lançamento oficial do Monitor de Energia, uma plataforma digital voltada para disseminar informações sobre a matriz energética brasileira. O evento aconteceu na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e marcou também a divulgação

Leia Mais »

Impulsionado por lobby, gás natural acumula vitórias em 2024 no Brasil

Setor emplacou “jabuti” em projeto de eólicas offshore e viu complexo termelétrico avançar no Pará Por Rafael Oliveira – Agência Pública – 16/12/2024 No tabuleiro da produção energética no Brasil, o peão do gás natural avançou várias casas em 2024. A vitória mais recente ocorreu na semana passada, quando o lobby do setor conquistou a aprovação de um jabuti –

Leia Mais »