Amônia, metanol e fertilizantes serão os primeiros produtos ofertados por projetos de hidrogênio verde com FID para o ano que vem
NESTA EDIÇÃO. Primeiras decisões de investimentos em hidrogênio verde no Brasil devem sair em 2026, com cerca de R$ 63 bilhões no radar.
Garantias regulatórias e de demanda são dois pontos fundamentais para a viabilidade desses investimentos.
Sete projetos em escala industrial, somando R$ 63 bilhões em investimentos, planejam chegar à decisão final de investimentos (FID, na sigla em inglês) no Brasil em 2026, colocando o país, de fato, na rota do hidrogênio verde.
Serão os primeiros FIDs brasileiros de produção de hidrogênio a partir da eletrólise em escala industrial, etapa que marca a transição da fase de planejamento para a implementação.
Isto é, quando os recursos passam a ser destinados para compra de equipamentos, por exemplo.
Na quinta (4/9), executivos do setor estiveram em Brasília, em um evento da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (Abihv) para apresentar o andamento dos projetos e expectativas tanto em relação ao Brasil quanto ao cenário internacional.
Em comum, eles apontam a necessidade de ampliação da infraestrutura de transmissão e mudanças nas regras de acesso à rede, já que alguns pedidos de conexão estão recebendo negativas do ONS. Ao todo, os sete empreendimentos preveem 6,15 GW de capacidade de eletrólise.
Há também uma cobrança por clareza sobre os incentivos que serão adotados no mercado doméstico para neutralizar a diferença de preço entre hidrogênio verde e fóssil.
Aprovado há um ano, o marco legal do hidrogênio trouxe a previsão de subvenções para dar o pontapé nessa indústria, mas o setor ainda aguarda a conclusão da regulamentação.
Falta dizer quais serão as regras para acessar os subsídios governamentais de R$ 18,3 bilhões — dentro do Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC).
Nesse meio tempo, desde a aprovação do PHBC, há uma percepção de que o governo federal mudou o foco para os data centers, um possível concorrente na demanda de energia e, em alguns casos, com necessidades conflitantes, como explica Gabriel Chiappini na coluna Hidrogênio em foco:
Amônia, metanol e fertilizantes serão os primeiros produtos ofertados por essas indústrias verdes que projetam FID no ano que vem.
Em Uberaba (MG), a Atlas Agro planeja investir R$ 6 bilhões em uma planta com 300 MW de capacidade de eletrólise para produzir 530 mil toneladas por ano de fertilizantes nitrogenados.
O hidrogênio verde substituirá o gás natural importado, oferecendo para o agronegócio local um insumo de baixo carbono que promete competir em preço com o fóssil.
O projeto foi selecionado pela chamada de hubs industriais do governo federal, pelo Acelerador de Transição Industrial (ITA) e pela BIP, do Ministério da Fazenda.
Também no ITA, o projeto da European Energy no porto de Suape, em Pernambuco, projeta R$ 2 bilhões na produção de metanol verde para abastecer navios, substituindo combustível fóssil.
No hub de hidrogênio do porto do Pecém, Qair (R$ 17,7 bilhões), Casa dos Ventos (R$ 12 bilhões), FRV (R$ 6 bilhões) e Voltalia (R$ 2,7 bilhões) estão mirando a produção de amônia verde, como estratégia de exportação do hidrogênio.
Ainda no Pecém, a Fortescue (R$ 18 bilhões) foi a primeira a obter licença prévia do governo estadual. O grupo australiano quer produzir 170 mil toneladas por ano de hidrogênio verde, a partir de 2029, também com foco na exportação. Vale dizer que a previsão inicial de FID era 2025.
Por que 2026?
Garantias regulatórias e de demanda são dois pontos fundamentais para a viabilidade desses investimentos bilionários.
A previsão, segundo agentes do mercado, é que um decreto regulamentador do PHBC seja publicado ainda em 2025, e que o primeiro leilão de hidrogênio ocorra já em 2026 — contribuindo para as FIDs.
Outro ponto é a demanda: a maioria desses projetos mira a exportação para a Europa.
A demora na implementação da diretiva europeia (RED III), por exemplo, tem segurado algumas decisões, por falta de previsibilidade.
Assim como o desenrolar, na Organização Marítima Internacional (IMO), do mecanismo net zero para a navegação é acompanhado com atenção, para calibrar as expectativas de demanda.
- Autora da ação contra Candiota, a Arayara divulgou uma nota nesta sexta (5/9) criticando a decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Para a ONG ambiental, o tribunal “desconsiderou provas consistentes de poluição atmosférica, danos à saúde pública e descumprimento de normas ambientais e climáticas”.
Transição na Amazônia. Eletrobras, Aggreko, Oliveira Energia e Roraima Energia ganharam uma chamada do programa Energias da Amazônia, do MME, para ampliar o acesso à energia renovável na Amazônia Legal. Entre as iniciativas estão hibridização de usinas térmicas com energia solar fotovoltaica e sistemas de armazenamento em baterias.
Renováveis em xeque na Argentina. O alinhamento do atual governo argentino com os EUA em detrimento da China, os cortes significativos no orçamento de infraestrutura e as tensões comerciais globais colocam em xeque investimentos chineses em renováveis na Argentina. Incentivos ao setor estão próximos do vencimento e há dúvidas se a administração de Javier Milei irá renovar esse prazo. (Dialogue Earth)
R$ 10 bi em perdas. O furto de energia, conhecido como perdas não técnicas de energia elétrica no Brasil, representaram um custo de R$ 10,3 bilhões em 2024, de acordo com relatório da Aneel. Ligações irregulares, fraudes e erros de medição ou faturamento atingiram 16,02% do mercado de baixa tensão no ano passado.
Contratos de etanol. A ANP passou a publicar em seu site o relatório da contratação prévia de etanol anidro por distribuidores de combustíveis líquidos. A primeira edição, relativa à Safra 2025-2026 mostra que foram homologados 504 contratos prévios, firmados entre 141 fornecedores de etanol e 135 distribuidores de combustíveis líquidos.
Fonte: Eixos
Foto: Reprodução / Ricardo Stuckert